Em entrevista à Folha, potiguar revelou detalhes da preparação para última etapa do mundial de surfe
Folha de PernambucoQuando pega a prancha e cai no mar, Italo Ferreira parece ligar o modo “elétrico”. A energia de quem se entrega 100% é refletida em aéreos e outras manobras que se tornaram marca registrada do estilo arrojado do surfista natural de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte. Após cinco anos no Championship Tour (CT), divisão principal dos eventos da Liga Mundial de Surfe (WSL), ele tem a chance de levantar seu primeiro título mundial.
“Hookie of the year” (estreante do ano) em 2015, ele chegou chegando ao CT, mas não conseguiu manter a pegada em 2016. Já em 2017, uma lesão logo no início do ano comprometeu toda a temporada. Italo, então, adotou o estilo foco total. E o trabalho mostrou resultado em 2018, quando faturou três etapas do CT e chegou a figurar no top 3, mas uma queda de rendimento nas últimas datas do tour acabou o jogando para a quarta posição.
Neste ano, dois títulos e outros dois vices colocaram Italo, mais experiente, aos 25 anos, novamente entre os candidatos ao título mundial, que começará a ser definido neste domingo (8), com a abertura do Billabong Pipe Masters, etapa derradeira do tour, no Havaí. A primeira chamada para avaliação do mar está prevista para as 14h30 (de Brasília).
Italo é o atual líder do ranking, posição conquistada após o bi na etapa de Portugal, em outubro, e depende apenas de si para faturar o Mundial. Essa briga tem ainda outros dois brasileiros como protagonistas, os paulistas Gabriel Medina, 25, e Filipe Toledo, 24, segundo e quarto colocados. Em terceiro está o sul-africano Jordy Smith, 31, e em quinto, mais distante na pontuação, mas ainda com chances matemáticas, Kolohe Andino (EUA), 25. Desses, só Medina já sentiu o gostinho de ser campeão mundial. E por duas vezes (2014 e 2018). Além de saber o caminho das pedras, Medina é um adversário que preocupa por se sentir muito à vontade em Pipe, onde tem um título e dois vices.
Italo tenta ser o primeiro atleta do Nordeste a se tornar campeão mundial. Para isso, terá que superar o retrospecto não muito positivo nos tubos do Havaí, onde passou da terceira fase somente uma vez. Para mudar esse cenário, traçou uma programação diferente neste ano. “Assim que acabou Portugal, embarquei para casa (Baía Formosa) e iniciei os treinos na parte física. Comecei o trabalho cedo para chegar ao Havaí bem e quase um mês antes do evento para treinar e me preparar psicologicamente. Eu não tive bons resultados aqui, como nunca tive na França e, neste ano, fiz final lá. Então é uma nova fase e acredito ter achado o equilíbrio que precisava. As horas dedicadas neste lugar estão me deixando mais confiante”, disse o potiguar, que aposta em momentos de lazer para dissipar a ansiedade e a pressão. “Ocupo a mente e me divertindo com namorada e amigos. Assim consigo me manter tranquilo e feliz. Também adoro ouvir música. Sempre vai existir pressão, independente da posição. Mas me sinto bem e feliz. E isso me deixa confiante demais.”
Matemática
A diferença entre os quatro primeiros colocados não chega a dois mil pontos. Para ultrapassar a pontuação atual de Italo, Medina e Filipinho precisam chegar até as oitavas, e Jordy até as quartas, enquanto Kolohe tem de ser finalista. Se Italo chegar às quartas, Kolohe sai da briga, Medina tem que ir às sêmis, Filipe precisa ser finalista, e Jordy campeão. Caso Italo chegue às semifinais, Medina terá que fazer final para conseguir o tri, enquanto Filipe e Jordy precisarão vencer a etapa. Se for finalista, o potiguar só não festejará seu primeiro caneco se a decisão for contra Medina ou Filipinho. Nesse caso, o vencedor em Pipe será o campeão mundial de 2019.
Olimpíada
Além do título, o trio brasileiro tem outra disputa em vista, pelas vagas do Brasil nos Jogos de Tóquio-2020, que marcará a estreia da modalidade em Olimpíadas. São apenas duas vagas, a serem destinadas aos dois melhores colocados. "Em algumas fases do ano conseguimos compartilhar momentos divertidos. Isso é bom às vezes. Agora, na reta final, não temos muito contato. É somente na água, quando estamos fazendo um freesurf", conta Italo sobre a relação com os adversários.
CT 2020
Pipe também definirá o top 34 para o CT 2020. Com o encerramento do Qualifying Series (QS), estão assegurados Jadson André (RN), Yago Dora (SC), Alex Ribeiro (SP), Miguel Pupo (SP) e Deivid Silva (SP). Fora Italo, Medina e Filipinho, Caio Ibelli (SP), em 16º, também está garantido entre os 22 melhores deste ano após os bons resultados na Europa. Quem está na zona de risco é Deivid Silva (PR), em 21º lugar, Peterson Crisanto (PR), em 22º, Willian Cardoso (SC), em 23º, e o cearense Michael Rodrigues, em 24º.
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