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Crescimento econômico deverá se manter distante da paz em 2018

Tendência é de que países busquem maior autonomia política

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky

Divergências têm favorecido conflitos locais
Divergências têm favorecido conflitos locais Divergências têm favorecido conflitos locais

Após um período de crise financeira, os ventos do crescimento econômico começam a soprar. O sopro teve início em 2017, impulsionado pela China, atravessando o continente, passando pela Europa e chegando aos Estados Unidos.

Neste percurso, eles balançam barcos de refugiados, entulhos de cidades em guerra na Síria e faixas de isolamento após atentados terroristas. Por isso a pergunta: os ventos do crescimento se transformarão em ventos da paz em 2018?

Por enquanto, algumas divergências entre as potências têm favorecido conflitos locais, como na Síria. Isso tende a se estender durante o ano. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, por exemplo, encerrou 2017 contrariando a expectativa da Rússia.

Ele afirmou que os planos das tropas norte-americanas são de permanecer no país árabe até serem "alcançados progressos no regulamento político" do conflito. O governo russo defende uma permanência restrita dos Estados Unidos, somente até a derrota dos grupos terroristas.

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Para o coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec no Rio de Janeiro, José Niemeyer, se ainda não é possível alcançar a paz, há neste ambiente uma retórica que, por um lado se assemelha à da Guerra Fria, mas, por outro, traz menos risco de uma guerra mundial ou nuclear.

Estados Unidos, Rússia, China, por exemplo, têm a consciência, segundo ele, de que um passo em falso pode causar uma destruição global e, por isso, evitarão colocar em prática suas ameaças belicistas. Essa segurança de que nada de pior irá acontecer, segundo o professor, deverá intensificar a busca de autonomia de vários países, inclusive da América do Sul, dentro de um multilateralismo ainda instável.

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— Neste cenário de multilateralismo ainda em construção, a tríade Estados Unidos, Rússia e China, por incrível que pareça, continua com relação similar à da Guerra Fria. Cada um está buscando sua autonomia externa, mas há algo diferente, porque o risco de uma guerra nuclear é bem menor. E como os países consideram difícil essa hipótese, eles estão aproveitando para buscar autonomia. Inclusive os da América Latina. Essa deverá ser a tendência para 2018.

Por autonomia, se entende utilizar-se de um certo crescimento para ampliar parceiros comerciais, fortalecer alianças e buscar investimentos de vários lados. Daí a face multilateralista deste contexto. Em geral, o chamado neoliberalismo tem propiciado essa situação, inclusive tendo já atraído a Rússia e a China, que mantêm um capitalismo dentro de seus regimes políticos específicos.

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Na opinião do economista Chau Kuohue, mestre em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas, a situação de lento crescimento, na Ásia, Europa e Estados Unidos continuará a prevalecer em 2018, com a China mantendo o maior ritmo entre as nações. O crescimento chinês, como vem ocorrendo nos últimos tempos, continuará pautado pela prioridade ao estímulo do mercado interno.

— A China não deverá apresentar novidades, a projeção é de que o crescimento continue porxímo de 6%, 7% (dos últimos anos). Nos Estados Unidos, a expectativa é de que o crescimento seja semelhante ao dos últimos três anos, com inflação baixa. A grande incógnita é em relação à taxa de juros, na sequência da Reforma Tributária do país.

Segundo ele, na pior das hipóteses, a reforma poderá trazer ganhos financeiros, mas diminuir os ganhos reais do país, ligados a emprego e a salários. O contrário seria possível também, com a melhor das hipóteses, que significa aumento do emprego, da renda e crescimento consistente das empresas.

— Tudo isso pode mexer na taxa de juros. Espera-se que o Federal Reserve aumente os juros quatro vezes durante o ano. E dependendo da intensidade, pode causar repercussões maiores ou menores no crescimento de países da América Latina, como o Brasil, e da Europa.

Todo esse entrelaçamento tem causado efeitos positivos, com a proximidade de acordos globais, como o do Mercosul com a União Europeia, e o fortalecimento de laços com o Reino Unido, mesmo com a quase certa implementação do Brexit. Até mesmo Rússia, China e Estados Unidos têm, apesar da retórica ameaçadora, limitado as hostilidades, cientes da importância econômica de cada um desses "players".

Para 2018, a projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) é de que o crescimento global seja de 3,7%. A entidade aumentou em 0,1% sua previsão anterior, devido ao crescimento da economia na Europa e no Japão, da recuperação dos Estados Unidos e dos índices estáveis da China.

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A retórica sem consequências maiores, portanto, permite uma certa autonomia dentro deste cenário de crescimento. Mas ela se limita quando a realidade do multilateralismo se impõe. É nessa brecha que os acordos são alcançados. Foi esse espaço de debate que permitiu a união de adversários contra o Daesh e, quem sabe, pode ser o caminho de uma negociação que leve à estabilidade e à tão sonhada paz na Síria e no Oriente Médio como um todo.

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