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Venezuelanos reconstroem a vida em SP após fugir do colapso

As histórias de dois refugiados e suas famílias, em São Paulo há quase um mês, são um retrato da degradação social e econômica da Venezuela

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Robert Díaz veio para o Brasil com a filha, Isabela, e a esposa, Saray
Robert Díaz veio para o Brasil com a filha, Isabela, e a esposa, Saray Robert Díaz veio para o Brasil com a filha, Isabela, e a esposa, Saray

As histórias são semelhantes. Ambos viviam em regiões que eram consideradas ricas na Venezuela, um em área petrolífera, o outro em região turística. A crise trouxe desemprego, medo pelo futuro e fome. Eles venderam o que tinham e vieram para o Brasil. Agora, eles tentam reconstruir suas vidas em São Paulo, após fugir do colapso venezuelano.

Robert Díaz, 37, e Juan Velazquez, 34, estavam no grupo de refugiados venezuelanos que chegaram à maior cidade do Brasil em um voo da FAB, no dia 5 de abril.

Díaz trouxe a companheira, Saray Belandria e a filha Isabela, que hoje tem 4 meses. Velazquez conseguiu trazer o filho, Jhunior, de 10. A esposa ficou para trás, porque o filho mais novo, de 2 anos, não tinha documento com foto, necessário para entrar no Brasil.

Agora, os dois vivem na Casa do Migrante, instituição mantida pela Missão Paz, na região central de São Paulo, junto com 50 outros refugiados da Venezuela e dezenas vindos de outros países. Díaz tenta um emprego para poder sustentar a família na nova cidade. Velazquez sonha com o dia que vai conseguir trazer a mulher e o filho.

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'Meu país não era assim'

Nascido em Maturín, capital do estado de Monagas, no norte da Venezuela, região rica em petróleo, Robert Díaz nunca conseguiu fazer uma faculdade. Para ajudar a família, começou a trabalhar cedo e, durante muito tempo, trabalhou em um abrigo que atendia adolescentes com problemas familiares. Não era uma vida fácil, mas ele gostava.

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"Eu os ajudava a estudar, praticava esportes com eles. Tinha muito carinho. Depois, o abrigo que era do Estado, passou a ser administrado pelo município. Me mandaram trabalhar com crianças autistas. Aquilo era muito difícil, não estava preparado e saí. Mudamos para uma cidade pequena e foi lá que sentimos a crise bater forte", conta.

Caripito, que fica a cerca de 50 quilômetros ao norte de Maturín, começou a ter sérios problemas de desabastecimento em 2016. Segundo Díaz, praticamente nenhum alimento chegava à cidade. "Era muito difícil de achar até farinha para fazer pão", relembra. Por conta disso, resolveram voltar à capital no ano passado e, de lá, fugir para o Brasil.

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"Vendemos tudo o que nós tínhamos, a troco de nada, para poder sair de lá. Vendi meu celular e até um pedaço da casa da minha mãe. Mas era preciso. Minha filha não teria acesso a vacina nenhuma lá, só dava para encontrar no mercado negro. Juntamos tudo e fomos para Boa Vista, em Roraima", relata.

"Meu país não era assim%2C era bom viver na Venezuela"

(Robert Díaz, refugiado venezuelano)

Com pouco mais de R$ 120, enviados pela irmã de Robert, que mora no Uruguai, eles viajaram quase um dia de ônibus até a fronteira com o Brasil. Na capital de Roraima, chegaram a dormir alguns dias em uma barraca, na rua, até que uma família os ajudou. Conseguiram lugar em um abrigo e, quando surgiu a oportunidade de vir para São Paulo, ele aproveitou. Nesta semana, ele conseguiu obter a carteira de trabalho, e espera conseguir seu sustento em breve.

"Quero trabalhar, faço qualquer coisa. Vejo meu futuro aqui. Preciso mandar dinheiro para ajudar minha mãe e dar uma vida melhor para a minha família. Meu país não era assim, era bom viver na Venezuela, nunca se passou fome lá antes. Mas tudo foi piorando, é um atraso que vai levar anos para ser consertado", avalia Díaz.

'Agora estamos magros'

Juan Velazquez, e o filho Jhunior, no abrigo onde estão morando em São Paulo
Juan Velazquez, e o filho Jhunior, no abrigo onde estão morando em São Paulo Juan Velazquez, e o filho Jhunior, no abrigo onde estão morando em São Paulo

Os olhos de Juan José Velazquez se enchem d’água quando ele resume sua situação. Ele conseguiu chegar a São Paulo com o filho Jhunior, de 10 anos. A esposa ficou na Venezuela porque o filho menor, de dois anos, não tinha documento com foto, apenas a certidão de nascimento. Hoje, além de reconstruir sua vida, a luta é para, primeiro, ajudar a sustentar os dois e, eventualmente, trazê-los para cá.

"Antes da crise, estava tudo bem. Nós estávamos gordos de fartura, agora estamos magros de fome. É horrível ficar nessa situação. Meu filho está lá, desnutrido, passando necessidade junto com minha esposa. Quero a oportunidade de trazer os dois o mais rápido possível, essa é minha meta, eu faço o que aparecer", diz ele.

"Nós estávamos gordos de fartura%2C agora estamos magros de fome"

(Juan José Velazquez, refugiado venezuelano)

Velazquez é natural da Isla Margarita, que até poucos anos atrás era um dos principais pólos turísticos da Venezuela. Formado em design gráfico, perdeu emprego na área no início da crise. Passou cinco anos trabalhando como operador em uma central de táxi mas, para sustentar a família, ainda acumulava bicos em outros tipos de trabalho e aulas de música.

Ele toca percussão e trombone de vara, mas precisou vender todos os instrumentos para conseguir viajar para Roraima. A verba que recebeu da rescisão com a empresa de táxi, depois de cinco anos de trabalho, cerca de 600 mil bolívares, não chegava a cinco reais após a conversão. A empresa ainda pagou sua passagem de balsa para chegar até o continente.

“Na outra semana, consegui fazer um bico e ganhei 20 reais. Mandei tudo para eles. Aqui, pelo menos, tenho comida e onde ficar. Tenho sorte de ter conseguido sair, de ter os contatos que me ajudaram, mas meu sonho era que eles estivessem comigo”, lamenta.

Para conseguir melhorar sua situação, Velazquez conta que vai fazer um curso de português para estrangeiros, que começa em maio.

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