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Ódio as minissaias é reflexo do machismo no Quênia

Internacional|

Alicia Alamillos. Nairóbi, 25 nov (EFE).- O ataque a uma mulher de minissaia que esperava um ônibus em Nairóbi, que foi deixada completamente nua, foi a gota d'agua para mulheres quenianas, que sob gritos de "My dress, my choice" (Minha roupa, minha escolha) denunciaram nesta terça-feira nas ruas a opressão masculina à qual estão submetidas. No Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, celebrado hoje, a situação dos direitos da mulher neste país africano continua injusta. No início de novembro, uma mulher de minissaia foi atacada por um grupo de homens que arrancaram a peça do corpo dela por considerar que se vestia de maneira "indecente" e que era uma "Jezebel" (prostituta bíblica) que estava "causando tentação". Foi o estopim para centenas de pessoas saírem às ruas para dizer um basta a este tipo de violência. O caso mais recente aconteceu domingo, quando uma menina que viajava com sua tia de matatu (as populares caminhonetes do transporte público) em Nairóbi foi atacada por dois homens que tentaram arrancar sua roupa, advertindo-a que podia usar saia "somente diante de seu marido". Estes episódios violentos são "um passo atrás" na história de um país que já é por si só conservador, já que "cada vez os homens se sentem mais capazes de fazer algo assim", disse à agência Efe Reih Muhaki, uma manifestante que tem várias amigas que foram estupradas no último mês. Isso fez com que os cidadãos cobrassem atuação das autoridades. O grupo "Mães de Kilimani", que liderou os protestos, pediu mais envolvimento do governo e atenção aos casos de violência contra mulheres, assim como tribunais especiais. Isabella Wanjiku, membro do Conselho Nacional de Mulheres no Quênia, afirmou à Agência Efe se tratar de um problema social e que "os problemas sociais precisam de soluções sociais, não políticas". As redes sociais foram ponto de encontro e de apoio ao movimento #MyDressMyChoice, mas receberam mensagens de vários homens e mulheres, cristãos ou muçulmanos, que criticaram a "indecência" destas mulheres. Ibrahim Oshoze, por exemplo, escreveu no Facebook: "Por que as mulheres africanas estão imitando às inúteis mulheres ocidentais que não têm respeito por seu corpo? Qualquer menina que se vista meio desnuda não pode ter sucesso no casamento". Segundo Wanjiku, "isto acontece pela ignorância de parte da população masculina sobre os direitos da mulher". Ela apontou que os últimos incidentes são reflexo "da cultura patriarcal", especialmente nas áreas rurais, embora também esteja presente na cidade. Segundo o Índice de Equidade de Gênero de 2013 elaborado pela ONU, o Quênia está em 122º lugar entre os 187 países analisados. A Constituição queniana pune a discriminação de gênero, mas o parlamento - que tem apenas 20% de presença feminina, aprovou várias leis nas quais predominam os direitos do homem sobre a mulher, como a legalização da poligamia. Esta lei permite que os homens se casem com quantas mulheres quiserem sem que suas esposas anteriores possam interferir nisso. Durante a aprovação, o parlamentar Junet Mohammed disse que "quando se casa com uma mulher africana, ela deve saber que haverá uma segunda, e uma terceira. Isto é a África". Os homens quenianos recorrem "à cultura e a tradição" africana como uma tentativa de justificar a subordinação a que submetem as mulheres. Para muitos, a minissaia é um costume do Ocidente, impuro e indecente, e uma parte da sociedade queniana "justifica" os ataques às mulheres em prol da decência. O Quênia não é o único país com aversão à minissaia. Na Uganda foi aprovada em fevereiro uma lei contra a pornografia que, entre outros comportamentos capciosos, proíbe e pune o uso da minissaia. No início de 2013, o governo da Namíbia também tentou proibir esta peça, e chegou a prender 40 mulheres após denúncias à polícia de que suas roupas "não eram africanas". EFE aa/cd

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