A ativista Greta Thunberg
Sergio Perez / Reuters - 6.12.2019“Índio? Qual o nome daquela menina lá? De fora, lá? Greta. A Greta já falou que os índios morreram porque estavam defendendo a Amazônia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí. Pirralha”, disse o presidente Bolsonaro, na sua já típica saída do Palácio do Alvorada, referindo-se a Greta Thunberg, ícone da causa ambiental.
A imprensa caiu em cima, vendo nisso mais uma oportunidade de pintar Bolsonaro como um radical insensível ou algo do tipo. Mas a “lacrada” não encontra eco na população, ao menos não naqueles trabalhadores de carne e osso que não vivem na bolha “progressista”.
A primeira dificuldade, para muitos, será identificar quem é Greta. Sua fama repentina é produto artificial da mídia, fala ao mundo da ONU, da elite entediada que substituiu Deus por Gaia e jura não haver prioridade alguma além do combate ao iminente derretimento do planeta, o que é uma histeria alarmista sem fundamento científico. Isso num mundo com enorme miséria, terrorismo islâmico, metade da população brasileira sem saneamento básico etc. Mas a turma xiita do ecoterrorismo jura de pé junto que ou adotamos um governo mundial com fortes pitadas socialistas, ou o capitalismo vai destruir todas as calotas polares em menos de uma década.
Superada a barreira do “quem?”, o povo que conhece Greta e não pertence a essa bolha esquerdista vai concordar com Bolsonaro. Ora, onde foi que perdemos o juízo como sociedade a ponto de idolatrar uma fedelha de 16 anos que fala em tom macabro, apontando culpados por seus pânicos e cobrando medidas urgentes e drásticas de forma extremamente arrogante? Sou do tempo em que meninas de 16 anos tinham que estudar antes de dar aulas, especialmente sobre temas complexos como o clima.
Mas eis que a elite culpada encontrou em Greta um símbolo da “coragem”, só por ficar matando aula e se sentindo a maior vítima do planeta, sendo ela uma riquinha mimada criada em um dos mais prósperos países do mundo. É muita ingratidão mesmo, muita falta de noção e bom senso. E a culpa maior nem é dela, convenhamos, mas dos seus pais, que deveriam ser responsáveis e protegê-la, em vez de estimularem os holofotes da mídia, fazendo dela uma popstar explorada por poderosos interesses obscuros.
Sim, pois se ela estudasse mais em vez de subir em palanques para berrar, talvez soubesse que o ambientalismo se tornou um negócio bilionário, que gente como Al Gore acumulou rios de dinheiro com base nesse alarmismo infundado, que a hipocrisia pulula na elite que anda de jatinho particular e cospe no pobre coitado que não usa sacola ecológica ou bebe em canudinho de plástico.
A “pegada de carbono” só é problema nos outros, claro. No mundo da estética, tudo que importa são as aparências, a retórica, jogar para a plateia. E há um público ávido pela sensação de superioridade moral, de quem é “ecologicamente consciente”, sem precisar de fato fazer qualquer coisa concreta sobre o assunto. É pura sinalização de virtude, o mal da era moderna, alimentado pelas redes sociais.
O que Greta sabe dos povos indígenas brasileiros? Ela tem conhecimento de que cerca de 14% de todo o território nacional pertence aos índios, que a Funai está repleta de escândalos de corrupção, que lideranças indígenas muitas vezes exploram a população local em conluio com funcionários públicos e de ONGs que ignoram a letra N e vivem de verba estatal? Ela acha que índio quer apito apenas, quer ser uma espécie de mascote da elite entediada, que leu Rousseau e acreditou na falácia do “bom selvagem” e encara tribos como um zoológico humano, algo exótico e nada mais? Ela sabe dos problemas de alcoolismo nessas aldeias? Ela sabe quantos índios anseiam pelo progresso capitalista, que ela desdenha por ter como algo garantido, natural?
Antes de querer “salvar o planeta” seria melhor essa garotada ser obrigada pelos pais a arrumar o próprio quarto, ajudar a lavar a louça, desenvolver um senso de responsabilidade individual e, acima de tudo, de gratidão por tudo que possui, e que nossos antepassados sequer poderiam sonhar. Tudo fruto do capitalismo, do mesmo capitalismo que desprezam, do conforto capitalista.
A ativista vive na era mais saudável, rica, segura e pacífica que os seres humanos já conheceram. Ela é uma das pessoas mais sortudas que já viveram. Não obstante, sente-se uma pobre coitada, vítima de todos, no direito de gritar contra as autoridades, exigir dos adultos que “façam algo” pelo planeta. E é reverenciada por isso! Justamente por aqueles que deveriam coloca-la em seu devido lugar, explicar sobre a importância de buscar conhecimento e sabedoria antes de bancar a profetiza do universo.
Em certo sentido, Greta é mesmo uma vítima. Mas não dos capitalistas “malvados”, e sim de quem explora sua ignorância dessa forma, transformando-a em fantoche de uma causa ideológica fanática, e de seus próprios pais, que tinham o dever moral de evitar isso. Ela cresceu nesse ambiente paranoico, pessimista, que fala em fim do mundo iminente. “Pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas inteiros estão colapsando. Nós estamos no começo de um extinção em massa”, berrou a adolescente mimada em seu mais famoso discurso na ONU. E depois, com uma cara um tanto deformada pelo ódio, questionou: “Como vocês ousam?”
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, fez um duro discurso em seguida, contra aqueles que exploram a ansiedade de crianças sobre o futuro do planeta apenas para empurrar suas agendas politicas. Claro que mereceu bem menos destaque da mídia. Morrison condenou essa postura e disse que é preciso respeitar as paixões e as aspirações das gerações mais novas sem incutir nelas mais ansiedade para dividendos políticos. Acima de tudo, disse ele, “devemos permitir que as crianças sejam crianças, que adolescentes sejam adolescentes, enquanto os adultos trabalham em conjunto para fornecer soluções práticas para os problemas complexos envolvendo o futuro de todos.”
“Meu impulso é procurar sempre responder positivamente e incentivá-los. Fornecer contexto, fornecer perspectiva e, particularmente, gerar esperança”, disse o ministro australiano. “Concentrar suas mentes e direcionar suas energias para soluções práticas e comportamento positivo que lhes proporcionem resultados duradouros. Para incentivá-los a aprender mais sobre ciência, engenharia e matemática. Porque é por meio de pesquisa, inovação e empreendedorismo que o trabalho prático de gerenciar com sucesso nosso desafios ambientais, muito reais, é alcançado”, acrescentou. E concluiu: “Nossos filhos têm direito não apenas ao futuro, mas também ao otimismo”. Finalmente um adulto no local, não por acaso ignorado.
Devemos não só preservar as crianças como também evitar o monopólio dos fins nobres. Parar de comer carne, como propõe a menina, é algo que vai evitar uma catástrofe ambiental? A mocinha sequer denuncia a China, o país que mais polui no planeta. É mais fácil atacar os Estados Unidos e o capitalismo, não é mesmo? Greta encanta apenas quem não quer debater seriamente sobre meio ambiente. Ela seduz quem quer lacrar nas redes sociais, quem quer posar de bonitinho, moderninho e descolado. Ela é símbolo, somente, para quem vive no mundo da estética sem se importar de fato com os resultados concretos daquelas medidas propostas. Que adultos caiam nessa ladainha boba e infantil é realmente um espanto. Bolsonaro tem razão: é impressionante uma pirralha dessas ter tanto espaço na imprensa!
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