Na imagem, Randolfe Rodrigues e Renan Calheiros
Leopoldo Silva / Agência Senado / 19.05.2021O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou nesta sexta-feira (28) que os documentos e depoimentos dados até o momento "deixam claro que ocorreu grave omissão por parte do governo federal" no combate à pandemia de covid-19.
"Os documentos que chegam à CPI deixam claro e, sobretudo os depoimentos da Pfizer e do Butantan, que ocorreu grave omissão por parte do governo federal, sobretudo na atuação dos ministérios da Saúde e Relações Exteriores", afirmou Rodrigues.
A comissão, que teve a primeira sessão em 27 de abril, completou na última quinta-feira (27) um mês de trabalho. O objetivo do grupo de trabalho é investigar a atuação do governo federal no combate à pandemia da covid-19, em especial as ações relacionadas ao colapso do sistema de saúde de Amazonas, e os repasses de verbas federais a Estados e Municípios.
De acordo com o vice-presidente da CPI, os documentos e depoimentos apontam ainda para a atuação de um gabinete paralelo do Ministério da Saúde. "A notícia do vírus chega ao Brasil em fins de fevereiro, março de 2020. Com a chegada da notícia, existia na sociedade brasileira um claro consenso de que estávamos diante de um gravo desafio para a saúde pública e que teria contornos para toda a vida política, econômica e social", disse.
"Este consenso foi subvertido no dia 24 de março de 2020, com o pronunciamento do presidente da República dizendo que não passava de uma gripezinha o que estava acontecendo. A partir dali, houve uma fratura na sociedade e nos caminhos de enfrentamento da pandemia. A partir dali se instaurou uma espécie de comando paralelo ao enfrentamento da crise sanitária, e no nosso sentimento, existe até hoje", acrescentou.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que não tem pretensão de apresentar um parecer parcial, "porque o relatório preliminar só tem muito sentido quando você esgota um aspecto da investigação".
"Quando você não esgota, ou tem procedimentos democráticos a adotar, como ouvir o contraditório, é importante que siga o processo sem ansiedade, sem agonia, para que seja uma investigação correta, isenta, apropriada e do tamanho que a sociedade cobra de nós", avalia Calheiros.
Durante a coletiva de imprensa, o relator antecipou um item: "Se alguma coisa pudesse ser dita, como antecipação de tudo que até agora se observou, eu diria que nós já temos clareza absoluta, 100% de convicção, que muitas vidas poderiam ter sido salvas, se o governo tivesse adotado um comportamento público, com decisões lógicas, objetivas, em favor da ciência e em defesa da vida dos brasileiros", afirma.
"São poucas as constatações, mas uma constatação robusta é essa, que muita coisa daria sim para ser feita, objetivando salvar vidas. Se fosse o encaminhamento do governo fosse democrático, transparente, se tivesse envolvido os outros Poderes, mas o governo preferiu dificultar sua relação com outras Poderes, e passar a sociedade uma opinião de que a autonomia concorrente, dada pelo STF, teria sido uma autonomia contra o próprio governo e que, por isso, deixaria de fazer algumas coisas", completou.
"Tem requerimento aprovado. O que os governadores farão é escolha dos governadores. Eu particularmente acho que os governadores podem dar uma contribuição importante, na condição que for. Eles estão na ponta, enfrentando pandemia, e perguntar se tem coordenação nacional, se teve apoio recebido, enfim", disse Rodrigues.
O senador comentou, ainda, a ação protocolada no STF (Supremo Tribunal Federal) pela AGU (Advocacia-Geral da União) contra medidas restritivas impostas pelos governadores dos estados de Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Norte, como o lockdown e o toque de recolher, para conter a pandemia de covid-19.
"Ontem o (Jair) Bolsonaro acionou o STF contra três Estados e esse declarado confronto federativo que está em curso, acredito eu, que é importante ouvir os governadores, ou na forma como os requerimentos foram aprovados ou na forma que vier", disse.
Rodrigues e Calheiros visitaram na tarde desta sexta-feira (28) a sala-cofre do colegiado para analisar os documentos sigilosos recebidos até o momento. O espaço fica no andar térreo do Senado, seu acesso é restrito e sempre vigiado por câmeras.
"Para se ter uma ideia, o espaço de memória RAM anteriormente ocupada por outras CPI's era de 2GB. Para essa comissão, já estamos até agora, e temos mais informações a serem recebidas, 300GB de documentação entregue. Só recebemos até agora 10% do total. Para comparação, a CPI das Fake News tem 5GB de documentação catalogada", informou Rodrigues.
Os senadores que compõem o chamado G7, grupo dos parlamentares independentes e oposicionistas que tem a maioria na comissão, farão no próximo domingo (30) uma reunião via internet para discutir os próximos passos da investigação.
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