Bernie Sanders já declarou que pretende continuar sua campanha até a convenção do Partido Democrata
REUTERS/Jonathan AlcornEleitores de seis Estados norte-americanos vão às urnas nesta terça-feira (7) para votar em seus pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos, o que está sendo chamada pela mídia do país como “a última superterça” das primárias. Do lado republicano, já está definido o milionário Donald Trump. Por isso, agora, as atenções estão voltadas para a disputa entre a ex-secretária de estado, Hillary Clinton, e o senador “socialista democrata”, Bernie Sanders.
Apesar de analistas darem quase como certa a vitória de Hillary, Sanders já declarou que não vai abandonar a corrida, e pretende continuar sua campanha até a convenção do Partido Democrata, que será realizada na Filadélfia entre 25 a 28 de julho. Assim como a opinião dos estrangeiros, os especialistas consultados pelo R7 também não acreditam que o senador consiga vencer a ex-secretária de Estado.
O professor de relações internacionais Daniel Coronato disse que a estratégia de Sanders é tentar conseguir uma vitória expressiva na Califórnia — Estado onde está em jogo o maior número de delegados das primárias de amanhã, 546 — para ultrapassar Hillary na quantidade geral de votos e mostrar aos superdelegados que ele é o melhor candidato em uma eventual disputa contra o republicano Donald Trump.
— Se fala muito que o Partido Republicano está dividido em torno do Trump, que é considerado muito radical, mas o Partido Democrata também está rachado. Tem dois projetos claramente diferentes ali — ainda que ambos sejam contra o Trump.
Mesmo assim, segundo Coronato, Sanders tem poucas chances de sucesso.
— Eu acho que ele vai conseguir chegar muito próximo dela na quantidade de delegados “convencionais”, e a disputa deve chegar na convenção com uma certa indefinição. Mas a Hillary é a candidata do partido, e mudar a preferência dos superdelegados é mudar a preferência da cúpula dos democratas, o que me parece improvável.
Coordenador do curso de relações internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, Gunther Rudzit, afirma que as propostas “socializantes” de Sanders vão em direção oposta dos valores dos norte-americanos, e, por isso, a leitura da cúpula dos Democratas é que uma eventual candidatura do senador seria mais frágil contra Donald Trump do que a de Hillary.
— Uso sempre o exemplo do Obamacare [sistema de saúde pública implantada durante a gestão de Barack Obama]. Olha a batalha que foi com o Congresso para conseguir aprovar um programa de saúde que não é nem totalmente de graça. Então, como defender em uma campanha nacional, por exemplo, um ensino superior gratuito? Se o Sanders continuar nesse discurso, vai afugentar muita gente, e aí joga os votos no colo do Trump.
Por outro lado, Rudzit declara que Sanders deverá tentar usar seu apoio popular para convencer os superdelegados de que ele é o mais preparado para a disputa do que Hillary.
— É uma coisa que o Bernie tem levantado bastante: que os superdelegados não representam os eleitores, só a máquina partidária. E de fato ele tem razão. A máquina apoia os Clinton.
De acordo com as regras da disputa pelo Partido Democrata, para um pré-candidato ser candidato à presidência deve obter o voto de 2.383 delegados na convenção. Esses delegados apoiam seus candidatos de acordo com os votos recebidos pelos mesmos em cada um dos Estados onde foram realizadas primárias. Se considerados apenas os delegados “comuns”, Hillary aparece pouco à frente de Sanders: ela tem 1.769, contra 1.501 do senador por Vermont.
Sanders deve pressionar Hillary a adotar programas
Mesmo sendo improvável uma nomeação na corrida à Casa Branca, Rudzit diz que Sanders deverá manter a estrutura de sua campanha nas ruas e continuar pressionando Hillary para que a candidata ao menos adote algumas de suas principais bandeiras.
— Ele sabe que o ensino gratuito não vai ser aceito, mas no mínimo o aumento do salário mínimo pode ser adotado como bandeira da campanha dela.
A polarização do eleitorado democrata e as altas taxas de rejeição à Hillary em determinados setores da sociedade, como entre as mulheres, fazem com que o apoio de Sanders à sua candidatura seja fundamental, caso se confirme o favoritismo da ex-secretária de Estado.
Na semana passada, a pré-candidata acenou para seu adversário ao declarar publicamente que sua campanha está em contato com a do rival para tratar “da unificação do Partido Democrata”.
Além disso, para o professor Coronato, o fato de Donald Trump ser o candidato republicano é um “fenômeno de arregimentação poderosíssimo”, que deverá fazer com que Sanders se convença a apoiar Hillary caso ela se comprometa a adotar algumas de suas bandeiras — inclusive restrições menores ao mercado financeiro.
— Há uma consciência coletiva de impedir que Trump seja presidente. Então não um hipotético apoio do Sanders à Hillary como uma mudança em seu discurso. Na política, muitas vezes, você não vota a favor de um projeto, mas sim contra outro.
Seguindo esse pensamento, o Rudzit afirma que um eventual convite de Hillary para Bernie ser seu vice-presidente significaria “a unificação do partido”. No entanto, essa possibilidade tem poucas chances de se confirmar, de acordo com o especialista.
— Ele já falou tão mal da Hillary durante a campanha, como ela vai aceitar sair com ele na chapa agora?
Passo a passo para à presidência
Ex-secretária de Estado conta com a simpatia maciça dos “superdelegados"
REUTERS/Jim BourgAté o momento, Hillary tem 543 superdelegados, contra apenas 44 de Sanders, segundo levantamento da Associated Press. Se somados com os delegados comuns, a ex-secretária de Estado teria 2.312 votos — apenas 71 a menos do que o necessário para conseguir a indicação.
No entanto, a ex-secretária de Estado conta com a simpatia maciça dos “superdelegados” — figuras que compõem a cúpula do Partido e costumam votar pelos candidatos que têm um perfil mais próximos dos interesses políticos e econômicos mais tradicionais — o chamado “establishment”.
Já Sanders, com suas propostas consideradas “socialistas”, como a proposta de aumento do salário mínimo, educação gratuita para todos e restrições ao setor financeiro, causa antipatia nos políticos, apesar do grande apoio popular que o candidato vem recebendo nas ruas.
* Colaborou: Luis Jourdain, estagiário do R7