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Israel: aliança com partido árabe define novo governo de união

Bloco de oito partidos, da esquerda à direita, foi definido com o objetivo de dar fim ao governo de Benjamin Netanyahu

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Bennett (esq.) e Lapid conversam no Parlamento
Bennett (esq.) e Lapid conversam no Parlamento Bennett (esq.) e Lapid conversam no Parlamento

Quando os resultados da quarta eleição em Israel, em menos de dois anos, foram definidos, de início se pensou em mais um impasse para a formação de um novo governo.

Um diferencial, porém, abriu uma brecha para uma mudança, que culminou, na última quarta-feira (2), no acordo para a formação de um novo governo e, neste momento, dar fim à era de Benjamin Netanyahu, que desde março de 2009 se mantinha no cargo de primeiro-ministro. Ele já havia exercido a função entre 1996 e 1999.

O diferencial é que, no último pleito, ocorrido em março de 2021, o partido centrista, Yesh Atid (Existe Futuro), do agora político Yair Lapid, antes um conhecido jornalista e apresentador de TV, se tornou peça-chave nas negociações.

Isto porque, desta vez, o Yesh Atid conseguiu sozinho 17 cadeiras, tornando-o o segundo partido mais votado na eleição, atrás apenas do Likud, do governista Benjamin Netanyahu, com 30 cadeiras.

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E, como o prazo dado pelo presidente Reuven Rivlin, ao partido mais votado, se expirou, a atribuição passou a ser do líder do segundo mais votado.

Lapid fez algo que, nas três eleições anteriores coube a Benny Gantz, considerado pouco carismático e sem tanta habilidade política.

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Vinte minutos antes do prazo se encerrar, na última quarta-feira, ele apresentou o novo governo ao presidente e agora, para que Israel ingresse em uma nova etapa, resta apenas a aprovação do Knesset (Parlamento).

Lapid abre mão do poder, inicialmente, para dar sustentação a um novo governo, formado por uma aliança que chega a 61 cadeiras, das 120 do Parlamento. Só assumirá o cargo de primeiro-ministro daqui a dois anos, deixando-o atualmente com o líder do direitista Yamina, Naftali Bennett.

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E, em negociações longas, que se encerraram no conhecido centro Kfar Hamaccabiah, em Ramat Gan, a aliança de oito partidos tem como objetivo superar as diferenças ideológicas e se concentrar na busca da união do país, trabalhando temas comuns a todos os setores da socidade israelense.

Para Renato Bekerman, representante do Meretz Brasil e delegado pelo Meretz no Congresso Sionista Mundial, a iniciativa tem por meta restabelecer o diálogo no país. O Meretz, liderado por Nitzan Horowitz, é um dos partidos que compõem a coalizão.

"O governo que se apresenta para assumir Israel, após 12 anos de Netanyahu como primeiro-ministro, poderia ser chamado de 'governo da mudança', com uma frente de partidos englobando direita nacionalista, centro, esquerda sionista e partidos árabes-israelenses não-sionistas. Esse bloco pluripartidário visa acabar com o continuísmo de Netanyahu, assegurando a democracia e tentando criar um ambiente de convivência sem tanto extremismo", afirma.

Bekerman considera que, mesmo com alguns partidos dentro da aliança tendo plataformas favoráveis à construção de assentamentos e contrárias a muitas reivindicações dos palestinos, haverá espaço para negociações.

"Será um grande passo para Israel voltar às negociações de paz e melhorar a coexistência entre árabes e judeus", observa.

Até mesmo o partido árabe, Ra'am que chegou a se aliar a Netanyahu, se dispôs a se unir a esse novo bloco. E reivindica apenas algo que Netanyahu já aceitou, que é cancelar uma lei que aplica multas em construções árabes consideradas ilegais.

A confirmação da aliança, definida nesta quarta-feira (2), só atrasou por causa desta iniciativa de Netanyahu, o que fez o líder do Ra'am (Liderança Árabe Unida), Mansour Abbas, se reunir novamente com Bennett, do Yamina, exigindo que o direitista concordasse com tal reivindicação árabe.

