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Cidade de 12 mil anos vai afundar em lago de hidrelétrica na Turquia

A cidade de Hasankyef, que tem edificações feitas por pelo menos 20 civilizações diferentes, vai desaparecer no reservatório de uma usina turca

Internacional|Fábio Fleury, do R7

A cidade de Hasankeyf, na Turquia, pode ser inundada já em outubro
A cidade de Hasankeyf, na Turquia, pode ser inundada já em outubro A cidade de Hasankeyf, na Turquia, pode ser inundada já em outubro

Uma cidade que pode ter mais de 12 mil anos, fundada na Mesopotâmia antes da Era do Bronze, pode desaparecer em até um mês, por conta da construção de uma usina hidrelétrica na Turquia.

Os cerca de 6,7 mil moradores de Hasankeyf, uma pequena cidade que fica às margens do Rio Tigre, no sudeste da Turquia, perto da fronteira com a Síria, têm até o dia 8 de outubro para abandonar suas casas.

A pequena cidade milenar já fez parte dos impérios romano, bizantino, mongol e otomano e, hoje, é considerada patrimônio histórico.

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Depois dessa data, o reservatório da usina hidrelétrica de Ilisu, com uma área estimada de 300 km², será preenchido e a quase 80% da cidade será coberta por até 20 metros d'água.

Além de Hasankyef, quase 200 vilarejos da região ficarão submersos pelas águas do rio Tigre.

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A estimativa do governo da província de Batman é que cerca de 17 mil pessoas tenham de ser deslocadas até o início de outubro. A região toda tem cerca de 400 sítios arqueológicos, muitos deles nunca explorados antes.

Perda histórica

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A maior perda, no entanto, será mesmo Hasankyef. Segundo arqueólogos, a cidade — que fica numa área que começou a ser ocupada entre 10 e 12 mil anos atrás — tem 500 edificações históricas, feitas por pelo menos 20 civilizações diferentes, entre persas, assírios, romanos e otomanos.

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Uma fortaleza que se ergue um pouco acima do nível do rio permanecerá a salvo, mas um grande número de mesquitas, tumbas, além de um complexo com cerca de 500 cavernas, se perderão com o reservatório.

O governo turco retirou algumas das edificações mais importantes, como os mausoléus de Zeynel Bey e Imam Abdullah e a casa de banhos de Artuklu Hamam, que foram transportados inteiramente para um lugar "seguro".

Nova Hasankyef

O novo vilarejo fica a cerca de 2 quilômetros da Hasankyef original, na outra margem do rio e em uma área elevada, acima do nível projetado do reservatório. Os moradores, no entanto, reclamam da medida. Apesar da população atual da cidade ser de 6,7 mil moradores, não há lugar para todos em Nova Hasankyef.

Hasankeyf ainda tem os vestígios de uma ponte construída no século 12
Hasankeyf ainda tem os vestígios de uma ponte construída no século 12 Hasankeyf ainda tem os vestígios de uma ponte construída no século 12

“Na nova cidade, apenas 700 residências foram autorizadas. Somente para aqueles que eram casados, tinham família e moravam em casas antigas. O resto das famílias recebeu 100.000 liras (cerca de R$ 72 mil) de indenização, e as novas casas custam em média 150.000 liras (cerca de R$ 108 mil)”, disse o morador Ridvan Ayhan, em entrevista ao jornal El País.

O governo local diz que fará um porto na nova vila para explorar o turismo na região, especialmente na fortaleza de Hasankyef e nas ruínas que ficarão submersas, mas os moradores têm dúvidas sobre a viabilidade desse projeto. "É uma região pobre", alega Ayhan.

Pressões e atrasos

O projeto da represa de Ilisu vem sendo estudado pelas autoridades turcas desde os anos 1980. Ela deveria ter sido terminada há quase dez anos, mas as pressões de diversos movimentos que buscavam proteger Hasankyef e outras regiões às margens do rio Tigre atrasaram o processo de construção.

Diversos bancos e empresas da Europa, que inicialmente iriam financiar o projeto, acabaram cancelando seu apoio. Outro motivo de atraso foi a pressão da Síria antes de explodir a guerra civil, no início desta década. O país depende muito do fluxo do rio Tigre e temia perder seus recursos hídricos para a Turquia.

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