Ela escreveu um livro para listar os culpados pela derrota
Jamie McCarthy/Getty Images para o Child Mind Institute - 13.11.2017Durante recente viagem à Índia, Hillary Clinton tentou explicar o porquê de 52% das eleitoras brancas terem votado em Donald Trump, e não nela, nas eleições de 2016. Segundo ela, as mulheres brancas casadas foram influenciadas pelos maridos e outros homens. É sério, ela disse que as mulheres sofrem: "um tipo de pressão crescente para votar em quem seu marido, seu chefe, seu filho, qualquer um, acredita que você deveria votar". O fato de ela mesma ser mulher branca e casada deixa o argumento ainda mais confuso. Suas opiniões são ditadas por seu marido? Pelos outros? Hillary é um estranho (e cada vez mais frequente) tipo de feminista, que luta pelo direito de as mulheres fazerem o que quiserem e pensarem como bem entenderem...desde que seja de acordo com a cartilha dela. Ai das mulheres que resolverem pensar de modo diferente ou defender outras pautas! No mínimo, serão acusadas de não pensar por conta própria.
Mas não é a primeira vez que Hillary tenta explicar o porquê de ter perdido. Já virou piada na mídia. Em setembro de 2017, o jornal Daily Mail contabilizou todas as desculpas dadas por Hillary por sua derrota. Na época, a lista já tinha 41 itens, mas continuava crescendo. Entre esses culpados, a Rússia, o FBI, Barack Obama, a mídia, as mulheres brancas, as pessoas que queriam mudança, redes sociais, eleitores brancos, wikileaks, homens, etc., etc. e infinitos etc. E, achando que não era o suficiente, ela ainda escreveu um livro chamado "O que aconteceu" para melhor acomodar a lista de culpados por sua derrota.
Críticos disseram que o livro é uma peça de propaganda destinado a enaltecer as qualidades de Clinton, para mostrar que ela era uma pessoa perfeitamente preparada para o cargo, e, ao mesmo tempo, colocar sobre os outros a responsabilidade pela derrota. A admissão de culpa sobre o próprio fracasso recai em ter feito "escolhas ruins" na hora de comunicar o quão maravilhosa ela era para os eleitores. Nada sobre rever suas propostas de governo. Não! Para Hillary, o problema está sempre nos outros.
No livro, a ex-candidata leva para o lado pessoal e confessa que se sentiu ferida: "tive que me conformar com o fato de que muitas pessoas — milhões e milhões de pessoas — decidiram que simplesmente não gostavam de mim. Imagine como me senti. Isso dói". Estranho uma mulher acostumada com política, perto de seus 70 anos, levar as coisas para o lado pessoal dessa maneira tão emotiva e imatura. Apesar de dizer que se conformou com a ideia, não é o que suas palavras e atitudes demonstram.
Hillary não aceita a perda porque culpa todo mundo. Quando perdemos alguma coisa de que gostávamos ou quando não alcançamos algo que queríamos muito, a reação que escolhemos ter vale muito mais do que aquilo que perdemos. É quando perdemos que nosso caráter se revela. Apontar o dedo para os outros, tentando encontrar culpados, apenas nos leva ao lugar errado. O comportamento correto é tentar entender nossa parcela de culpa. O que fizemos de errado e o que podemos mudar em nosso comportamento, modo de pensar, de agir, de falar, para que aquela situação não volte a acontecer. Corrigir o que levou ao erro. Isso, sim, seria útil para Hillary Clinton. E serve para cada um de nós.
O que Hillary falha em perceber é que não era uma questão de quem era mais bonito ou mais legal. Não era Donald Trump versus Hillary Clinton — ou, pelo menos, não deveria ser assim em uma eleição presidencial. São propostas que estão concorrendo — não pessoas. E, ao personalizar a disputa, ela perdeu o foco do que as pessoas realmente estavam avaliando. Não admite que a derrota nas urnas se deu porque seu plano de governo foi rejeitado pelos eleitores. As eleições norte-americanas foram decididas entre as ideias que Donald Trump defendia e as ideias que Hillary defendia. Fazer a América grande novamente — como no slogan da campanha de Trump — é o sonho dos moradores daquele país.
Essa proposta teve apelo aos americanos porque eles estão vendo seu país se distanciar do ideal que tinham no passado. Se querem voltar aos tempos dourados em que a América era grande, é porque perceberam que, em algum ponto, tomaram o caminho errado. Eles estão fazendo agora o que a Hillary deveria fazer — e o que você e eu também precisamos fazer quando alguma coisa dá errado na vida. Primeiro, parar de cometer os mesmos erros e parar de culpar os outros. Olhar para o ponto em que estamos, avaliar quando começamos a sair dos trilhos e dar os passos necessários para trás, até chegarmos no caminho certo. Daí em diante, é só seguir por ele. Os detratores de Trump (Hillary, inclusive) o acusam de dar passos para trás ao não defender a agenda "moderna". Mas nem sempre dar passos para trás é algo ruim. Quando se está indo na direção errada, dar passos para trás é exatamente o que se precisa fazer para retomar o caminho certo.