Militares estariam adulterando classificação de boletins de ocorrência
Record MinasUm policial militar denuncia que membros da corporação estariam adulterando boletins de ocorrência, no Estado de Minas Gerais. De acordo com o PM, a ideia seria mascarar a natureza dos crimes e reduzir os números da violência, pelo menos, no papel.
Em um dos boletins que a equipe de reportagem teve acesso, uma pessoa foi abordada por dois indivíduos, ao passar pela praça Ruy Barbosa. Segundo a vítima, um dos suspeitos sacou uma arma, enquanto o outro retirou, da cintura, uma faca e colocou o objeto na barriga dela. Apesar da ação descrita no relatório, o crime foi classificado como “outras infrações contra o patrimônio”.
O policial, que prefere não se identificar, disse que, há três meses, a equipe estaria sendo orientada, pelo alto comando da corporação, a realizar as mudanças. Segundo ele, os profissionais que não seguem as ordens, são transferidos de turno ou de local de trabalho, como forma de represália.
—Nós estamos sendo coagido,. A ordem vem de cima para baixo e chega através do coordenador do turno de serviço.
O jornalismo da Record teve acesso a uma carta de um oficial da Polícia Militar (PM), do interior de Minas, enviada a um delegado, demonstrando preocupação sobre como as ocorrências têm sido registradas. No documento, ele escreve: “Este procedimento, além de contrariar a Diretriz Integrada de Ações e Operações do Sistema de Defesa Social, proporciona um indicador divergente do real”. O militar que fez a denúncia ainda diz que as consequências podem ser graves.
— Não vai ter como a instituição mensurar onde esse crime está ocorrendo. Então não tem como ela empregar um policiamento naquele local para fazer a redução.
Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) apontam que, de janeiro a julho de 2015, foram registradas mais de 70 mil ocorrências de crimes violentos em Minas Gerais. No mesmo período deste ano, o número ultrapassou os 84 mil, o que representa um aumento de 18,6 %. Para Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da PM, os dados contradizem a denúncia. Ele ainda afirma que o registro de uma ocorrência é monitorado por vários oficiais.
— O mais importante são as peneiras de auditagem. Por mais que aja uma intenção de se colocar uma natureza equivocada, no momento em que se passa por essas peneiras isso é corrigido no decurso do processo.
Berlinque Cantelmo, diretor da Associação dos Praças dos Bombeiros e Policiais Militares (Aspra), acredita que tudo precisa ser investigado com rigor. Ele afirma, ainda, que a entidade vai acionar o Ministério Público para apurar as denúncias.
— Vamos nos utilizar os meios de representação para cobrar do Ministério Público, do comando da PM e da Comissão de Segurança Pública, que apurem efetivamente se essas práticas ainda estão acontecendo na polícia e se, efetivamente, se tornaram corriqueiras.
Veja mais: