Bandeiras do Reino Unido são hasteadas na praça do Parlamento, em Londres
Neil Hall / EPA - EFE - 30.1.2020Mais de três anos depois de ser aprovado em um referendo, o Brexit se tornará realidade. A partir das 23h desta quarta-feira (31, 20h no horário de Brasília), o Reino Unido deixará de fazer parte da União Europeia.
Pela primeira vez em 47 anos, os britânicos estarão efetivamente fora do bloco que garantia livre comércio e livre movimentação para seus cidadãos com outros 27 países na Europa continental. Ainda é cedo para saber todas as consequências, no entanto.
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Pelos próximos 11 meses, o Reino Unido e a União Europeia vão manter as regras atuais e negociar um acordo comercial que irá valer para os anos seguintes. O futuro, no entanto, ainda é incerto tanto para especialistas quanto para brasileiros que vivem no país.
Para Demétrius Cesário, professor de Relações Internacionais da ESPM, o 'divórcio' entre Reino Unido e União Europeia reflete erros de ambas as partes, mas ao mesmo tempo uma tendência histórica.
"Acho que a União Europeia deixou de agradar os britânicos e poderia rever a forma como ela trabalha. Ao meu ver, não seria o melhor desfecho, o governo do (ex-primeiro-ministro britânico) David Cameron foi não negociar as reformas que o público no Reino Unido queria", explica ele.
Existe também uma tendência britânica ao isolamento, segundo o professor. "Muitos autores apontam para isso. Aconteceu no início do século 19, após as guerras napoleônicas, e durou quase 100 anos. Quanto mais organizada a Europa está, mais os britânicos tendem a se isolar", conta.
Outro ponto importante que ainda não foi resolvido é a respeito das duas Irlandas. No acordo aprovado pelos parlamentos britânico e europeu, foi retirada a garantia de que não seria fechada a fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido.
"A Irlanda talvez seja o maior problema. Muitos irlandeses votaram contra o Brexit e desejam permanecer na União Europeia. Assim como os escoceses. A Escócia pode, inclusive, pedir um novo referendo de independência", destaca Cesário.
O professor afirma que, entre os cidadãos, os mais vulneráveis serão aqueles que têm cidadania europeia. E isso inclui os brasileiros que têm algum passaporte europeu e, até que se defina exatamente as regras entre o Reino Unido e a UE, continuarão no país.
Para o analista financeiro Ernani Reis, o mercado financeiro ainda não sabe o que esperar de todo esse cenário. "Instabilidade econômica, multa bilionária (pelo acordo, o Reino Unido tem de pagar uma multa de 30 bilhões de libras ou R$ 170 bilhões pela saída) e a abertura de um precedente negativo para o bloco europeu estão entre as maiores preocupações neste momento", afirma.
O médico Daniel Rodrigues mora no Reino Unido há 9 anos e, recentemente, se naturalizou britânico. Em teoria, ele não será afetado com as possíveis mudanças que acontecerão depois que todas as regras da saída do bloco forem finalizadas, mas se preocupa com as possíveis consequências culturais disso.
"Meu maior temor é a piora da xenofobia. Depois que o Brexit venceu, começaram os episódios de violência fisica e verbal contra imigrantes aqui, foi normalizado. Então o medo de que uma hora aconteça comigo ou com a minha família é real", relata.
Esse problema, segundo Rodrigues, tem um recorte totalmente nacional, "Até mesmo europeus sofrem preconceito. Poloneses são extremamente mal tratados, por exemplo", explica ele.