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A onda de lama contaminada da mineradora Samarco chegou ao oceano Atlântico no domingo (22) e mudou a paisagem da região. Em Linhares, no litoral do Espírito Santo, o mar ganhou uma mancha escura e densa, com aparência de leite achocolatado.
O estrago da maior tragédia natural brasileira ainda é incalculável. A lama chegou à costa capixaba no pico da época de desova das tartarugas. Especialistas estimam que o rio Doce poderá sofrer as consequências até o ano 3.000. "Seria como dizimar, de uma só vez, todo o Pantanal"23.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes
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A área afetada faz parte da Reserva Biológica de Comboios, uma área de proteção costeira usada para desova de tartarugas-marinhas, incluindo a tartaruga-de-couro, uma espécie criticamente ameaçada de extinção.
Segundo o biólogo André Ruschi, diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, no Espírito Santo, a descarga tóxica contaminaria, além de Comboio, outras duas Unidades de Conservação marinhas, Costa das Algas e Santa Cruz. Juntas, as três somam 200 mil hectares (2.000 km²) no oceano23.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes
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No domingo, pesquisadores do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) já recolhiam peixes mortos na desembocadura do rio. O trabalho continuou nesta segunda-feira (23) nas praias de Linhares.
A prefeitura interditou as praias de Regência e Povoação após a chegada da lama, espalhando placas ao longo das praias informando que a água está imprópria para o banho. Os dois povoados vivem da pesca e do turismo e têm as atividades prejudicadas com a água barrenta que avança sobre o mar23.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes
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O coordenador nacional do Centro Tamar-ICMBio, Joca Thome, sobrevoou a mancha no domingo à tarde e voltou para terra visivelmente emocionado.
— Nem sei o que falar. É terrível; uma calamidade. Parece uma gelatina marrom se esparramando mar adentro.23.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes
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A previsão do Ministério do Meio Ambiente, baseada em projeções feitas por uma equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), era de que a lama se espalharia por 9 km da costa do Espírito Santo. Mas os técnicos que estão acompanhando a chegada da mancha em Regência acreditam que a área afetada será muito maior. Isso porque ainda há muita lama para chegar ao mar
23.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes
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Analisando os animais manualmente, era possível ver claramente que suas guelras estavam impregnadas de lama, segundo relato da Agência Estado. Mesmo com os níveis de oxigênio da água dentro do normal, esse "entupimento" das brânquias impede os peixes de respirar e eles morrem asfixiados.
A mortandade de peixes, porém, é apenas "uma pontinha do iceberg", diz o biólogo Paulo Ceccarelli, do Cepta (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais), do ICMBio. O problema maior, e de mais longo prazo, é a extinção do plâncton e de outros pequenos organismos que formam a base da cadeia alimentar, que terá um efeito cascata sobre todo o ecossistema, impactando desde os herbívoros aquáticos até os carnívoros terrestresDivulgação
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Para piorar a situação, é época de desova no rio Doce, o que significa que, para cada peixe ovado que morrer, outras dezenas ou até centenas de peixinhos deixarão de nascer. E mesmo que nasçam, diz Ceccarelli, não haverá plâncton, algas ou pequenos crustáceos na água para eles se alimentarem. Sem peixes, faltará alimento para outros animais, como garças e lontras, e assim por diante.
— Cada vida que é extinta do ecossistema leva muitas outras junto.23.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes
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O Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do ES) informou nesta segunda que os peixes resgatados nos últimos dias do rio Doce “já não têm mais condições de contribuir para o repovoamento do Doce, de seus afluentes e lagoas próximas”.
“Esses organismos já estão debilitados pela condição severa da água misturada a lama de rejeitos e, provavelmente, não sobreviverão ao transporte e também à diferença de condições que encontrarão nas lagoas”, informou o órgão em nota22.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes
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A onda de lama percorreu 650 km de rio desde o rompimento da barragem de Mariana (MG), no dia 5. O desastre deixou 8 mortos identificados, 4 mortos não identificados e 11 pessoas desaparecidas.
Equipes do Tamar vinham retirando diariamente os ovos colocados pelas tartarugas na praia de Regência, numa média de 40 ninhos por noite. O local continuará a ser monitorado, para ver como as tartarugas reagem à presença da lama22.11.2015/REUTERS/Ricardo Moraes