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Coreia do Norte vive revolução capitalista silenciosa

Reformas permitem a preservação da atual estrutura norte-coreana e ao mesmo tempo eleva o padrão de vida dos seus cidadãos

Internacional|Stephen Evans, da BBC News, Seul

Kim Jong-un visitou estas fazenda de cogumelos construída recentemente em Pyongyang
Kim Jong-un visitou estas fazenda de cogumelos construída recentemente em Pyongyang Kim Jong-un visitou estas fazenda de cogumelos construída recentemente em Pyongyang

A revolução barulhenta já é conhecida e acontece desde que o Exército Vermelho Soviético assumiu o controle da parte norte da península coreana no lugar dos japoneses em 1945.

Mas, agora, parece que o capitalismo está crescendo silenciosamente - e de forma surpreendente - no país.

Kim Jong-un observou o que China vem fazendo e decidiu que reformas de mercado parecidas com as daquele país podem permitir a preservação da atual estrutura norte-coreana e ao mesmo tempo elevar o padrão de vida dos seus cidadãos.

O primeiro passo para esta revolução foi perceber que, depois dos problemas causados pela fome no país na década de 1990, era preciso aumentar a produção agrícola.

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O pai de Kim Jong-Un, Kim Jong-il, permitiu que agricultores ficassem com parte da produção: eles poderiam formar equipes e trabalhar juntos para benefício próprio.

O governo ainda fica com uma parte, mas é o mesmo com qualquer outros governo, e o nome disto é tributação.

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O segundo passo está sendo dado agora no que está sendo chamado de "Medidas de 30 de Maio", pois estas medidas foram aprovadas discretamente em maio de 2014.

Empreendimento

Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin em Seul, na Coreia do Sul, disse à BBC que agora existem no vizinho do norte empreendimentos que são capitalistas em tudo menos no nome.

Tecnicamente, estes empreendimentos são de propriedade do governo, mas, de fato, eles são administrados por um gerente ou gerentes que maximizam os lucros e ficam com a maior parte deste montante.

"Estas empresas nunca foram aceitas pelo governo. Oficialmente, elas não existem. Mas muitas são até grandes. Há empresas de ônibus privadas, companhias de carvão privadas e companhias privadas que trabalham com ouro", disse.

Lankov cita o caso de uma companhia de carvão que conhece, gerenciada visando lucros. O gerente contrata, demite e faz empréstimos que são investidos na companhia.

Quando ele exporta o produto, invariavelmente para a China, ele fica com uma parte do lucro e dá uma contribuição ao Estado.

"Eles têm uma agência do governo que tem o direito de vender carvão para a China, mas eles não sabem nada sobre mineração ou como iniciar uma mina, então, eles fazem um acordo com uma pessoa rica, que mora no local - neste caso um homem - que investe o próprio dinheiro."

"O gerente contrata mineiros. Contrata engenheiros. Paga pelo equipamento e começa a gerenciar a mina. O carvão produzido é exportado para a China. E os lucros são divididos com o governo, que fornece uma cobertura mais ou menos legalizada, pois, no papel, esta mina é de propriedade do governo, mas o dono de fato toma todas as decisões gerenciais diárias. É uma empresa privada? Para mim, é", disse.

Segundo o professor, o capitalismo está crescendo.

"O governo norte-coreano está começando a admitir que não tem como liderar uma economia eficiente a não ser que conte com a iniciativa privada", afirmou.

Para o professor, segundo as "Medidas de 30 de maio", a partir deste ano, gerentes industriais - que, tecnicamente, são autoridades públicas - terão tanta liberdade quanto gerentes de empresas privadas.

"Eles poderão comprar matéria-prima. Poderão - e até mesmo deverão - vender produtos no mercado. Sua principal obrigação é gerar um certo volume de pagamentos ao governo, o que não é tão diferente de pagar impostos", disse.

Escola

Existe até uma Escola de Negócios de Pyongyang. Ela foi fundada por Felix Abt, um empresário suíço que representa companhias ocidentais na Coreia do Norte.

"Parece uma ideia improvavel, mas, quando começamos a desenvolver isto em 2002, vimos que existia falta de alimentos", disse Abt.

"Muitos trabalhadores não tinham empregos e, por isso, não tinham renda, então, pensamos que podemos ajudar a ensinar gerentes a se adaptarem ao novo ambiente e a se tornarem mais eficientes. Eles tiveram de aprender o que não sabiam antes: como fazer uma estratégia de marketing, como lidar com o serviço ao consumidor, controlar as finanças."

Mas a grande questão é como equilibrar os benefícios de se aliar a um regime desagradável.

"É possível conversar com as pessoas e influenciá-las, ajudar a mudar ideiais", afirmou o empresário suíço. "Mas, se você não tem presença no país, você não pode influenciá-lo para melhorar."

"Qual a alternativa ao envolvimento (com a Coreia do Norte)? Você quer bombardeá-los com bombas nucleares? você quer isolá-los para que as pessoas morram de fome? A melhor coisa, na minha opinião, é apoiar as forças do mercado para elas se envolvam e investam. Forças do mercado são o mais forte agente de mudança. Devemos trabalhar com todo mundo. Temos que trabalhar com pessoas comuns e com o governo."

Risco calculado

A dificuldade para o regime em Pyongyang veio em dobro. Primeiro, foi a fome, entre 1994 e 1998, que ilustrou as deficiências do sistema econômico.

Em segundo, está ficando cada vez mais difícil isolar-se da influência do mundo exterior.

A Coreia do Sul foi retratata como, nas palavras das agências de notícias oficiais do país, "a prostituta dos Estados Unidos", e seu progresso econômico foi desvalorizado.

Mas, agora, a China está crescendo, e dezenas de milhares de turistas chineses visitam a Coreia do Norte, exibindo sinais de prosperidade, como câmeras e roupas de marca.

O plano de Kim Jong-un pode ser imitar a maneira chinesa de unir controle político com o relaxamento de restrições econômicas - e isto pode até não derrubar o regime.

É uma aposta, que pode ou não dar certo.

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