Cidades ucranianas devastadas após ataques russos que começaram na quinta-feira (24)
Reuters - 25.2.2025Após uma série de sanções internacionais tomadas por países ocidentais contra Moscou, que invade a região metropolitana de Kiev, capital da Ucrânia, nesta sexta-feira (25), buscar uma ação multilateral e ampliar contatos diplomáticos são alguns dos meios para tentar conter a invasão das tropas de Vladimir Putin à Ucrânia.
Além disso, o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Felipe Loureiro, acredita que o isolamento russo pode minimizar os ataques na região. “É preciso isolar a Rússia o máximo possível diante da agressão de Moscou à Kiev”, disse.
Até o momento, as sanções impactam as exportações russas, os Estados Unidos limitaram as exportações de produtos tecnológicos destinados a setores da defesa e da aeronáutica, isolam o setor financeiro, com medidas contra bancos e representantes da elite comercial, afetam o setor de energia e proíbem a entrada de pessoas em territórios da União Europeia. As próximas medidas, segundo Loureiro, são ampliar as sanções.
“É preciso deixar claro que a atitude da Rússia é de desrespeito à soberania e à integridade territorial de um estado soberano e não pode ser aceita”, diz. “Deve-se fazer isso de uma forma multilateral. Na ONU, não será viável porque a Rússia tem poder de veto e inviabilizaria qualquer tipo de ação.” O caminho, explica Loureiro, é tentar reunir o maior número possível de países que concordem em preservar a ordem internacional, a soberania e a integridade territorial das nações.
Ele alerta também que são esperadas ações de retaliação por parte da Rússia, como ataques cibernéticos, e medidas que afetem a exportação de energia, gás e petróleo. “Isso pode ter um efeito muito negativo para o ocidente, sobretudo, porque estamos saindo de uma pandemia, de uma situação econômica muito frágil e podemos enfrentar mais dificuldades econômicas, se houver uma movimentação com sanções.”
O mecanismo dissuasório mais adequado, para o especialista, seria a promessa de os EUA ajudarem a Ucrânia militarmente no caso de invasões. “Isso, porém, provocaria o risco de tropas russas e americanas entrarem em contato entre si, causando uma guerra entre Rússia e EUA com consequências catastróficas para o sistema internacional.”
Nesse sentido, ajudar o governo ucraniano por meio da assistência militar para garantir a resistência ucraniana poderia acarretar uma reação russa mais incisiva contra o Ocidente. “EUA e Otan descartaram uma intervenção direta”, afirma Loureiro.
A invasão russa à Ucrânia demonstrou, segundo Loureiro, que Putin estava decidido a agir. “Se ele não recebesse aquilo que demandou em relação à Otan e aos EUA, que a Ucrânia ficasse fora da Otan e que a Otan retirasse equipamentos militares e tropas do leste da Europa, realizaria um ataque a várias partes do país”, afirma o professor, que lembra que a Rússia é uma potência nuclear.
As últimas sanções aplicadas pelos EUA têm um caráter inédito, segundo o professor. “A Rússia é um país muito integrado à economia global no setor energético e de commodities. As sanções tendem a gerar uma série de problemas, principalmente, em cadeias produtoras.” Os vetos aos bancos também terão consequências importantes.
“São bancos de depósito de cidadãos comuns e de grande escala e isso vai ter um impacto bastante significativo na capacidade de empresas russas transacionarem com empresas no exterior. Isso vai impactar no crescimento russo no médio prazo, o que ao mesmo tempo, não significa que essa ação terá capacidade de barrar Putin.”
Entretanto, ainda que as sanções afetem a economia russa, o país se preparou o para reduzir a dependência do Ocidente. “Desde 2014, a Rússia vem ampliando a resiliência no sentido de suportar melhor as sanções do ocidente”, explica. “Ela conseguiu ampliar suas reservas internacionais, fez um processo de substituição de exportações no sentido de deixar a balança comercial menos vulnerável a determinadas importações sensíveis e vem realizando o máximo possível de transações financeiras fora da área do dólar.”
Uma medida que, de acordo com Loureiro, poderia impedir o avanço das invasões russas seria a saída do país do sistema internacional de bancos, o Swift. “Além de impedir bancos de fazerem transações com bancos e empresas ocidentais, teria um impacto mais amplo uma vez que fecharia o buraco de empresas e cidadãos russos na área do dólar e do euro.”
Um dos pontos mais relevantes do jogo de forças mundial é o posicionamento da China no conflito. “A variável chave era como a China se portaria diante da invasão russa. A china pode contribuir bastante para diminuir o impacto das sanções sobre a Rússia.”
Antes do confronto, o comportamento da China era ser considerado ambíguo, com alguns sinais de proximidade em relação à Rússia. “Na abertura das Olimpíadas de inverno, fala-se em ‘aliança sem limites’. Mas isso antes da invasão. Depois, o ministro das relações exteriores da China declara que o país defenderia a integridade territorial e soberania de todos os países, fazendo menção à Ucrânia.”
Após os primeiros ataques, a postura da China mudou. “Na prática, a China está com a Rússia e isso pode contribuir para a Rússia furar sanções do ocidente. Se empresas e bancos chineses começarem negociações com a Rússia fora da área do dólar isso permite que a Rússia siga com transações sem passar por bancos ocidentais, sobretudo, norte-americanos”, explica o professor. “Isso não vai ser fácil porque o grau de integração chinesa na economia global é muito grande.”
A guerra deflagrada por Putin, porém, não significa o fortalecimento do presidente russo em relação à países aliados, como Venezuela, Nicarágua e Síria ou mesmo a China. “Apesar de a China estar claramente apoiando a Rússia, não vejo o fortalecimento da Rússia e, sim, um momento em que o país decidiu usar as vias militares de uma maneira dramática para recuperar sua esfera de influência em um país que considera que nunca deveria ter ficado independente de Moscou”, afirma.
A resistência ucraniana aos ataques russos é considerada heróica. “Apesar do apoio que recebeu dos EUA e do Ocidente, a capacidade militar da Ucrânia é muito inferior à russa. A Rússia destruiu os principais equipamentos aéreos, neutralizado a capacidade de agir da força aérea.” O professor afirma que o alistamento de cidadãos e soldados no país denota o caráter heroico, mas, ao mesmo tempo, acarreta diversas consequências humanitárias aos país. “Temo por uma catástrofe humanitária em Kiev.”