Pedro Costa Júnior diz que o milionário Donald Trump representa o novo, em contraste à adversária democrata
Eduardo Enomoto/R7Com a aproximação da data das eleições presidenciais norte-americanas, uma das maiores preocupações das equipes dos dois principais candidatos é extremamente familiar para o brasileiro: as abstenções. Especialistas ouvidos pelo R7 são unanimes em afirmar que tanto Hillary Clinton quanto Donald Trump são extremamente impopulares, e o comparecimento dos eleitores às urnas no dia 8 de novembro pode ser decisivo para a vitória de ambos os lados.
Professor de Relações das Faculdades Integradas Rio Branco, Pedro Costa Júnior diz que o milionário Donald Trump representa o novo, em paralelo à adversária democrata, que já atua na política da Washington há mais de 30 anos. Desta forma, sua candidatura “empolga mais” os eleitores, que se identificam com o republicano de maneira apaixonada. Na mídia norte-americana, o fenômeno é conhecido como “Trumpmania”.
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Para o especialista em política norte-americana, essa identificação faz com que os eleitores de Trump tenham uma maior facilidade para sair de casa e votar no dia da eleição — enquanto o eleitorado de Hillary engloba uma grande parcela de eleitores anti-Trump, mas que não se sentem necessariamente identificados pela candidata.
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Reuters— Lembrando que, além de o voto ser facultativo, as eleições nos EUA acontecem em uma terça-feira normal. Esse é um temor que a campanha dela tem. Por mais que a Hillary esteja em frente nas pesquisas e muitos digam que vão votar nela, isso não significa que elas vão necessariamente sair de casa no dia e votar de fato.
Política do terror
O medo de que os eleitores de Hillary não compareçam às urnas é real, e tem retrospecto negativo recente em outros países. Segundo Costa, muitos colombianos não foram votar no plebiscito sobre a resolução do conflito com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) porque as pesquisas indicavam que o “sim” iria ganhar.
Pró-reitor acadêmico e professor de Relações Internacionais da Faculdade Belas Artes, Sidney Leite compara as atuais eleições ao pleito de 2008 — no qual o democrata Barack Obama representava “uma novidade”, e acabou incentivando e atraindo os eleitores democratas e independentes.
No entanto, o cenário mudou. Na avaliação de Leite, tanto a candidata democrata quanto o republicano “não empolgam”, e, com isso, o partido de Hillary está investindo pesado no medo de uma possível presidência de Donald Trump.
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— Por incrível que pareça, o Trump tem um grupo significativo de militantes que vão para a rua e defendem suas ideias. Já a Hillary não conseguiu atrair esses movimentos de rua, militantes engajados, nem segmentos da sociedade, como os jovens. Então faz todo sentido os democratas ficarem preocupados.
De acordo com Leite, os democratas lutam para aumentar a participação dos eleitores na disputa, já que, desde a eleição de Obama, houve uma queda no número de votos para o partido. O partido do atual presidente perdeu a maioria na Câmara dos Representantes em 2010, e, quatro anos mais tarde, do Senado.
“A maioria dos eleitores por aqui está bem descontente”, avalia a coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, Fernanda Magnotta. Ela está acompanhando o processo eleitoral norte-americano no Estado de Ohio, e diz ser extremamente difícil encontrar alguém que se declare apaixonadamente apoiador de algum dos candidatos pelas ruas da região.
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Na avaliação de Fernanda, o modelo político dos Estados Unidos está vivendo uma crise em decorrência das mudanças demográficas que afetam o país há anos, e que vêm mudando o perfil étnico e cultural da população.
— Os Estados Unidos de hoje não são os mesmos de 30 anos atrás. E isso tem a ver com os imigrantes, os negros, que impactam diretamente a maneira como os partidos são interpretados e recebem ou não apoio.
Ted Roosevelt concorreu contra o democrata Woodrow Wilson pelo recém-fundado Partido Progressista em 1912
Domínio PúblicoIndependentes
Uma das possíveis alternativas ao voto nos dois principais candidatos seriam os chamados independentes, dentre os quais se destacam a Verde Jill Stein e o libertário Gary Johnson. No entanto, para o pró-reitor da Faculdade Belas Artes, Sidney Leite, esses quadros não devem representar opções reais a Hillary e Trump.
— Não há uma terceira via viável. Neste momento, me parece que o cenário polarizou, e o eleitor que não for votar em nenhum dos dois não vai despejar maciçamente os votos em um 3º candidato.
Segundo Leite, a própria estrutura do processo eleitoral norte-americano “fecha as portas” para candidatos que não pertencem aos dois maiores partidos — apesar de, esporadicamente, candidatos independentes serem eleitos para cargos no legislativo, como o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders.
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Ele lembra ainda que o último independente a fazer barulho nas eleições presidenciais foi o empresário Ross Perot em 1992, quando concorreu contra o democrata Bill Clinton e o republicano George Bush, e, mesmo assim, terminou a corrida com mais de 18% dos votos.
Antes disso, em 1912, o então ex-presidente Ted Roosevelt concorreu contra o democrata Woodrow Wilson pelo recém-fundado Partido Progressista. Roosevelt, que já havia governado os Estados Unidos de 1901 a 1909 quando era membro do Partido Republicano, terminou a disputa no segundo lugar, à frente de William Howard Taft, candidato pelos republicanos no pleito.
* Por Luis Felipe Segura