Vista da comunidade de Paraisópolis: falta de opções
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDOBasta entrar na área de comentários de notícias sobre a tragédia de Paraisópolis que vamos encontrar, com extrema facilidade, gente colocando nos jovens que morreram pisoteados a culpa pelas próprias mortes. É de uma perversidade assustadora, um sinal gravíssimo de que nossa sociedade está doente.
São muitos os aspectos envolvidos, de uma polícia claramente despreparada – que insiste em trocar tiros com bandidos sem respeitar protocolos de segurança básicos – à evidente falta de alternativas para o lazer da garotada de periferia.
O último degrau, o porão desse debate, é a baixíssima qualidade musical do funk, suas coreografias indiscutivelmente pornográficas, o lixo cultural de que se alimenta os meninos e meninas pobres deste pais. Isso é irrelevante em meio a tantos equívocos e carências.
É lugar comum e passa a impressão de sugestão demagógica (e inútil), mas nada disso vai mudar enquanto o país não investir em educação como se fosse uma questão de vida ou morte. E é.
Precisamos de escolas em período integral, para preparar essa juventude para o futuro – e mantê-las ocupadas e vivas. As crianças e jovens que morreram representam outros milhares que não têm opção, não têm trabalho, nem dinheiro no bolso, não têm para onde ir. Os pancadões são as únicas atividades que agregam, acolhem e permitem criar alguma identidade. É fácil entender o quanto são necessários.
Os meninos e meninas dos fundões de nossas metrópoles precisam de alternativas. Enquanto estas não vierem, eles vão continuar vivendo com o pouco que têm. E não podem morrer só por causa disso.
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