Os críticos dessa aliança dizem que ela é insustentável, pelas diferenças políticas entre seus componentes. O argumento para sua existência, porém, tem como base a contrariedade de todos os setores em relação ao que é visto como continuísmo de Netanyahu que, segundo eles, não está favorecendo o país.

Além disso, eles se opõem ao primeiro-ministro pelo fato dele estar sendo acusado de corrupção, fraude e abuso de confiança em três casos separados. O julgamento, inclusive, já teve início, após o procurador-geral de Israel o acusar formalmente em novembro de 2019. Netanyahu nega qualquer crime e se diz vítima de uma perseguição política.

A expectativa em Israel é que essa aliança, que reúne desde a direita, de Bennett, até a esquerda, representada pelos partidos Meretz e Trabalhista, dê uma trégua à polarização existente no país e, abarcando diferentes polos, busque um entendimento para pacificar a política interna israelense. E, assim, diminua a tensão entre vários setores da sociedade.

Este amplo governo de união é marcado pela diversidade, formado por uma liderança em geral jovem, com os seguintes membros do Parlamento.

Naftalli Bennett, 49 anos (direita, Yamina) - Tem uma proposta expansionista, contrária ao Estado Palestino. Tornou-se milionário nos tempos em que vivia nos Estados Unidos, quando montou uma empresa de software, que vendeu por 145 milhões de dólares. Mora em Ra'anana com a família. A cidade é um atual centro de imigração de brasileiros para Israel.

Merav Michaeli, 54 anos (esquerda, Partido Trabalhista) - Deu uma nova roupagem, mais moderna, ao Partido Trabalhista que se originou da base política fundadora de Israel. Está ligada ao ativismo feminista, defesa dos direitos das minorias, trabalhadores e na promoção da paz.

Gideon Sa'ar, 53 anos (direita, Nova Esperança) - É mais um nome que foi ministro no governo de Netanyahu, mas se tornou opositor, sendo favorável à anexação das colônias israelenses na Cisjordânia e defensor de um poder limitado da Suprema Corte.

Mansour Abbas, 47 anos - (esquerda, Ra'am, Liderança Árabe Unida) - Político árabe-israelense, de religião islâmica, formado em Odontologia pela Universidade de Jerusalém. Também fez Ciência Política na Universidade de Haifa e defende uma solução para o problemas dos refugiados palestinos, tendo sido contrário aos últimos tratados de paz de Israel com países do Golfo Pérsico.

Avigdor Lieberman, 62 anos (extrema-direita, Israel Nossa Casa) - Sua saída do cargo de ministro da Defesa, em novembro de 2018, deu início à fragmentação do governo de Netanyahu. Nascido na Moldávia, antiga União Soviética, é representante dos russos que imigraram para Israel. Não tem cunho religioso, mas sim nacionalista, defendendo a lealdade de qualquer povo que tem cidadania israelense.

Nitzan Horowitz, 56 anos (esquerda, Meretz) - Primeiro líder partidário abertamente homossexual em Israel, foi correspondente do jornal Haaretz na Europa e tem preferência por Lapid como primeiro-ministro no momento. É contra a anexação de territórios, leis que limitem o direito dos árabes de participar das eleições e árduo defensor de organizações de direitos humanos.

Yair Lapid, 57 anos - (centro, Yesh Atid) - Foi ministro das Finanças em 2013 e se desvinculou do governo para se tornar um opositor forte, que agora está serivndo como intermediário de um novo governo.

Benny Gantz, 61 anos (centro, Azul e Branco) - Foi o 20º chefe do IDF (Estado-Maior do Forças de Defesa de Israel) entre 2011 e 2015 e o 17º presidente do Knesset de 26 de março de 2020 a 17 de maio de 2020. Atual ministro da Defesa, está no cargo em função de uma aliança, que já se desfez, com o atual governo. Nas outras eleições, não conseguiu formar uma coalizção governamental.

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