Imigrante comparece a audiência de permanência nos EUA
Getty Images / John Moore / 11.6.2018Em agosto de 2017, meses antes do governo Trump implementar a política de 'tolerância zero' na fronteira dos EUA com o México, uma avó brasileira e seu neto de 16 anos, autista e epiléptico, chegaram a um posto de entrada no estado do Novo México.
Ela deu entrada em um pedido de asilo porque estava sendo ameaçada no Brasil, foi detida em uma instalação federal e nunca mais viu o adolescente, que está a mais de 3 mil quilômetros de distância.
Maria Bastos e o neto Matheus estão separados há mais de 10 meses. Ela aguarda no Texas o julgamento de seu pedido de asilo. Ele já ficou internado em duas instituições e agora está em um centro federal para pessoas com deficiência em Connecticut, na costa Leste dos EUA.
Visto negado
A principal justificativa contra Maria está no fato de que ela tinha visto de turista há mais de 10 anos, entrava e saía frequentemente dos EUA e foi flagrada com dinheiro ganho no país, após trabalhar ilegalmente como babá em 2007. Ela assinou um termo em que se comprometia a não voltar ao país durante 5 anos.
"Ela assinou e cumpriu, nunca mais tentou entrar. Agora o procurador está usando isso para tentar negar o pedido. A vida dela corre risco no Brasil, é um erro. E o neto precisa dos cuidados dela, sofre muito por estar longe. Para mim, é uma situação parecida com tortura", afirma Eduardo Beckett, advogado da brasileira.
Documentação completa
Segundo o advogado, Maria fez tudo como o governo exige. Cruzou a fronteira em um posto oficial, se apresentou às autoridades e fez o pedido. Ela deveria ter sido colocada sob custódia e jamais separada do neto, de quem cuida há vários anos, desde que os pais do jovem se mudaram, também para os EUA.
"Ela entrou legalmente, tem todos os documentos, inclusive provando que tem a guarda legal de Matheus. Eles foram separados e estão fazendo um jovem com deficiência sofrer sem necessidade, é desumano, uma violação dos direitos", analisa Beckett.
Perseguição no Brasil
A brasileira entrou com pedido de asilo nos EUA porque está ameaçada de morte em sua cidade natal, em Goiás. Ela denunciou problemas na escola onde estudava no neto, o diretor foi demitido e ela recebeu ameaças de um parente que é policial. No entanto, por ser vítima de um problema individual e não uma perseguição por pertencer a um grupo específico, ela tem chances de ser deportada.
"É o pior cenário, o correto é ela ficar nos Estados Unidos, mas parece que agora o governo trata pessoas da América do Sul e Central como indesejáveis. Se fossem europeus pedindo asilo, ou pessoas com dinheiro, dificilmente eles teriam algum problema", critica o advogado.
Pressão política
Nas últimas semanas, a administração Trump vem sendo pressionada por conta da política de 'tolerância zero', que já resultou em mais de 2 mil crianças separadas dos pais que buscavam entrar ilegalmente nos EUA.
Entre elas, pelo menos oito são brasileiros. Sete estão em um abrigo em Tucson, no Arizona, onde um ex-funcionário relatou que foi orientado pela direção a separar três irmãos vindos do Brasil que estavam se abraçando.