Hussein destacou a preocupação da ONU pelo "desproporcional número de jovens negros que morrem em encontros com policiais"
AP Photo/Manuel Balce CenetaO alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, expressou na terça-feira (25) sua preocupação pelo "desproporcional" número de jovens negros que são mortos nos Estados Unidos pela polícia e pediu às autoridades que atuem para dar resposta à crescente desconfiança que muitas comunidades têm em relação à Justiça.
O pedido foi feito após os distúrbios registrados em Ferguson, no Estado do Missouri, que seguiram a decisão de um grande júri de não indiciar o policial que matou o jovem negro Michael Brown, morto por um policial branco em agosto deste ano.
Hussein destacou em comunicado a preocupação da ONU pelo "desproporcional número de jovens negros que morrem em encontros com policiais", assim como pelo alto número de negros na prisão e condenados à morte.
— Está claro que, pelo menos entre alguns setores da população, há uma profunda e cada vez mais inflamada falta de confiança na legitimidade da Justiça e nos sistemas de aplicação da lei.
Por isso, urgiu às autoridades americanas a examinar com profundidade como os "assuntos raciais" estão afetando os sistemas de Justiça e de polícia no país.
Manifestantes e autoridades têm noite de violência após justiça liberar policial
Cinco números para entender a desigualdade racial nos EUA
Brancos e negros ainda vivem separados nos EUA?
Nesse sentido, lembrou que diversos organismos, entre eles vários da própria ONU, denunciaram uma "discriminação institucionalizada" nos EUA, declarou o principal responsável de Direitos Humanos da organização.
Além disso, Hussein chamou a atenção para o alto número de mortes relacionadas com as armas que se registram no país, dando como exemplo a morte há três dias de um menino negro de 12 anos, Tamir Rice, que foi abatido pela polícia quando brincava com uma pistola de ar comprimido.
— Em muitos países, onde não é tão fácil acessar armas verdadeiras, a polícia tende a ver crianças brincando com réplicas como o que são, ao invés de vê-las como um perigo a ser neutralizado.
O diplomata jordaniano transferiu suas condolências tanto aos familiares de Rice como aos de Brown, dos quais destacou sua "tremenda dignidade" e fez eco de seus pedidos para que os protestos em Ferguson sejam pacíficos.
— Peço a todos os manifestantes que evitem a violência e a destruição após a decisão, de acordo com os desejos expressados pelos pais de Brown e de acordo com a lei.
O responsável da ONU lembrou que as pessoas "têm direito a expressar sua consternação e seu desacordo com o veredito do grande júri, mas não de causar danos a outros ou a suas propriedades".
Na mesma linha se pronunciou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que através de seu porta-voz pediu que os manifestantes evitem a violência e que as autoridades garantam que se respeite o direito aos protestos pacíficos.
Ban pediu ainda para que os envolvidos transformem "este momento difícil em um movimento positivo para a mudança".