O presidente ucraniano destituído, Viktor Ianukovytch, tentou neste sábado (22) subornar guardas de fronteira em Donetsk para escapar da Ucrânia de avião, informou à AFP um oficial da força.
Ianukovytch, destituído pelo Parlamento neste sábado, abandonou Kiev e seguiu para seu feudo em Kharkiv, no leste do país, onde concedeu uma entrevista à TV local, mas seu paradeiro era ignorado na noite deste sábado.
"Um avião particular que pretendia decolar do aeroporto de Donetsk não recebeu autorização e quando os oficiais foram verificar os documentos, encontraram homens armados que tentaram suborná-los", declarou à AFP o porta-voz da guarda de fronteira, Sergiy Astahov.
"Pouco tempo depois, dois veículos blindados pararam ao lado do avião e o presidente partiu do aeroporto".
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Acordo pode ter chegado tarde demais
O porta-voz não precisou qual seria o destino do avião, mas segundo o novo presidente do Parlamento ucraniano, Olexandre Tourtchinov, o presidente destituído fugiria para a Rússia.
"Ele tentou pegar um avião rumo à Rússia mas os guardas da fronteira o impediram. Atualmente, está escondido em algum lugar da região de Donetsk", disse Tourchinov, citado pela agência Interfax.
Donetsk é a região natal de Yanukovytch e seu bastião político.A líder da oposição na Ucrânia Yulia Tymoshenko fez apelo neste sábado aos adversários do presidente Vikor Yanukovich e pediu que não abandonem as manifestações em Kiev, mesmo com o Parlamento solicitando o fim imediato dos protestos.
Em discurso emocionado a milhares de manifestantes na praça da Independência em Kiev, Tymoshenko, que foi levada ao palanque em uma cadeira de rodas, disse: "Vocês não têm direito de deixar esta praça. Não parem por enquanto."
Tymoshenko, ex-primeira-ministra, foi libertada no começo deste sábado do hospital onde ela esteve internada e mantida sob guarda durante a maior parte do tempo desde sua condenação em 2011 por abuso de poder. Militantes pró-Tymoshenko creem que o julgamento teve motivação política.
Seu discurso chegou a ser interrompido por um militante adversário e foi bem recebido por boa parte do público presente, muitos também chegaram a vaiá-la.
Concessões e acordo
Yanukovich, que deixou grande parte da população furiosa ao virar as costas para a União Europeia para estreitar seus laços com a Rússia há três meses, fez grandes concessões em um acordo negociado por diplomatas europeus na sexta-feira (21), dias após atos de violência que mataram 77 pessoas, com o centro de Kiev parecendo uma zona de guerra.
Mas o acordo, que convocava eleições antecipadas até o fim do ano, não foi o suficiente para apaziguar os manifestantes, que pediam a queda imediata de Yanukovich, após um massacre no qual atiradores de elite disparavam balas do topo dos prédios.
Parlamentares atuaram rapidamente para implementar o acordo, votando para restaurar uma Constituição que diminuísse o poder do presidente e mudando a lei para permitir que sua rival, a líder oposicionista presa Yulia Tymoshenko, fosse libertada. Neste sábado, legisladores aprovaram acelerar sua soltura sem a assinatura do presidente.
Renúncia no Parlamento
O presidente do Parlamento, leal a Yanukovich, renunciou neste sábado, e o Congresso elegeu Oleksander Turchynov, um aliado de Yulia Tymoshenko, como seu substituto. Neste sábado, os acontecimentos estavam rapidamente moldando o futuro de um país de 46 milhões de pessoas, distanciando a nação de Moscou e a aproximando do Ocidente, embora a Ucrânia esteja perto da bancarrota e precise da Rússia para pagar seus compromissos. "Hoje ele (Yanukovich) deixou a capital", afirmou o líder da oposição, Vitaly Klitschko, ex-campeão mundial dos pesos-pesados no boxe, durante uma sessão de emergência no Parlamento, que debatia um pedido da oposição para a renúncia do presidente. Klitschko afirmou pelo Twitter que a eleição deve ocorrer antes de 25 de maio. — Milhões de ucranianos veem uma única saída: eleições antecipadas para presidente e Congresso.
Anna Herman, uma legisladora próxima a Yanukovich, disse à agência de notícias UNIAN que o presidente está na cidade de Kharkiv, no nordeste do país e onde se fala russo.
O Parlamento aprovou na sexta-feira a saída do ministro do Interior, Vitaly Zakharchenko, um partidário de Yanukovich e que foi apontado pela oposição como o culpado pelas mortes. O ministério pediu aos cidadãos que se unam "na criação de um país europeu verdadeiramente independente, democrático e justo".
As concessões de Yanukovich na sexta-feira acabaram com 48 horas de violência, que tornaram o centro de Kiev um inferno. Sem policiais leais o suficiente para restaurar a ordem, as autoridades colocaram atiradores de elite nos topos dos edifícios, de onde eles dispararam contra manifestantes, mirando na cabeça e no pescoço