Ribeiro é formado em administração de empresas
Arquivo Pessoal / Maxsuel Vieira RibeiroNa primeira manhã em casa após passar quase 20 dias preso por um assalto que não cometeu, o motoboy Maxuel Vieira Ribeiro, de 35 anos, tenta se esquecer do que viveu no presídio.
— Foram 19 dias de terror. Horríveis. Cada dia aconteciam coisas diferentes e ruins. Estou um pouco perdido ainda e tentando voltar com a cabeça para o lugar.
Ribeiro deixou a prisão em Ipatinga, a 209 km de Belo Horizonte, nesta terça-feira (3), após a Polícia Civil concluir que ele não roubou duas pulseiras de uma pedestre na cidade vizinha de Santana do Paraíso. A corporação informou que vai divulgar os detalhes da investigação em breve.
O motoboy, que é formado em administração de empresas e nunca havia sido detido, foi abordado pela PM (Polícia Militar) enquanto levava o filho de uma cliente para a aula de futebol. Ribeiro lembra que ficou assustado com a acusação.
— Eu perguntava a Deus por que aquilo estava acontecendo. Por que a verdade não aparecia?
O assalto aconteceu no último dia 15 de julho. Na época, a polícia chegou até o suspeito por meio de uma gravação de circuito de segurança que o mostrava passando em local próximo ao do assalto.
— Eu passo por este local todos os dias para fazer as minhas entregas. No horário do crime, eu estava indo até a loja de um cliente.
Ribeiro tem medo de voltar a trabalhar como motoboy
Arquivo pessoalJuliana Bornaki, membro da equipe de advogadas que acompanhou o caso, explica que a Polícia Civil confirmou a inocência de Ribeiro após ter acesso a um outro circuito de segurança que mostra um suspeito com características mais próximas daquelas apontadas pela vítima.
— A própria vítima entrou em contradição duas vezes. Primeiro falou que o suspeito mede 1,80m e que a moto era preta. Depois, que o tamanho era de 1,70m e a cor cinza. O Maxsuel tem aproximadamente 1,60. Essas novas imagens mostram um homem negro de aproximadamente 1,80 em uma moto que parece ser azul.
A advogada também rebateu o argumento que foi preponderante para a delegada plantonista Amanda Morais pedir a prisão de Ribeiro: a convicção da vítima ao reconhecer o suspeito. A isto também se juntou o reconhecimento da vítima de outro roubo ocorrido no dia 6 de julho.
— Eles [os investigadores] colocam outros dois homens usando bermuda, com roupas bem diferentes, e o Maxsuel de calça jeans e camisa preta. É óbvio que a vítima ia reconhecê-lo já que ele usava as roupas parecidas com as que ela havia indicado.
Futuro
Em casa com a família, Ribeiro ainda não sabe se vai voltar a atuar como motoboy "por medo". Mesmo com a incerteza, ele celebra o apoio dos moradores de Santana do Paraíso que organizaram protestos por sua soltura e o receberam com festa na praça do bairro nesta terça-feira.
— Fui recebido pelos meus amigos e parentes. Desde que saí [da prisão] teve muita alegria, conversa e comemoração. Eu comi muito porque passei muita fome naquele local.
A advogada Angela Risi Rocha, que também atuou no caso, conta que a defesa vai avaliar o que pode ser feito para reparar o motoboy do sofrimento passado na prisão.
— Pretendemos acionar o Estado de Minas Gerais pedindo uma indenização. Foi muito problemático. Ele ainda está abalado. A privação de liberdade é uma questão muito grave. Para se privar a liberdade de alguém tem que ter um motivo muito forte.