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Com a expansão do Estado Islâmico e a enorme crise de refugiados que afeta a Europa nos últimos meses, o mundo inteiro está atento para o desenrolar da guerra civil na Síria, conflito que já dura quatro anos e deixou mais de 240 mil mortos, segundo dados divulgados em agosto pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos
REUTERS
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O conflito sangrento começou em 2011, quando o governo do ditador Bashar Al-Assad, que comanda a Síria desde a morte do pai em 2000, reprimiu violentamente uma série de manifestações contrárias a sua permanência no poder
Fabio Rodrigues Pozzebom / ABr
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As manifestações rapidamente evoluíram para uma violenta guerra civil, com grupos contrários a Assad lutando contra as forças do exército sírio. Em meio ao caos provocado pelo conflito, o grupo extremista Estado Islâmico (anteriormente conhecido como Estado Islâmico do Iraque e do Levante) aumentou sua influência na região, tendo conquistado diversos territórios. No ano passado, o grupo declarou a implantação de um califado nas áreas que domina, e desde então vem aumentando sua lista de atrocidades
Reprodução/DailyMail
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Recentemente, um novo fator foi adicionado ao já atribulado cenário da Síria: a Rússia iniciou sua intervenção no país, enviando tropas e bombardeando posições dos extremistas, mas também dos rebeldes que pedem a saída de Assad. Nesta sexta-feira (2), as autoridades russas informaram que uma nova rodada de ataques aéreos foi realizada na Síria, atingindo 12 alvos do Estado Islâmico
REUTERS
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Para os especialistas entrevistados pelo Portal R7, a intervenção da Rússia no conflito sírio aumenta as chances do ditador Bashar Al-Assad permanecer no poder. Cientista político e professor de Relações Internacionais, Heni Ozi Cukier acredita que o presidente russo, Vladimir Putin, não vai arriscar perder sua influência no Oriente Médio com uma eventual saída de Assad do governo
Reuters
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— Não acredito em unidade entre Rússia e Estados Unidos. Os russos querem proteger o Assad, enquanto os EUA acreditam que não existe acordo para o fim da guerra no qual o ele continue no poder. Ele precisa sair para poder haver um acordo
REUTERS/Mike Segar
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Para Cukier, as tensões entre as duas potências se assemelham às vividas no período da Guerra Fria, quando Rússia e Estados Unidos usavam de seu poder econômico e influência geopolítica para conquistar o apoio dos outros países, dividindo o mundo no que ficou conhecido como “Cortina de Ferro”
EFE
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— Não deixa de ser uma espécie de Guerra Fria, em que as duas potências patrocinam lados diferentes. Acho que isso vai desgastar ainda mais a relação dos dois. O Obama é um líder fraco, que já mostrou que não responde de forma dura. Já o Putin é mais estrategista, mais astuto. Acredito que os americanos vão continuar fazendo pressão pelas sanções na Rússia, e as relações dos dois tende a piorar
Reuters
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Professor de Relações Internacionais e pesquisador do NEAI (Nucleo de Estudos Análises Internacionais), Daniel Coronato acredita que a falta de alinhamento entre as forças externas que estão atuando na Síria pode causar problemas sérios nas relações entre os países.
— De repente os Estados Unidos bombardeiam uma posição russa, e aí? Precisa combinar tudo com elesREUTERS
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Segundo a Reuters, antes dos bombardeios de quarta-feira (30), a Rússia alertou os norte-americanos para manter suas aeronaves fora do espaço aéreo sírio, mas os EUA teriam continuado a campanha aérea contra as forças do Estado Islâmico. Na quarta-feira, o portal Foreign Policy noticiou que os bombardeios russos atingiram bases do grupo rebelde Tajammu al-Aaza, facção apoiada pelos Estados Unidos
Reprodução/ Independent
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— O conflito na Síria não é brincadeira. 250 mil mortos é um número conservador. E o que vai definir o futuro do país é a manutenção do Assad no poder. Não tem nenhuma chance dos Estados Unidos intervirem para tirar ele contra os russos, o Putin não vai permitir. E ele não é burro, também está com medo do Estado Islâmico batendo na porta da Rússia
Reprodução/Izismile
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Já Cukier acredita que a intervenção russa na Síria pode despertar a revolta de grupos terroristas contra o país. A Síria é governada pelo ditador Assad, que pertence a uma minoria muçulmana alauita, mas tem uma população majoritariamente sunita, o que inclui o grupo extremista Estado Islâmico
Reprodução/ Daily Mail
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— A intervenção pode gerar uma revolta dos sunitas contra os russos. Tirando o Hezbollah, a maioria das organizações radicais são sunitas, e elas podem voltar suas atenções contra a Rússia. A grande maioria da população muçulmana do país é sunita
Reprodução/ Mirror
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Nesta sexta-feira, após as notícias sobre os bombardeios russos contra posições do Estado Islâmico na Síria, que deixaram 12 extremistas mortos, simpatizantes do grupo terrorista publicaram no Twitter esta imagem, que mostra a catedral de São Basílio em chamas, acompanhada da legenda "Morte a Putin: nós estamos chegando em breve"
Reprodução/ Estado Islâmico
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Além da questão da intervenção externa, Cukier ressalta ainda que a falta de negociações organizadas com os grupos rebeldes que pedem a saída de Assad contribui para o impasse na Guerra Civil Síria
Reuters
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— A saída do Assad é necessária, mas não suficiente. É um dos requisitos, mas também precisa ter uma frente unificada de negociação. Não dá para negociar com grupos pequenos nem com o Estado Islâmico. Quem está negociando o fim do conflito hoje? Ninguém, porque os rebeldes não são uma força única
* Reportagem de Luis Jourdain, estagiário do Portal R7
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