Isaías Valdez (de azul, no desenho) foi guarda-costas e auxiliar de El Chapo
Jane Rosenberg / Reuters / 24.1.2019De membro das forças especiais do exército mexicano a guarda-costas, piloto e assessor de Joaquín "El Chapo" Guzmán, o traficante mais famoso do México. Esse é o currículo de Isaías Valdez Ríos, que testemunhou nesta quinta-feira (24) no julgamento do chefão nos EUA.
Valdez contou aos jurados sobre como conheceu o chefão, como era trabalhar fazendo a proteção dele nas montanhas de Sinaloa e, principalmente, sobre episódios de extrema violência de Chapo contra seus inimigos.
Vítima desconhecida
O primeiro assassinato que o ex-guarda-costas relatou na audiência aconteceu em meados de 2007. Segundo ele, um sócio de Chapo ligou para o traficante, avisando que um homem dos Bertrán-Leyva, com quem o cartel estava em guerra, havia sido capturado e fora enviado para um "interrogatório".
No depoimento, Valdez explicou que o homem já havia sido torturado e foi entregue em péssimas condições, com queimaduras e marcas de violência por todo o corpo.
"O senhor Joaquín ficou bastante irritado", relatou. "Ele disse 'como eles foram me mandar esse cara nesse estado? Era melhor já terem matado esse infeliz.'"
O chefão, então, virou as costas e foi dormir. O homem, que não teve a identidade revelada no julgamento, foi deixado por três dias em um depósito e só então começou o interrogatório.
Depois de mais alguns dias de tortura, o homem foi levado a um cemitério, onde os capangas do chefão tinham aberto uma cova. Chapo deu dois tiros na vítima, que foi jogada no buraco. "Ele ainda estava tentando respirar e foi assim que nós o enterramos", contou Valdez.
Guerra contra os Zetas
Em outro episódio, o ex-guarda-costas contou como dois membros dos Zetas, gangue que atuava como braço armado do cartel do Golfo durante uma guerra contra o cartel de Sinaloa — liderado por Chapo — foram capturados e torturados.
O chefão estava escondido no estado de Durango e ordenou que seus homens levassem os Zetas para um local afastado, no meio do mato e bateu neles por quase duas horas com um pedaço de madeira.
Em seguida, ele mandou que os capangas abrissem uma cova na terra, enchessem de galhos e acendessem uma fogueira. "O sr. Joaquín não disse muito, ele só chegou com um rifle, encostou na cabeça de um, xingou e deu um tiro. Fez o mesmo com o outro", disse Valdez.
Chapo mandou que os dois Zetas fossem jogados na fogueira e que seus homens alimentassem as chamas até que os corpos fossem totalmente consumidos. "Ficamos lá até quase de manhã", contou o guarda-costas.