O balanço dos primeiros dez meses de governo informa que a equipe de Jair Bolsonaro tem vaga garantida no G4 que agrupa os times escalados pelos presidentes da República eleitos pelo voto direto ressuscitado em 1989. O time escalado por Fernando Collor de Mello foi merecidamente punido com o rebaixamento. Fernando Henrique Cardoso fez bonito ao apostar na geração de economistas, até então apenas promissores, que revolucionaram o combate à inflação com o Plano Real. As substituições escancararam as carências do elenco, mas o conjunto da obra colocou FHC anos-luz à frente de Collor.
Lula fez algumas escolhas corretas - Henrique Meirelles no Banco Central, por exemplo - até decidir transformar o ministério num ajuntamento de representantes dos bandos, disfarçados de partidos, que produziram o escândalo do mensalão e depois forjaram o maior esquema corrupto de todos os tempos. A safra de nulidades delinquentes foi tão portentosa que sobrou gente para infeccionar o segundo e o terceiro escalões, empresas estatais, fundos de pensão e centenas de salas do cofre ao alcance das gazuas federais. Começou com Lula o vergonhoso 7 a 1 contra o povo brasileiro que Dilma Rousseff consumou com a impetuosidade de centroavante rompedor.
Nestes dez meses, o desempenho da equipe ministerial justificou a confiança da torcida nos dois craques do time: Paulo Guedes e Sergio Moro. O artilheiro que comanda a área econômica exibe na sala de troféus a reforma da Previdência, a lei de liberdade econômica, acordos econômicos internacionais, além de outras conquistas — e está pronto para colocar em campo os avanços estruturais prometidos por todos os governantes desde Tomé de Souza. O ministro da Justiça e Segurança Pública, apesar da violência homicida dos adversários e da omissão repulsiva de companheiros de equipe, vai mostrando no combate às grandes organizações criminosas a extraordinária competência exibida no cerco aos corruptos da classe Executiva.
Sim, há titulares que falam mais do que jogam, outros que vivem chutando contra o próprio gol e alguns que parecem confundir a bola com o pau de escanteio. Mas revelações como Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infra-Estrutura, garantem a boa performance coletiva. A equipe de Dilma está para a de Bolsonaro como o Jabaquara esteve para o Santos de Pelé. E a diferença cresce exponencialmente quanto o quesito avaliado é a taxa de roubalheira. O ministro do Turismo, Álvaro Antonio, dificilmente escapará de disputar o campeonato da população carcerária. Mas o fato é que, dez meses depois da entrada do time em campo, nenhum dos escalados foi expulso por corrupção.
No mesmo período, Dilma foi forçada pela indignação nacional a livrar-se de cinco gatunos que presenteara com gabinetes no primeiro escalão. O desfile da bandidagem desempregada por safadeza explicita foi aberto em 7 de junho de 2011 por Antonio Palocci, chefe da Casa Civil. Prosseguiu em 6 de julho com Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes. A ele seguiram-se Wagner Rossi (Agricultura, devolvido ao lar em 17 de agosto) e Pedro Novais (Turismo, demitido em 14 de setembro). O cortejo de 1011 se encerrou com Orlando Silva, afastado das verbas do Ministério do Esporte em 26 de outubro.
Em matéria de ladroagem, portanto, a equipe de Dilma está perdendo por 5 a 0 da atual seleção. Não é pouca coisa. E a goleada será muito mais desmoralizante se o técnico e dono do time tiver juízo, tratar os craques com mais desvelo, livrar-se dos bisonhos incuráveis e, sobretudo, antecipar-se aos juízes no afastamento dos que vão tornando inevitável o cartão vermelho. Pense nisso, presidente. O Brasil que presta não merece decepcionar-se com quem escolheu para sepultar de vez a Era PT — a mais sórdida de toda a nossa história.