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Cultura do cancelamento é autoritária e antidemocrática

Como quase tudo que advém do discurso identitário, o justiçamento virtual traz em sua raiz uma patrulha ideológica capaz de destruir reputações

R7 Planalto|Marco Antonio Araujo, do R7

Cultura do cancelamento tem feito vítimas no mundo digital
Cultura do cancelamento tem feito vítimas no mundo digital Cultura do cancelamento tem feito vítimas no mundo digital

Uma nova onda do que aprendemos a chamar de “politicamente correto” traz em sua crista a cultura do cancelamento. Invenção de justiceiros norte-americanos, equivale a linchar virtualmente marcas ou pessoas que não se comportem dentro das regras definidas por esses imodestos guardiões da civilização ocidental.

Diferentemente da trollagem – que costuma descambar para insultos, difamações e grosserias – o cancelamento se propõe ser uma arma para os que buscam justiça social e ações responsáveis. Só falta combinar com quem discorda ou pratica outro tipo de superioridade moral.

Essa suposta voz dos fracos e oprimidos tem feito vítimas. Por ser um julgamento apressado, definitivo e de efeito fulminante (ou não funciona), é inevitável que ocorram erros e vidas humanas ou negócios legítimos se vejam acuados ou sumariamente destroçados.

Basta uma hashtag e um funcionário pode ser demitido, um produto ser desqualificado ou uma figura pública ser constrangida a se humilhar para ter a paz de volta.

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Como quase tudo que advém do discurso identitário, esse justiçamento traz em sua raiz uma patrulha ideológica, em que as regras de abordagem nem sempre são claras. Às vésperas de eleições, em um país perturbado por uma crise sanitária com consequências econômicas assustadores, temos o terreno fértil para ainda mais polarizações.

É intolerância, em resumo. Como se já não houvesse ódio suficiente gangrenando em redes sociais. Isso, definitivamente, é do que menos precisamos. O presidente do TSE, ministro Barroso, já propôs um necessário pacto de civilidade. Agressões só aprofundam a incapacidade do debate de ideias e de argumentos que se tornou marca de nossa sociedade.

Se não soubermos pousar nossas armas aos pés da democracia, do direito às diferenças, da autonomia de pensamento e das liberdades individuais, então o melhor é cancelar qualquer esperança de um país mais justo e plural. Menos hashtags, mais diálogo.

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