Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Documento inédito mostra manual da KGB para recrutar espiões

Guia descoberto por serviço europeu foi publicado em site americano

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

A sede da KGB abriga hoje o FSB e o SVR, em Moscou
A sede da KGB abriga hoje o FSB e o SVR, em Moscou A sede da KGB abriga hoje o FSB e o SVR, em Moscou

A KGB, principal organização de serviços secretos nos tempos da União Soviética, pode ter sido formalmente extinta, mas suas ações deixaram marcas até hoje. Um documento inédito, entregue pelo serviço secreto europeu, foi divulgado na quinta-feira (27) pelo site americano The Daily Beast, em artigo assinado pelo editor Michael Weiss. Trata-se de um manual secreto com técnicas de espionagem e orientações para recrutamento de espiões.

Muitas dessas técnicas, segundo o site, continuam a ser utilizadas pelo governo do atual presidente da Rússia, Vladimir Putin, um ex-oficial da KGB, e teriam sido utilizadas, de acordo com a publicação, para obter informações sobre as últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos, favorecendo o então candidato Donald Trump, vencedor do pleito.

O documento da KGB, datado de 1989 (final da Guerra Fria), tem 108 páginas e é marcado como "secreto" (em russo), recebendo o título de "Inteligência Política do Território da URSS". Em seu conteúdo há uma série de instruções para recrutamento e manutenção de agentes, estrangeiros que vinham para a URSS sem a intenção de ser recrutados e sem a menor ideia de que seriam.

Os recrutadores soviéticos eram orientados a "se aproveitar" de situações de vulnerabilidade dos viajantes, em geral empresários, acadêmicos, estudantes, profissionais liberais, entre outros. Eles abordavam indivíduos com problemas para resolver: uma violação aduaneira, um acidente rodoviário ou transgressão, ainda que involuntariamente, de alguma lei, entre outros exemplos.

Publicidade

Então as vítimas eram sutilmente abordadas e poderiam ser encaminhadas a trens, aviões e hotéis, para uma conversa e a consequente inclusão no quadro de espiões. Muitas vezes os conflitos eram criados, apenas para "fragilizar" os abordados e torná-los suscetíveis à estratégia.

O manual também traz técnicas de recrutamento de agentes em países estrangeiros e ensina a proteger os interesses da Rússia (então União Soviética).

Publicidade

O serviço de segurança europeu afirmou ao The Daily Beast que o documento, aprovado pela então PGU (Primeira Diretoria-Chefe) ainda é utilizado na Rússia, como um instrumento para algumas ações ditas clandestinas de Putin.

O veterano do Serviço Superior de Inteligência da CIA, John Sipher, ressaltou que o documento traz à tona algumas evidências, na opinião dele.

Publicidade

— Ler este documento me fez sorrir. É (comparável) ao livro The Sword and the Shield (A Espada e o Escudo, do arquivo do funcionário Vasili Mitrokhin), o livro básico da inteligência russa. Nos Estados Unidos, a espionagem sempre foi uma atividade pouco compreendida que ocorreu nas margens e nas sombras, sob o domínio da lei. Na União Soviética, a espionagem era central e era a lei.

Muitas dessas pessoas, caso cometessem alguma falha, mesmo involuntária, falando algo inadvertidamente em um Congresso, ou uma festa, ou até mesmo em uma conversa informal, poderiam passar o resto da vida sem verem suas famílias, isoladas.

Todas essas atividades da KGB foram propositalmente escondidas, segundo o livro The Future Is History, de Masha Gessen, durante o regime de Boris Yeltsin (1991-1999), após o fim da União Soviética. O objetivo era ignorar esse passado, para que a sociedade russa emergente não ficasse fragilizada com as descobertas. Muitos dos agentes, em vez de serem punidios pelo novo sistema, se inseriram nele e passaram a ocupar cargos importantes no governo e no empresariado.

A antiga KGB, que atuou entre 1954 e 1991, foi desmembrada no FSB (Serviço Federal de Segurança da Federação Russa), de segurança doméstica, e no SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), de abrangência externa.

Putin, por sua vez, já negou reiteradas vezes a participação da Rússia em qualquer eventual espionagem das últimas eleições americanas.

— Isso tudo é inventado por pessoas que se opõem a Trump para dar ao seu trabalho um caráter ilegítimo. As pessoas que fazem isso estão aplicando um golpe no estado da política doméstica (dos EUA).

Putin acusa EUA de tentar influenciar eleição de 2018

Por outro lado, independentemente deste documento da KGB, ele fala com orgulho de seus tempos de espionagem, ressaltando que, para qualquer espião clandestino, abrir mão de estar com a família, para ajudar à pátria, é um ato de extrema nobreza.

— O meu trabalho nos órgãos de espionagem exterior teve a ver não simplesmente com o SEE (Serviço de Espionagem Exterior), senão que, em particular, com a espionagem clandestina...Renunciar à vida habitual, aos familiares e amigos, abandonar o país durante muitos anos e dedicar toda a vida ao serviço da pátria é algo que nem todos são capazes de fazer.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.