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Entenda a crise política na Itália que levou à renúncia do premiê

Giuseppe Conte perdeu maioria no Senado e tenta formar coalisão para 3º governo. Enquanto isso, outros partidos almejam cargo

Internacional|Giovanna Orlando, do R7

Giuseppe Conte renunciou ao cargo de primeiro-ministro em meio à pandemia de covid-19 na Itália
Giuseppe Conte renunciou ao cargo de primeiro-ministro em meio à pandemia de covid-19 na Itália Giuseppe Conte renunciou ao cargo de primeiro-ministro em meio à pandemia de covid-19 na Itália

No meio de uma pandemia e um entrave para conseguir vacinas, a Itália entrou também em uma crise política. Na última terça-feira (26), o primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou que renunciava ao cargo e agora atua como premiê interino do país, enquanto busca uma nova base de apoio no Parlamento para voltar a governar.

“O premiê só é premiê pelo apoio que ele tem no Parlamento e no Senado”, resume o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Kai Enno Lehmann.

Conte perdeu na semana passada o apoio do Senado italiano depois que o ex-premiê, Matteo Renzi, deixou a coalizão, que garantia maioria absoluta ao primeiro-ministro, por não concordar com a forma como o governo italiano está gerenciando a pandemia e a recessão econômica.

A covid-19 afetou governos, economias e a popularidade de líderes antes queridos pelo mundo, mas Conte havia conseguido se manter estável durante a primeira onda no país. Segundo o professor, a aprovação do premiê chegava a 70%, com discursos sobre a importância do isolamento e distanciamento social e fechamento de comércio não essencial, mas “é difícil sustentar esse discurso por meses”, analisa.

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Com uma pandemia que volta ainda pior em novas ondas, a população passou a exigir mais do governo. Atualmente, o país enfrenta imbróglios para conseguir vacinas e pretende processar a farmacêutica AstraZeneca por não entregar as doses prometidas.

Sem maioria, sem governo

Sem a maioria no Senado, Conte perdeu a governabilidade e as chances de aprovar projetos de lei.

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Na Itália, não é incomum ouvir que primeiros-ministros renunciaram e tentaram reorganizar a base de apoio. E essa, inclusive, é a segunda vez que Conte faz isso. Em 2019, o premiê perdeu o apoio dos partidos de direita, com quem tinha uma coalizão, e renunciou. Ele voltou ao poder depois de conseguir formar uma maioria com partidos de centro e esquerda. Agora, ele precisa encontrar um caminho para voltar ao poder.

"O país tem um histórico de instabilidade entre primeiros-ministros, e apenas Silvio Berlusconi conseguiu terminar o mandato sem renunciar alguma vez desde a Segunda Guerra Mundial", elucida o professor. Em todos os outros mandatos houve algum tipo de instabilidade que forçou os mandatários a renunciarem.

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Até 1994, a Itália tinha um partido comunista muito popular, mas nenhuma sigla queria entrar em coalizão com eles. Com isso, para encontrar uma maioria eram formadas alianças com partidos menores ou o partido cristão democrata em troca de favores, cargos e privilégios, o que criou um sistema instável no país.

Mesmo com reformas políticas, institucionais e no sistema eleitoral, esse sistema continua vigente e a instabilidade nunca foi vencida. “Você pode mudar o sistema, mas quem já está dentro continua sendo quem já era”, diz o professor.

Como fica a Itália?

Conte continua trabalhando como premiê interino, mas não tem poder para tomar decisões que precisem ser votadas. Ele continua buscando apoio para conseguir uma maioria no Senado, o que não deve ser uma tarefa tão difícil, aponta o especialista.

“Ele tem os argumentos, é só usar”, diz. E, de fato, Conte pode tentar argumentar de vários lados para conseguir formar uma base.

De um lado, a pandemia não permite que o poder fique vacante tanto tempo, já que decisões precisam ser tomadas o tempo inteiro para garantir a estabilidade do poder, e a necessidade de negociar com empresas fabricantes de vacinas torna urgente a resolução da crise.

De outro lado, está a possibilidade de o presidente Sergio Mattarella convocar novas eleições caso uma solução interna não seja apresentada, e ninguém, nem os políticos e nem a população, querem uma eleição no momento.

Caso Conte falhe na tarefa de formar um novo governo com maioria no parlamento, “o presidente decide se dá outra chance ou se encarrega essa tarefa a outro político, ou se convoca novas eleições”, explica o especialista.

Até agora, Conte enfrenta dificuldades em organizar o terceiro governo, e Matteo Renzi, do Itália Viva, já está de olho no cargo, além de partidos como o antissemita Movimento 5 Estrelas e o centro-esquerdista Partido Democrático (PD), segundo a Ansa.

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