Maxsuel foi reconhecido por vítima de roubo
Arquivo pessoalA Justiça de Ipatinga, a 220 km de Belo Horizonte, deve determinar a soltura, ainda nesta terça-feira (3), do motoboy e administrador Maxsuel Vieira Ribeiro, que foi preso no dia 15 de julho, acusado de roubar um cordão e uma pulseira de ouro de uma mulher de 40 anos. A delegada da Polícia Civil pediu a soltura do homem, "por entender que ele não é o autor do crime pelo qual foi acusado".
Maxsuel, que é negro e tem 35 anos, foi indiciado por roubo pela Polícia Civil após a conclusão do inquérito policial. O principal argumento para a prisão dele foi o reconhecimento pela vítima diante das autoridades.
A prisão injusta motivou um protesto na última quinta-feira (29), por familiares e amigos do motoboy, que vivia em Santana do Paraíso, a 240 km de Belo Horizonte. No dia anterior ele teve negado o direito de responder ao processo em liberdade.
Neste momento, de acordo com a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), ele está detido no Ceresp (Centro de Remanejamento de Presos) de Ipatinga.
Relembre o caso
O boletim de ocorrência indica que o motoboy e administrador Maxsuel Ribeiro foi preso após ser reconhecido pela mulher assaltada, uma secretária de 40 anos. Ela alegou que teve duas joias, avaliadas em R$ 40 mil, furtadas pelo homem. Na delegacia, os policiais acionaram a vítima de um outro roubo similar ocorrido no dia 6 de julho, em um bairro vizinho, em Ipatinga. Ela também confirmou que foi atacada pelo motoboy.
O administrador, que não tem nenhuma passagem pela polícia, negou os crimes e disse que não tinha conhecimento sobre os fatos relatados. As joias também não foram encontradas com ele.
De acordo com familiares de Maxsuel, ele estaria trabalhando na hora em que o crime foi registrado.
Em entrevista ao R7, a delegada Amanda Morais, plantonista responsável pela detenção de Ribeiro no dia 15 de julho, explicou que o reconhecimento feito pela vítima foi determinante para o pedido de prisão, mesmo diante da ficha limpa do suspeito.
— É atípico, mas não impede [a prisão de suspeito com bons antecedentes]. O que chamou atenção foi que a vítima foi muito convicta ao afirmar que foi este suspeito. Ele usava trajes parecidos com o indicado. Além disto, ele se contradisse em alguns momentos com a polícia.
Racismo
A Comissão de Direitos Humanos da ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais) enviou à Justiça, na última semana, um ofício questionando a prisão do motoboy.
O documento assinado pela deputada Andréia de Jesus (PSOL), presidente do colegiado, pede que o juiz responsável pela 2ª Vara Criminal de Ipatinga realize uma audiência de custódia, reveja a decisão que manteve o suspeito preso durante as investigações.
No texto, a parlamentar aponta suposta falta de "prova material para a comprovação de autoria" do crime. Andréia de Jesus pontuou questionamentos feitos pela família e pelos advogados do motoboy, que é formado em administração de empresas e nunca havia sido preso.
"Conforme consta no boletim de ocorrência, o assaltante descrito pela vítima seria um homem negro de 1,80m, enquanto o sr. Maxsuel mede apenas 1,60m; ademais, o assaltante teria cometido o crime de capacete, de modo que seria no mínimo insuficiente o reconhecimento dado pela vítima", destaca trecho do ofício.
A deputada também pontuou que documentos já apresentados pela defesa indicam que Maxsuel Ribeiro estaria trabalhando no horário próximo ao que o assalto teria ocorrido. Ao R7, Andréia de Jesus avaliou que o investigado pode ter sido vítima de racismo estrutural.
— Essa prisão, de um jovem negro, trabalhador, com residência fixa, sem antecedentes criminais e que não poderia ter sido reconhecido como autor de um crime que não cometeu é mais uma prova do racismo estrutural de nosso país. É inadmissível esse brutal encarceramento de corpos negros mesmo quando não existe nenhuma prova de crime. É a barbárie.