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Após tumulto, evento com Yoani Sánchez é suspenso em São Paulo

Presença de opositora cubana causou tumulto entre grupos favoráveis e contrários ao governo de Cuba

Internacional|Diego Junqueira, do R7

Manifestantes se concentraram na frente do Conjunto Nacional, na avenida Paulista
Manifestantes se concentraram na frente do Conjunto Nacional, na avenida Paulista Manifestantes se concentraram na frente do Conjunto Nacional, na avenida Paulista (FABIO MARTINS/FUTURA PRESS)

A palestra da blogueira e ativista Yoani Sánchez em um cinema na zona oeste de São Paulo, na tarde desta quinta-feira (21), causou protestos contrários e favoráveis à visita da cubana, atualmente uma das mais famosas opositoras ao regime que comanda a ilha caribenha há mais de 50 anos. Por causa do tumulto, o evento foi cancelado.

Após um encontro fechado com cerca de 30 blogueiros, a sala do Cine Livraria Cultura foi aberta ao público que quisesse assistir a uma entrevista com Yoani. Em seguida, ela participaria de uma sessão de autógrafos da nova edição de seu livro De Cuba, com Carinho, da editora Contexto.

No início da apresentação, enquanto a cubana respondia à primeira pergunta da mediadora do evento, um grupo de 30 manifestantes pró-Cuba interrompeu sua fala bruscamente com gritos como:

— José Martí [líder da independência cubana]! (..) Cuba sim, ianques não! Viva Fidel e a revolução!

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Dentre os que estavam no auditório para assistir à entrevista, uma pequena parte deixou o local, enquanto outros saíram em defesa de Yoani e começaram a vaiar, o que deu início a um bate-boca. A dissidente, no palco, chegou a sorrir, enquanto tentava retomar a entrevista.

O assistente social Everton Souza, de 30 anos, disse que o grupo pró-Cuba estava criticando o evento por não se tratar de um debate democrático, com espaço para opiniões diferentes.

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— As perguntas são fechadas e escolhidas pela mediadora. Apenas a Yoani pode falar. Deveria ter outra pessoa para discutir com ela. Isso não é um debate!

A blogueira e a mediadora tentaram continuar a entrevista. Perguntas dos críticos de Yoani foram lidas no palco, como o fato de ela não ser popular em seu país.

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A dissidente declarou que, quando sai às ruas de Havana, “quatro ou cinco pessoas me reconhecem e se aproximam para me cumprimentar”.

Yoani continuou sendo interrompida pelos manifestantes, gerando mais bate-boca. Enquanto uma parte da plateia pedia silêncio ao grupo, os mais exaltados xingavam os esquerdistas.

Funcionários da Livraria Cultura evitavam que o grupo pró-Cuba se aproximasse do palco. Até a Polícia Militar foi chamada, mas os soldados ficaram na porta do auditório e não intervieram na discussão. Passada meia hora de novas interrupções, o evento foi suspenso e Yoani deixou o local.

Os grupos contrários e favoráveis à blogueira continuaram a discutir e houve até um tumultuado empurra-empurra no final. Mas, aos poucos, os manifestantes deixaram a livraria.

Do lado de fora

Enquanto Yoani estava dentro da sala do cinema, do lado de fora, manifestantes dos dois lados realizavam um protesto que durou quase duas horas. Em maior número, os manifestantes a favor do regime dos irmãos Castro seguravam cartazes e gritavam frases como o "bloqueio mata, Yoani mente".

Um cartaz ainda dizia: "Yoani + Bolsonaro = fascismo". Nesta semana, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) manifestou seu apoio à causa da blogueira cubana. O grupo chamava de “fascista” as pessoas que estavam na fila para tentar participar do evento, que contava com acesso controlado.

Já os manifestantes favoráveis a Yoani bradavam palavras de ordem como "Fora Fidel" ou "Liberdade de Expressão". Uma cartaz sugeria que Brasil e Cuba fizessem uma troca entre Yoani e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Lula e réu condenado no processo do mensalão.

O estudante de letras da USP Flávio Morgenstern, de 28 anos, disse que o grupo pró-Yoani não tinha ligação com nenhum grupo político brasileiro. Segundo ele, a manifestação fora organizada espontaneamente pela internet. Ele segurava um cartaz escrito: "Este cartaz custou 70% do salário de um cubano".

Apesar dos gritos exaltados e da proximidade entre os manifestantes contrários, a reportagem do R7 não presenciou nenhum ato violento até a publicação desta reportagem.

Reforma migratória

Yoani Sánchez é uma filóloga cubana, de 37 anos, e autora do blog Generación Y, crítico do governo de Cuba.

O Generación Y recebeu em 2008 o Prêmio Ortega y Gasset, do jornal espanhol El País, na categoria jornalismo digital. No mesmo ano, a revista Time selecionou Yoani como uma das cem pessoas mais influentes do mundo, e a rede de TV americana CNN elegeu seu blog entre os 25 melhores do planeta.

A viagem ao Brasil é o início de um giro de 80 dias por cerca de 12 países da América Latina e da Europa. Ela pretende viajar para México, Estados Unidos, República Tcheca, Itália, Espanha e Holanda, entre outros países.

Yoani pôde viajar graças a uma reforma migratória que entrou em vigor em 14 de janeiro e eliminou o visto de saída e a carta-convite que, por meio século, tornaram difícil e caro para os cubanos viajar ao exterior. Ela recebeu seu passaporte no último dia 31 de janeiro, após 20 pedidos negados para deixar o país.

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