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Operários de Itaboraí alegam ser primeiras vítimas do escândalo da Petrobras

Internacional|

Javier García L. Itaboraí, 7 mar (EFE).- Cerca de três mil operários que trabalhavam para uma empresa terceirizada de prestação de serviços para a Petrobras e que estão sem receber salários desde o final do ano passado afirmam ser as primeiras e mais frágeis vítimas do gigantesco escândalo de corrupção na empresa estatal. Os porta-vozes dos operários relataram à Agência Efe que trabalhavam para a Alusa Engenharia, uma das empresas contratadas pela Petrobras para construir o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) em Itaboraí, cidade a 50 quilômetros do Rio de Janeiro, e que declarou moratória. A prestadora de serviços foi uma das empresas afetadas pela decisão da Petrobras de revisar seus investimentos e de adiar alguns projetos, inclusive o do Comperj, para fazer frente à crise gerada pela descoberta de milionários desvios nos contratos da estatal. A situação está devolvendo milhares de pessoas a situações de necessidade, e até mesmo de marginalidade, que muitos acreditavam estar superadas desde a época da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, cujos programas sociais permitiram que milhões de brasileiros saíssem da miséria. O anúncio da construção do Comperj em Itaboraí e a bonança prometida pelas reservas do pré-sal descobertas pela Petrobras atraiu milhares de trabalhadores, absorvidos inicialmente pelas terceirizadas da estatal. Com a paralisação das obras, milhares de trabalhadores deixaram de receber ou foram demitidos durante o último trimestre de 2014 sem indenização alguma, e alguns sem mesmo receber de volta sua carteira de trabalho, o que dificulta a busca de um novo emprego. A situação é mais grave para os empregados da Alusa, que não recebem desde novembro, já que a empresa, agora chamada Alumini, alega ter uma dívida milionária e ser incapaz de pagar suas obrigações desde que a Petrobras rescindiu unilateralmente o contrato. "Embora não seja possível prever nada, porque nem a Petrobras nem a Alumini se manifestaram, o maior culpado aqui é a presidente Dilma Rousseff, que tomou decisões equivocadas e agora são os trabalhadores que pagam as contas dos ladrões da Petrobras", disse à Efe Elivaldo José dos Santos, dirigente do Sintramon, sindicato que representa os afetados. Ao pequeno empresário Marcos Paulo Pires e Silva, no entanto, só resta a esperança de superar a ruína após investir o que tinha para abrir a Pousada do Trabalhador, onde se alojavam centenas de operários da Alumini. Hoje os quartos estão praticamente vazios e para poder pagar seus empregados, a luz e o aluguel, Silva teve que pôr à venda a mobília da pousada. "Neste momento não temos nem 3% de ocupação e alguns nem sequer pagam, e por isso não posso pagar o aluguel do local, nem os salários dos meus empregados, embora tenha a esperança de que a Justiça solucione em breve o problema", comentou. O empresário optou então pela solidariedade. "Tenho hospedados 20 trabalhadores que não podem pagar nada, mas sou incapaz de jogá-los na rua porque sei que não têm dinheiro para retornar a suas casas e terminariam como mendigos pelas ruas: trabalhadores qualificados mendigando". Mas Silva não sabe por quanto tempo poderá seguir assim. "Vou ajudá-los enquanto puder, e quando já não possa cada um terá que remar seu próprio barquinho", declarou à Efe com tristeza. Um deles é Gessé Dias Lopes, de 62 anos, que pretendia completar os anos para aposentar-se quando a Alumini o demitiu. "Agora busco 'bicos' aqui em Itaboraí, um ou dois por semana, onde me dão de comer. Às vezes me sobram alguns reais e eu mando para minha família", contou Gessé. Por sua vez, Cassia Gonçalves e seu marido saíram do Espírito Santo e chegaram a Itaboraí para trabalhar nas obras da refinaria. Ambos têm vários anos de experiência como soldadores, mas agora tentam ganhar a vida fazendo pasteizinhos caseiros que vendem nas ruas. "Vendo os pasteis para poder pagar minhas contas com honradez, o que não estão fazendo comigo nem a Petrobras nem a Alumini", denunciou Cassia, que se diz uma de centenas de trabalhadores presos em Itaboraí, impossibilitados de voltar a sua cidade de origem. "A arrecadação em Itaboraí sofreu uma queda considerável, enquanto a demanda social aumentou extremamente desde o final do ano passado", afirmou à Efe o coordenador municipal de ajuda aos sem-teto, Fábio Krespane. O funcionário assegurou que muitos trabalhadores vagam pelas ruas de Itaboraí ou de outras cidades vizinhas pedindo esmola ou tentando vender qualquer coisa nos semáforos, e que o maior problema é que ainda seguem chegando pessoas que consideram a cidade um Eldorado do petróleo. EFE jgl/rsd (vídeo)

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