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A barba se torna um símbolo de protesto pela paz no Sudão do Sul

Internacional|

Atem Mabior. Juba, 29 nov (EFE).- Diante da falta de uma solução para o conflito no Sudão do Sul, que explodiu há quase um ano, alguns cidadãos optaram por se somar a uma original iniciativa em favor da paz e da reconciliação: deixar a barba crescer. O jornalista Abraham Melik Mebing nunca em sua vida tinha usado barba, até que em agosto decidiu usar este elemento como símbolo de protesto, alcançando ao longo destes três meses mais de 50 compatriotas que seguiram seu exemplo. "Sou partidário da causa da paz e com esta iniciativa tento chamar a atenção das pessoas, especialmente depois que os debates nas redes sociais terminaram em insultos entre as tribos", assegurou Mebing em entrevista à Agência Efe em Juba. Sob o nome "Campanha para deixar a barba pela paz e pela reconciliação no Sudão do Sul", Mebing utiliza o Facebook para tentar conscientizar as pessoas sobre a importância de pôr fim a um conflito político e étnico que já causou milhares de mortes. A crise explodiu em dezembro do ano passado, quando o ex-vice-presidente Riek Machar, deposto um ano antes e da tribo nuer, tentou dar um golpe de Estado contra o líder Salva Kiir, dos dinka. Mebing, que não se barbeia desde agosto, considera que sua campanha "encontrou uma resposta", com mais de 50 compatriotas - dentro e fora do país - que decidiram não se barbear. "Ela teve amparo especialmente entre sul-sudaneses que vivem no Sudão e nos Estados Unidos, entre os quais alguns divulgaram fotografias de suas barbas", explicou. Na opinião do jornalista, "não há nenhuma justificativa para se interessar pelo aspecto físico e pela beleza em meio às circunstâncias vividas no Sudão do Sul, onde crianças e mulheres sofrem com as calamidades da guerra, da fome e da doença". Mebing, de 28 anos, trabalhou em vários jornais e meios de comunicação como a agência de notícias sul-sudanesa e a rádio "Miraya", dependente da ONU. Apesar de sua experiência no âmbito da escrita, considera que sua campanha não teria êxito neste suporte devido à alta taxa de analfabetismo no Sudão do Sul, que é de cerca de 80%. Por isso optou pelo rádio e pelas redes sociais e por participar de conferências e debates em lugares públicos, nos quais sempre adverte que as guerras causam na população "sequelas sociais e psíquicas". No entanto, nem todos receberam com agrado a iniciativa e o jornalista sofreu intimidações. Algumas pessoas o propuseram que declarasse greve de fome, por considerar este meio mais efetivo, e outros o acusaram de tentar imitar a barba do presidente Kiir, algo que desmente. Em sua casa, Mebing também encontrou um obstáculo. Sua mudança de aspecto bateu de frente com a rejeição de sua esposa, que exigiu que ele se barbeasse, embora ele tenha negado. "Quando minha mulher chegou a Juba, após passar alguns meses no estado de Warab, me disse que daqui a dezembro tinha que cortar a barba", lembrou. As adversidades, no entanto, não fizeram Mebing desistir. Ele assegurou que não vai encerrar sua iniciativa e nem se barbeará até que a paz e os acordos de cessar-fogo que foram assinados pelas partes - e posteriormente violados - deem realmente seus frutos. Mebing inclusive já planeja outra campanha após o fim do conflito, que buscará - detalhou - "acabar com as diferenças que existem entre as tribos, cujos laços foram prejudicados pela guerra". EFE asm/ff/ma (foto)

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