Especialistas espanhóis encontraram nos restos do poeta chileno Pablo Neruda a bactéria "estafilococo dourado", um "elemento estranho", não associado ao câncer que supostamente causou sua morte em 1973, informaram nesta quinta-feira (28) fontes judiciais.
A evidência é resultado de perícias praticadas no Centro de Ciências e Técnicas Legista da Univerdade de Múrcia, realizadas no marco da investigação levada adiante pelo juiz chileno Mario Carroza, que pretende esclarecer as causas exatas da morte do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1971.
Segundo o relatório dos especialistas, liderados pelo catedrático espanhol Aurelio Luna Maldonado, nas perícias foram encontrados, além disso, outros dois elementos, mas que estão relacionados com o câncer de próstata "disseminado e com um processo de tipo infeccioso" que Neruda padecia desde vários anos antes de sua morte.
As perícias, explicou hoje os responsáveis do Programa de Direitos Humanos do Ministério do Interior, que é parte querelante na investigação judicial, fazem parte dos novos testes proteômicos e genômicos que o juiz pediu que sejam particados na ossada do autor chileno.
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O juiz procura esclarecer se Neruda, falecido em uma clínica de Santiago em 23 de setembro de 1973, morreu por causa do câncer ou se sua morte foi induzida por terceiros mediante algum elemento estranho nos fármacos que eram fornecidos para sua doença, pelo qual seu corpo foi exumado em abril de 2013.
A investigação foi iniciada em 2011 por causa de uma denúncia do Partido Comunista chileno, baseada em afirmações de Manuel Araya, antigo motorista de Neruda, à revista mexicana Proceso.
Araya disse que o poeta, falecido dias depois do golpe militar liderado por Augusto Pinochet, tinha sido envenenado por agentes da ditadura mediante uma injeção que foi dada na clínica na qual estava internado.
O poeta morreu quando se preparava para viajar ao México, a convite do então presidente desse país, Luis Echeverría e segundo Manuel Araya, para liderar a oposição a Pinochet.
Em novembro de 2013, um grupo de especialistas chilenos e estrangeiros que realizaram as perícias científicas nos restos concluiu que Neruda não tinha morrido envenenado, mas mesmo assim a investigação não foi encerrada porque o juiz considerou que os resultados não eram conclusivos e ordenou novos testes.
Ao contrário das anteriores, as novas perícias buscam estabelecer a presença de vestígios biológicos que não deveriam ser encontrados entre os restos do poeta e assim se chegou ao achado de fragmentos moleculares de estafilococo dourado, uma bactéria não associada ao câncer de Neruda.
Esta bactéria, considerada agressiva e com frequência mortal, é uma causa importante de infecções generalizadas. No entanto, no novo relatório elaborado por Aurelio Luna e pelas peritas legista Cristina Pérez, Gemma Prieto e María Dolores Pérez, os especialistas não incluem conclusões, "já que pensamos que deve ser debatidas no painel de especialistas".
Os especialistas previnem, além disso, que "é muito difícil estabelecer ou excluir a presença de um processo infeccioso nas últimas horas de vida do poeta, pois trata-se de restos que foram reinterrados e manipulados.
O corpo de Neruda esteve desde sua morte no Cemitério Geral de Santiago, até depois da recuperação da democracia no Chile, em 1990, quando cumprindo seu desejo, foi levado e sepultado em sua casa da cidade litorânea de Isla Negra, junto a sua esposa Matilde Urrutia.
"A análise destes dados requer uma dose oportuna de prudência para evitar conclusões aventuradas, à revelia de informações adicionais, das quais neste momento carecemos", ressalta o relatório.
Na semana passada, a Fundação Pablo Neruda pediu que os restos do poeta sejam devolvidos a seu sepulcro de Isla Negra, por considerar que "passou um tempo mais que prudente" para que "volte a descansar em paz".