Suspeitos de saque são presos em um mercado em Vosloorus, no sul de Johannesburgo
Marco Longari / AFP - 13.7.2021Os saques e a onda de violência que sacodem a África do Sul há vários dias desde a prisão do ex-presidente Jacob Zuma já provocaram 72 mortes e continuaram nesta terça-feia (13), apesar da mobilização de soldados do Exército para as províncias afetadas.
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O primeiro-ministro da província de Gauteng anunciou que 10 pessoas morreram pisoteadas durante saques a um centro comercial em Soweto, no sudoeste de Johannesburgo.
"A polícia descobriu dez corpos na noite de segunda-feira, de pessoas que morreram durante um corre-corre", disse à imprensa o primeiro-ministro David Makhura, especificando que o total de vítimas fatais em Gauteng, província onde fica a capital econômica do país, Johannesburgo, chegou a 19 pessoas.
Mais cedo, Sihle Zikalala, primeiro-ministro da província de Kwazulu-Natal, no leste no país, região onde se originou a violência e local onde nasceu e vive Jacob Zuma, disse que 26 pessoas morreram ali. Ele afirmou que várias mortes ocorreram durante distúrbios, mas não especificou os locais.
O presidente Cyril Ramaphosa anunciou na segunda-feira o envio de tropas para auxiliar a polícia, sobrecarregada pelos protestos, e "restaurar a ordem".
Os primeiros incidentes, com estradas bloqueadas e caminhões incendiados, aconteceram na sexta-feira, um dia depois da prisão de Zuma, condenado a 15 meses de prisão por desacato à Justiça, após não colaborar com uma investigação sobre corrupção em seu governo.
Os atos de violência continuaram nesta terça, conforme constataram vários jornalistas da AFP, especialimente em Soweto, uma das regiões mais carentes a oeste Johannesburgo.
Pelo menos 1.234 pessoas já foram detidas, segundo a polícia informou nesta terça.
De manhã, em uma declaração otimista, o ministro responsável pelas forças de segurança, Bheki Cele, havia assegurado que a polícia iria garantir que a situação "não se deteriore ainda mais".
Pela manhã, dezenas de pessoas invadiram as câmaras frigoríficas do açougue Roots, na praça Diepkloof, em Souweto, e foram vistas saindo com pesadas caixas de carne congelada sobre seus ombros ou cabeças.
Um único segurança particular permanecia no lugar enquanto tentava falar com alguém ao telefone, possivelmente para pedir reforços. A polícia chegou apenas 3 horas mais tarde e disparou balas de borracha contra pessoas que estavam na praça.
Ao anunciar a mobilização de militares na noite de segunda, o presidente Ramaphosa disse que era "de vital importância restaurarmos a calma e tranquilidade sem demora em todas as partes do país".
"O caminho da violência, dos saques e da anarquia só vai levar a mais violência e devastação", disse. "O que estamos vendo agora são atos criminosos e oportunistas, com grupos de pessoas instigando o caos apenas para encobrir saques e roubos.
"Não há revolta ou razão política que possam justificar a violência e a destruição", afirmou Ramaphosa, enquanto seu prececessor, Zuma, passava a sexta noite atrás das grades.
O ex-presidente de 79 anos, que governou entre 2009 e 2018, foi condenado por desacato à Justiça no fim de junho pelo Tribunal Constitucional, a mais alta corte do país.
Na segunda-feira, o tribunal realizou uma cerimônia que durou mais de dez horas, na qual os advogados de Zuma pediram que a sentença seja revista. A corte afirmou que irá responder em uma data que ainda não foi determinada.