Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Protesto anti-imigrantes termina com incidentes violentos no Chile

Cerca de 3.000 manifestantes saíram às ruas e incendiaram pertences de imigrantes venezuelanos neste sábado (25)

Internacional|

Grupo queimou os pertences de imigrantes venezuelanos
Grupo queimou os pertences de imigrantes venezuelanos Grupo queimou os pertences de imigrantes venezuelanos

Com ameaças xenófobas e queima dos poucos pertences dos imigrantes venezuelanos em situação ilegal terminou neste sábado (25) uma marcha de protesto de cerca de 3.000 pessoas na cidade de Iquique, norte do Chile, um dia depois da violenta desocupação de uma praça lotada de famílias com crianças.

"Inadmissível humilhação contra migrantes, especialmente vulneráveis, afetando-os no mais pessoal", escreveu no Twitter Felipe González, relator especial das Nações Unidas para os direitos humanos dos migrantes.

"O discurso xenófobo, vinculando a migração à delinquência, que infelizmente tem se tornado cada vez mais frequente no Chile, alimenta esse tipo de barbárie", acrescentou González.

Em um clima de aberto repúdio aos imigrantes venezuelanos, os manifestantes entoaram o hino da cidade e agitaram bandeiras chilenas, assim como a Whiphala, pavilhão colorido dos povos originários andinos, para expressar sua oposição à migração ilegal, associada à criminalidade em razão de boatos que circulam por todo tipo de plataforma.

Publicidade

Também cantaram e exibiram cartazes com lemas como "Chega de imigração ilegal" e "O Chile é uma república que se respeita". 

A partir da Praça Prat, no centro histórico de Iquique, os manifestantes marcharam por dez quarteirões até a praia banhada pelo oceano Pacífico, onde os carabineiros tiveram que controlar escaramuças isoladas provocadas pelos chilenos que se aproximavam para agredir os venezuelanos em situação de rua.

Publicidade

Desde a manhã de sábado, os imigrantes tentavam se esconder em outras áreas deste balneário para evitar os manifestantes. Outros radicais se dirigiram a um pequeno acampamento de venezuelanos – que não estavam no local – e queimaram em uma barricada seus poucos pertences: barracas, colchões, bolsas, cobertores, brinquedos.

"Eu sou nascido, criado e malcriado em Iquique. Sempre vivi nesta região do norte, e isto que estamos vivendo é terrível, porque o problema é que na Venezuela abriram as prisões e parte dessa gente chegou ao Chile", disse Veliz Rifo, um agricultor de 48 anos de La Tirana, povoado em uma espécie de oásis no deserto, 72 km a leste de Iquique, fazendo menção a uma informação falsa.

Publicidade

"O pior é que este governo do Chile deixou isso crescer, e os que chegaram não são refugiados políticos nem imigrantes que contribuem com seu trabalho, aqui chegaram muitos delinquentes", acrescentou, lamentando, assim como muitos manifestantes, o aumento dos assentamentos erguidos pelos imigrantes com caixas de papelão e folhas de zinco nos arredores desta cidade portuária a quase 2.000 km de Santiago.

Outros manifestantes pediam que os mais violentos respeitassem o ato pacífico, enquanto nos restaurantes do centro histórico garçons venezuelanos e clientes chilenos viam de longe a cena, que denominaram como "triste". 

"Nem todos os venezuelanos roubam, nem todos os chilenos nos odeiam", diziam em uma mesa do Café Francesco da Praça Prat.

O protesto ocorreu um dia depois do desalojamento da Praça Brasil, onde há um ano pernoitam os migrantes mais pobres e sem documentos que não conseguem chegar a Santiago e sobrevivem vendendo balas, pedindo esmolas ou limpando vidros dos carros nos sinais de trânsito da cidade.

Na operação policial, repudiada por autoridades locais e organizações humanitárias, Jeremy, um menino venezuelano de 4 anos, ficou 24 horas desaparecido. Ele era procurado na manhã deste sábado por carabineiros, que mostravam fotos da criança aos pedestres na praia. Finalmente, o menino foi encontrado. 

"Menos mau que encontraram o menino, mas isso resume a má gestão de todo esse drama humanitário. O governo pensa que é só deportar alguns e desalojá-los de uma praça", queixou-se Franklin Pérez, administrador de um prédio no centro de Iquique. 

O governador da região de Tarapacá, José Miguel Carvajal, culpou o governo do presidente Sebastián Piñera pela crise migratória no norte do país, queixando-se de que nem ele, nem o prefeito da cidade foram alertados do desalojamento da sexta-feira, que gerou o repúdio de uma parte da população. 

"As cem famílias na Praça Brasil hoje [sábado] estão perambulando em diferentes espaços públicos; estão se realocando com amigos, próximos, com quem vão se alojar novamente com barracas nas praias de Iquique, e outros estão se mobilizando para assentamentos em Alto Hospicio [zona industrial nos arredores de Iquique]", disse Carvajal. 

A colônia venezuelana é a mais numerosa do Chile, com mais de 400.000 pessoas, embora se estime um número muito maior devido ao aumento de entradas por corredores clandestinos desde 2020, quando o Chile fechou suas fronteiras por causa da pandemia.

Além disso, o governo chileno deu uma guinada em sua política de solidariedade com os venezuelanos, defendida pelo presidente Piñera em 2018, inclusive oferecendo vistos exclusivos para que os venezuelanos "tivessem oportunidades no Chile". 

Desde então, diminuiu drasticamente a aprovação de qualquer visto para quem viaja da Venezuela, depois veio o fechamento de fronteiras pela pandemia e muitos venezuelanos começaram a chegar após viverem por alguns anos na Colômbia, no Equador e no Peru. 

As chegadas de pessoas ao Chile por passagens clandestinas somaram 23.673 até julho, quase 7.000 a mais do que em todo o ano passado, segundo o relatório do SJM (Serviço Jesuíta aos Migrantes) no mês de setembro. 

pb/lm/mvv

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.