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Nevascas no norte: mudanças no clima abrem caminho para ar polar

Ciclones, furacões e outros fenômenos devem ser frequentes em 2018

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Ar gelado que antes circulava só no Ártico chega agora a EUA e Europa
Ar gelado que antes circulava só no Ártico chega agora a EUA e Europa Ar gelado que antes circulava só no Ártico chega agora a EUA e Europa

As mudanças climáticas estão abrindo enormes frestas nas barreiras naturais que impedem que o ar gelado dos polos invada os outros continentes. Foi assim que uma corrente extremamente fria vinda do Ártico chegou aos Estados Unidos e à Europa no início deste mês, provocando nevascas que trouxeram consequências drásticas para muita gente.

O climatologista e professor do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) Paulo Artaxo Netto explica:

— O Oceano Ártico é a área mais fria do planeta no hemisfério norte. Lá, existe uma circulação de ar gelado muito bem consolidada chamada vórtex (ou vórtice) polar do Ártico. Isso mantém e delimita uma atmosfera extremamente fria dentro da região do Ártico. O que nós temos observado, pelas mudanças climáticas, é que este vórtex polar que circunscreve o ar gelado dentro do Ártico está se enfraquecendo e permitindo que massas polares saiam de lá e tenham acesso a áreas de clima mais temperado, nos EUA, no Canadá e na Europa.

Em linhas amplas, o vórtex funciona como um muro, mas a mudança forçada do clima provocada pelo aquecimento global abriu um portão neste muro, criando uma passagem livre do ar polar para todo o hemisfério norte. O resultado foi trágico. Veja imagens da nevasca nos Estados Unidos.

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Artaxo pondera que este tipo de fenômeno e outros eventos climáticos extremos — ciclones, furacões, secas prolongadas e temperaturas muito altas ou baixas — devem se tornar cada vez mais frequentes. Na última semana, por exemplo, os termômetros registraram 47,3°C em Sydney, na Austrália, por conta de uma onda de calor recorde, enquanto as encostas de areia do deserto do Saara ficaram cobertas por neve pela primeira vez há 37 anos.

O aumento da temperatura global tem relação direta com isto. É como se o planeta fosse uma máquina a vapor e estivéssemos jogando muita lenha na caldeira. Com mais calor, há mais energia. E muita energia acumulada pode desregular a máquina. 

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— Conforme adicionamos mais energia no sistema climático, esses eventos aumentam tanto em termos de frequência quanto de intensidade. O resultado disso já não é mais uma perspectiva futura: são consequências que aparecem muito bem consolidadas nos dias de hoje. Isso faz parte das alterações globais que o homem vem fazendo na atmosfera como um todo.

De acordo com o climatologista, a única forma de prevenir esses desastres naturais — que já deram um prejuízo recorde de US$ 306 bi em 2017 — é reduzindo a emissão gases de efeito estufa.

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— O que mais preocupa é que os EUA estão voltando atrás na política do combate ao clima de várias maneiras, dando subsídios para a indústria do petróleo e do carvão — grandes responsáveis pela emissão desses gases na atmosfera.

Perspectivas para o hemisfério sul

Na opinião de Carlos Rittl, secretário executivo da rede brasileira Observatório do Clima, a nevasca e a temperatura extremamente baixas no hemisfério norte não significam, necessariamente, o prognóstico de um inverno mais rigoroso para o Brasil em 2018 — embora o país também deva sofrer as consequências da mudança do clima.

— O clima do planeta se comporta de forma diferente de acordo com a região: se o frio que atinge o hemisfério norte vem do Ártico, o Brasil é muito mais influenciado pelas correntes de ventos originárias da Antártida. O que posso dizer é que, em relação à América do Sul, a gente provavelmente vai observar, ao longo do ano, extremos de chuva e de temperatura mesmo que não estejamos sob uma influência mais intensa do El Niño [fenômeno que provoca um aquecimento anormal das águas no Oceano Pacífico Tropical próximas à costa sul-americana e afeta padrões climáticos em todo o continente].

Rittl lembra que 2017 já foi o ano mais quente da história do planeta de que se tem registro. Segundo o especialista, em média, 30% dos municípios brasileiros são afetados anualmente por fenômenos climáticos extremos.

— Isso afeta a nossa qualidade de vida. Estamos em ano eleitoral, e é necessário que a gente traga isso para os debates.

Para Artaxo, o maior erro do País tem sido a conivência com o desmatamento na região amazônica.

— O Brasil vem desmatando mais de 7.500 km² da floresta todo ano. Isso, além de emitir uma quantidade brutal de gases de efeito estufa na atmosfera, contribui para alterações climáticas no meio ambiente amazônico. O impacto é muito forte sobre o clima não só do Brasil, mas do planeta como um todo.

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