O personagem Max Headroom era cult na época, algo similar ao "atual" Guy Fawkes
Reprodução/YouTubeEsse é um dos famosos mistérios sinistros do século XX que nunca foram resolvidos — e provavelmente nunca será. Em 22 de novembro de 1987, às 21h14 da noite, telespectadores de Chicago que estavam assistindo ao canal WGN viram o sinal ser invadido por um hacker esquisito que começou a falar coisas sem qualquer sentido.
O sujeito usava máscara, dançava na frente de uma placa de metal giratória ao som de uma música rave distorcida pelas complicações técnicas da transmissão pirata. Talvez o invador pretendesse falar, mas os técnicos da emissora inverteram a frequência da transmissão e tiraram o hacker da tela.
Durou uns 15 segundos (mais 13 se contarmos o tempo de tela preta), mas o estrago estava feito. A máscara era de um personagem conhecido como Max Headroom. Os técnicos começaram então a vasculhar o prédio da emissora WGN, suspeitando que fosse um serviço interno, mas não acharam nada.
Duas horas depois, às 23h15, uma nova invasão, dessa vez no Channel 11, da WTTW, durante um episódio de Dr. Who, que dessa vez durou 80 segundos. E na segunda vez ele falou um monte de maluquices em uma língua que parece uma mistura de frases do zen budismo e slogans publicitários.
"Ele é um nerd engraçado", começou, em referência ao personagem Max, de quem pegava emprestado a máscara. E depois disse "Pegue essa onda", o slogan da Coca-Cola, cujo garoto propaganda era o próprio Max na época. E termina com Max zuando os técnicos que estavam a caça dele, dizendo "Faça isso, venha me pegar", enquanto uma mulher no canto da tela batia na bunda dele com um mata-mosca.
A internet como a conhecemos ainda não existia, mas a história viralizou rapidamente. As emissoras locais receberam centenas de ligações com espectadores contando histórias sobre o caso, bem como jornais escreveram notícias e análises sobre o fato.
Se fosse na época atual, iria se parecer um viral de marketing, uma vez que Max Headroom era um personagem um tanto esquisito: um jornalista imerso num mundo cyberpunk, onde notícias se tornavam cada vez mais entretenimento. O programa só teve uma temporada antes de ser vencido por Miami Vice, mas se tornou cult, um ícone similar ao Guy Fawkes atualmente.
Enquanto os jovens acharam a história um tanto quanto engraçada, o governo investigou ela a sério. Oficiais do FBI e da FCC (a Comissão Federal de Comunicações) caçaram o responsável pelo hack, lembrando que a pena para esse tipo de crime era uma multa de US$ 100 mil ou um ano de cadeia (ou ambos).
Max era apenas a terceira invasão do tipo na história americana. Em abril de 1986, um sujeito conhecido como Capitão Midnight (Meia-Noite) invadiu o sinal da HBO por quatro minutos e colocou no ar uma mensagem reclamando contra as altas de preços. O responsável foi encontrado por usar um gerador de caracter patenteado pela empresa onde ele trabalhava, uma corporação especializada em enviar sinais a satélites. Em setembro de 1987 foi a vez da Playboy TV ter seu sinal invadido por um sujeito que dizia que ver pornografia era pecado. Mais uma vez, o responsável foi preso.
Mas o hacker Max jamais foi preso e aí choveram teorias da conspiração sobre o que exatamente ele queria com a invasão. Uma delas dizia que a data era pensada, já que era o aniversário da morte de John Kennedy, um dos casos que mais atraem teorias do tipo. Um especialista amador em hacks de telefones (os chamados phreakers) afirmou no Reddit em 2010 que provavelmente os invasores foram dois irmãos vizinhos dele que chegaram a avisar a ele a data e a hora do hack.
Quando o usuário (identificado como Bpoag) foi questionado do motivo, ele afirmou que os irmãos eram brincalhões (um deles tinha autismo) e queriam mostrar como era fácil fazer esse tipo de invasão e como as frequências de sinal eram desprotegidas. Segundo ele, bastava fornecer um sinal mais forte na mesma frequência para uma antena retransmissora local.
De fato, isso foi o mais próximo que tivemos de ter uma pista quente do caso, porque ele já foi encerrado, mas seu legado permaneceu por todos esses quase 30 anos, sendo precursor de uma onda de hacktivismo.
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