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Aos 97 anos, ex-secretária de campo de concentração nazista é condenada à prisão

Irmgard Furchner é acusada de cumplicidade no assassinato de 10 mil pessoas durante a Segunda Guerra

Internacional|

Irmgard Furchner, ao ser conduzida à corte na Alemanha
Irmgard Furchner, ao ser conduzida à corte na Alemanha Irmgard Furchner, ao ser conduzida à corte na Alemanha

Um tribunal da Alemanha condenou nesta terça-feira (20) a dois anos de prisão com suspensão da pena uma ex-secretária de um campo de concentração nazista, de 97 anos, acusada de cumplicidade no assassinato de mais de 10 mil pessoas.

Em um dos últimos julgamentos do país sobre o Holocausto, Irmgard Furchner foi processada por seu suposto papel no "assassinato cruel e maligno" de prisioneiros no campo de Stutthof, na Polônia ocupada. O país foi invadido pelos nazistas, que o comandaram no período de 1939 a 1945. O campo de Stutthof foi o destino de mais de cem mil pessoas, entre eles muitos judeus e ciganos.

A condenação segue o pedido da promotoria, que destacou o "significado histórico excepcional" do processo, com um veredicto sobretudo "simbólico".

A acusada, que tem o rosto borrado nas fotografias publicadas pela imprensa por ordem do tribunal, estava presente, em uma cadeira de rodas, durante a leitura do veredicto.

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Ela praticamente não falou durante o processo, apenas nas últimas audiências, já em dezembro, quando rompeu o silêncio.

"Sinto muito por tudo que aconteceu", declarou ao tribunal regional da cidade de Itzehoe (norte). Ela é a primeira mulher processada em décadas na Alemanha por crimes do período nazista.

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Furchner tentou escapar no início do processo em setembro de 2021. Ela fugiu da casa de repouso em que mora e seguiu para uma estação de metrô.

A ex-secretária tentou fugir da polícia por várias horas antes de ser detida na cidade vizinha de Hamburgo. Ela ficou presa por cinco dias.

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Os advogados pediram a absolvição da idosa, alegando que as evidências apresentadas durante o julgamento "não provaram sem margem para dúvida" que a mulher tinha conhecimento dos assassinatos.

"INFERNO ABSOLUTO"

A acusada era uma adolescente quando seus supostos crimes foram cometidos e, por esse motivo, foi julgada por um tribunal de menores de idade.

Ex-secretária nazista dá seu depoimento em corte na Alemanha
Ex-secretária nazista dá seu depoimento em corte na Alemanha Ex-secretária nazista dá seu depoimento em corte na Alemanha

Historiadores calculam que 65 mil pessoas morreram no campo que fica próximo da atual Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra russo-soviéticos", afirmaram os promotores.

Entre junho de 1943 e abril de 1945, Furchner trabalhou no escritório do comandante do campo, Paul Werner Hoppe. De acordo com a acusação, Furchner anotou e redigiu as ordens do oficial da SS e entregou sua correspondência.

Durante as audiências do julgamento, sobreviventes do campo de Stutthof apresentaram relatos comoventes de seu sofrimento.

A promotora Maxi Wantzen agradeceu a coragem das testemunhas, incluindo algumas que também compareceram como correquerentes, e afirmou que estas falaram sobre o "inferno absoluto" do campo.

"Sentem que é seu dever, embora tenham de invocar a dor de maneira repetida para fazer isso", disse ela.

TEMPO CADA VEZ MAIS CURTO

A promotora destacou aos juízes que o trabalho administrativo da acusada "assegurou o bom funcionamento do campo" e deu a ela "conhecimento de todos os acontecimentos em Stutthof".

Além disso, ela afirmou que as "condições que ameaçam a vida", como escassez de alimentos e água e a propagação de doenças mortais, incluindo o tifo, foram mantidas de maneira intencional e ficaram evidentes de modo imediato.

Embora as péssimas condições do campo e os trabalhos forçados tenham provocado o maior número de mortes, os nazistas também utilizaram câmaras de gás e instalações de execução por fuzilamento para exterminar centenas de pessoas que não eram consideradas aptas para o trabalho.

Wantzen destacou que, apesar da idade avançada da acusada, era "importante realizar o julgamento" e completar o registro histórico porque os sobreviventes do Holocausto estão morrendo.

Setenta e sete anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o tempo é cada vez mais curto para levar à Justiça os criminosos vinculados ao Holocausto.

Nos últimos anos vários processos foram abandonados porque os acusados faleceram ou não tiveram condições de comparecer ao tribunal.

A condenação em 2011 do guarda John Demjanjuk, com base no fato de que integrou a máquina de matar do regime de Hitler, estabeleceu um precedente legal e abriu o caminho para vários julgamentos.

Desde então, os tribunais emitiram vários veredictos de culpa por esse motivo e não por assassinatos ou atrocidades diretamente relacionadas com o acusado.

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