Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Chilenos vão às urnas para escolher novo presidente e novos rumos

Em meio a cenário de crise econômica, pandemia, nova Constituição e protestos em massa, Chile busca definir seu futuro

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Aviso em entrada de zona eleitoral em Santiago pede que eleitores mantenham distanciamento
Aviso em entrada de zona eleitoral em Santiago pede que eleitores mantenham distanciamento Aviso em entrada de zona eleitoral em Santiago pede que eleitores mantenham distanciamento

Neste domingo (21), cerca de 15 milhões de eleitores estarão aptos a votar na oitava eleição presidencial do Chile desde a redemocratização, em 1989. O pleito tem tudo para se tornar um dos mais polarizados da história, com dois favoritos em espectros políticos opostos e em um momento de transição profunda no país.

O futuro presidente do Chile não deverá lidar apenas com as consequências de uma grave crise econômica, piorada pelos quase dois anos da pandemia de Covid-19. Também vai promulgar uma nova Constituição, que busca incluir populações até então marginalizadas. As tensões após os protestos de 2019 e 2020 ainda permanecem vivas na memória.

Pela legislação eleitoral do país, as pesquisas de intenção de voto não podem ser divulgadas nos últimos 15 dias antes da votação. Os favoritos até então eram o deputado Gabriel Boric, da coligação de partidos de esquerda e centro Aprovo Dignidade, e o ex-deputado direitista José Antonio Kast, do Partido Republicano. Cada um a seu modo, ambos representam o desgaste da política tradicional no Chile.

Além deles, corriam por fora Sebastian Sichel, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro do Desenvolvimento Social no governo do atual presidente, Sebastian Piñera, e Yasna Provoste, ex-ministra da Educação no governo de Michelle Bachelet e ex-presidente do Senado na última legislatura. Representantes da centro-direita e da centro-esquerda, eles estavam um pouco atrás dos concorrentes.

Publicidade

Crise e polarização

Para a historiadora Ana López Dietz, professora da Universidade Central do Chile, a eleição deste domingo é uma das mais relevantes desde a redemocratização do Chile. Isso porque as forças que governaram o país durante esse período o fizeram com as estruturas e a Constituição deixadas por Pinochet. No entanto, mesmo após a formação da Assembleia Constituinte, os chilenos ainda não sabem ao certo para onde irão.

"A condução do Chile até hoje foi sustentada sobretudo sob a lógica dos acordos sociais e de paz para alguns dos mais ricos, e para outros, profunda desigualdade, vida precária, emprego precário, destruição de direitos. Isso explodiu nas manifestações de outubro de 2019. No entanto, mesmo após o plebiscito, estas eleições atuais se constroem com base em um acordo feito por praticamente todos os partidos políticos e figuras do regime. Muitos jovens que estavam na linha de frente dos movimentos estudantis se desiludiram e também se desmobilizaram na pandemia", relata.

Publicidade

Segundo a especialista, diversos fatores ainda dificultam uma projeção para o resultado da eleição. Mesmo assim, afirma ela, é quase certo que haverá o segundo turno em 19 de dezembro. A tendência é que Boric, ex-líder estudantil que liderava as pesquisas, dispute com Kast ou Sichel.

"Sem dúvida, estamos vivendo um clima de polarização, acima de tudo", avalia a professora. "Mas há também um fenômeno profundo aí, que é um esgotamento, um cansaço da população com o regime político, uma descrença com as eleições e com a democracia. Aqui o voto é voluntário e a participação tem caído."

Publicidade

Leia também

Segundo ela, os fortes protestos iniciados em outubro de 2019 ajudaram a impulsionar a votação no plebiscito que convocou a nova Assembleia Constituinte. A participação, no entanto, caiu na eleição dos delegados que estão elaborando a futura Constituição chilena.

"Temos de ver o que vai acontecer agora. Ao longo desse tempo se perdeu aquele elo mais importante com o amplo movimento que estava nas ruas. Acho que, acima de tudo, isso mostra um absoluto descontentamento com esse sistema, levando as pessoas a não votar, participar. Elas acreditam que nenhum dos candidatos atenderá a suas demandas", explica.

Para a professora, a campanha eleitoral deste ano foi bastante reveladora na questão da polarização política. De um lado, Boric buscou se aliar aos movimentos sociais, sindicais, estudantis e indígenas que mobilizaram os protestos. Do outro, Kast se colocou como defensor do legado da ditadura de Augusto Pinochet.

"Creio que há um debate ideológico que é necessário fazer, a respeito de qual projeto político queremos construir no país, um projeto não apenas para escolher um representante, mas para mostrar para onde queremos ir, se queremos manter as coisas como são ou pensar em novos caminhos para o Chile", conclui.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.