De tão esquisito, Morgan fazia até um cosplayer de Chuck parecer normal
R7/Filipe SiqueiraEle só falava inglês, com um sotaque esquisitão e num ritmo ainda mais esquisito. Se apresentava como músico e militar da Força Aérea Real britânica, com participação na Guerra das Malvinas onde tomou um tiro na altura da orelha, falava 14 idiomas, além de ser baterista e amigo de Elton John e ser parceiro de Phil Collins. Era presença constante na área da Terror Fest, evento de cultura underground da Fest Comix, e ninguém sabia exatamente quem era o sujeito.
Para provar seu ponto, ele tinha um boné escrito "Morgan" ("My name, my name...", afirmou) e uma matéria de revista de terror que me mostrou tão rápido que não guardei o nome, mas o identificava como o "músico Morgan Cruz". Nas horas vagas ainda imitava o Mick Jagger e cantava mulheres alheias.
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Quem era esse cidadão?
Antes da Terror Fest de fato começar, com mais de quatro horas de atraso, era Morgan que movimentava o show no espaço, conversando com Toninho do Diabo (outro dos convidados ilustres), brincando com cosplayers e falando bobagens sobre produções de terror.
Conversei com três pessoas sobre a identidade dele, incluso o organizador do evento, Daniel Vardi, e ninguém parecia ter uma resposta correta para apresentar além de "leia o que está na revista na mão dele". O mais próximo de uma resposta foi "ele nos ajuda com nossas produções malucas".
Então resolvi conversar com o sujeito para ver qual era a dele. Morgan era tipo um showman completo: cantava de vez em quando, posava para fotos a todo momento ("Pictures, pictures...), exibia uma suposta cicatriz na nuca, tinha os dedos cheios de esparadrapos para combinar com as baquetas "autografadas" que carregava na calça.
"Pictures, pictures...". Ao centro, Morgan, e de cartola está Deddy Edson
Filipe Siqueira/R7Mesmo com tanta fama, ele continuava uma incógnita, mas era paparicado e vários dos presentes arranhavam um inglês pra conversar com ele. Como ninguém repetia o nome dele, ou dava o devido crédito por sua fama, Morgan escreveu uma série de cartões improvisados com toda a sua biografia. Na frente, era um panfleto do Toninho do Diabo acerca de um novo "projeto macabro" para "implantar chips na mão direita", mas no verso Morgan dissecou todos os detalhes importantes da sua própria vida.
Seu nome artístico na verdade era Morgan Dwight, onde poderia ser encontrado no YouTube, no programa Pânico (exibido em abril do ano passado)... e nas páginas policiais. Tudo porque na real Morgan Dwight se chama José Eduardo Carrara, 54 anos, mora em Pirituba e chegou a ser preso por fingir ser Charle Morgan, o real baterista de Elton John.
A ficha de Carrara começou a ficar suja quando ele tentou registrar o boletim de ocorrência afirmando que seu passaporte britânico foi roubado, juntamente com R$ 40 mil (8 mil libras). Acabou fichado e obrigado a prestar depoimento. O erro dele? Preencher que era filho de Reginald Kenneth Dwight, o nome verdadeiro de Elton John. A mãe na sua ficha era Alice Cooper Carrara Morgan Dwight, uma possível referência ao roqueiro Alice Cooper.
Mesmo apenas enganando pessoas no Brasil, a fama de Carrara se tornou internacional, quando fãs brasileiros alertaram o baterista de Elton John de que tinha gente se passando por ele. Charle Morgan fez o que era possível: escreveu na página de Carrara "Você não sou eu".
Segundo a reportagem da TV Record, que fez uma matéria sobre Carrara em 2015, quando o falso boletim de ocorrência o tornou famoso, familiares apontam que ele sofre de esquizofrenia e Morgan Dwight é sua personalidade desde 2014.
Obviamente, seria impossível tal persona não roubar o show antes que a Terror Fest de fato começasse.