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Quem matou Deborah Oliveira? Há 430 dias, a família da estudante de Sistemas da Informação faz essa pergunta. A jovem foi abusada e estrangulada em Itajubá, no sul de Minas, em agosto de 2013. Um andarilho foi preso injustamente, um colega virtual foi descartado e um assaltante está preso pelo crime - ele afirma que confessou sob tortura. Para a advogada da família da jovem, a polícia acoberta um homem importante que teria relação com o caso - o filho de um juiz da cidade teria envolvimento na morte da estudante. O Repórter Record Investigação desta semana revelou detalhes desta apuração. Acompanhe nas próximas fotos
Record Minas / Reprodução
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Deborah ia para a casa do pai, depois da universidade, quando foi filmada pela última vez. O corpo só foi encontrado no segundo andar de uma casa em construção com marcas de agressão, abuso sexual e enforcamento com um fio de telefone
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Benedito Mauro Divino, 24 anos, está preso pelo crime. Ele já tinha cinco condenações por furto. Em dois depoimentos gravados pela polícia, o homem conta como atacou a garota no meio da rua, invadiu a casa e praticou os abusos. Ele também afirma que a estrangulou. Um exame de DNA confirmou a participação dele no crime. A perita Eloisa Auler, entrevistada pela reportagem, entretanto, afirma que a amostragem não define a culpa de Benedito.
— Eu sou um monstro senhor.
Em entrevista exclusiva à Record, entretanto, Benedito diz que foi torturado.
— O delegado falou que eu tinha que assumir o crime e começou a me torturar. Me deram bicudo, murro, grudavam no meu pescoço e começavam a me enforcar. Levei até choque do detetive. Quanto mais eu negava, mais eu apanhava.
Os policiais acusados de tortura não quiseram gravar entrevista porque o inquérito já foi encerrado. Eles negam que tenham ocorridos abusos com o presoRecord Minas / Reprodução
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O pai de Benedito, João Divino, afirma que o filho não saiu de casa durante a saída temporária da cadeia. Ele ficou solto entre 10 e 16 de agosto de 2013 por causa da saída do Dia dos Pais - a garota foi morta no dia 14.
— Dormiu todos os dias comigo, claro. [Na noite do crime] ele estava em casa comigo. Ele roubava para [conseguir] maconha, pedra. Matar nãoRecord Minas / Reprodução
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Segundo a advogada Roselle Soglio, contratada pela família, a polícia tenta acobertar o filho de um juiz da cidade. Ela pediu para que ele fosse ouvido no processo, mas até agora isso não ocorreu. O filho do juiz é advogado do dono da casa onde a jovem foi encontrada morta.
— Enquanto a gente não tiver o inquérito eu não posso citar o nome. Essa pessoa foi relacionada por nós, da assistência da acusação. Foi pedido ao juiz que ela fosse ouvida no inquérito que corre em paralelo, mas até agora ela não foi ouvida. É uma pessoa bastante conhecida da cidade que começou a se defender mesmo sem ter sido citada formalmente no processo
A defensora também quer que o dono da casa explique como funcionava o acesso ao imóvel.
— Poderia explicar alguns fatos. Como por exemplo o acesso a essa casa, quem teria a chave.Record Minas / Reprodução
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Um juiz da cidade procurou a rádio Panorama para negar qualquer proteção a filhos de magistrados.
— Eu lanço um desafio para a população de Itajubá. Trazer uma prova, falando o filho do juiz fulano está envolvido. Que nós vamos tomar todas as providências, doa a quem doer. Isso e uma verdadeira maledicência. Isso é um pecado, pecado de pessoa covardeRecord Minas / Reprodução
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Exame de DNA de Benedito mostrou que o cromossomo Y encontrado é compatível com as marcas descobertas no corpo. Segundo Roselle, ele pode ter participado do crime, mas não seria o único envolvido
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Um jovem da cidade vizinha de Maria da Fé chegou a ser considerado suspeito por conta de mensagens trocadas por meio de um perfil falso com a garota. Ele tentava se aproximar de Deborah Oliveira, mas a jovem passou a ignorá-lo. O exame de DNA deu incompatível e a polícia descartou a suspeita. O jovem, que não quer ser identificado, questiona o que chama de perseguição da defesa:
— Quando aconteceu aquilo com a menina eu estava assistindo jogo, era Flamengo e Goiás. Aqui mesmo perto de casa eu fui taxado de assassino, estuprador. Se o delegado e o promotor falam que não sou eu, porque a Roselle fica insistindo? O que ela vai ganhar com isso?Record Minas / Reprodução
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Um andarilho que dormia perto da casa onde o corpo foi encontrado ficou preso injustamente durante um mês. Renato Custódio, 37 anos, teria sido torturado na delegacia, conforme uma cunhada.
— Ele estava na hora errada, no lugar errado. Ele contou que apanhou bastante na delegacia, que os policiais bateram nele. Ninguém deve pagar por uma coisa que não fez. Ele voltou mais perturbado.
O andarilho só foi solto após o exame de DNA constar negativoRecord Minas / Reprodução
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A mãe de Deborah, Elenizia Magalhães, acredita que Benedito não agiu sozinho.
— Está vendo uma história mal contada e o pessoal pega como se fosse enganar um criança. É óbvio que é mentira.
Ela se emociona ao falar da filha.
— As 24h do dia eu penso nela. Não tem como esquecer.
A irmã, Erika, resume a falta que a família sente.
— Era o sorriso mais lindo que eu já vi. Não porque era minha irmã, mas era um sorriso alegre, de uma pessoa puraRecord Minas / Reprodução