O preconceito contra a depressão continua mais resistente e nocivo do que a própria doença. Isso mesmo entre pessoas supostamente esclarecidas – que inclusive sabem o quanto o depressivo sofre com o estigma de preguiçoso, acomodado e derrotista. Mais grave, segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS): a desinformação é imensa entre os jovens, exatamente o grupo cuja taxa de suicídio vem aumentando nos últimos anos.
O levantando mostra que 39% dos adolescentes afirmaram que, caso recebessem o diagnóstico de depressão, não revelariam para familiares. Na faixa de 25 a 34 anos, o receio atinge níveis alarmantes: 63% das pessoas disseram que se abririam com parentes próximos por vergonha de admitir um quadro depressivo. E estar deprimido sem a ajuda da família é equivalente a dar um tiro na cabeça todo dia ao acordar.
Não bastasse, a depressão, conhecida como “mal do século”, isola o paciente e o afasta do convívio social. Não por acaso, é o principal motivo para licença-médica e o consequente afastamento do trabalho. Não é uma desconhecida.
Os fatos têm chegado ao conhecimento da população. Nesse ponto, a mídia tem feito seu papel de informar. É quase incompreensível o insistente tabu acerca desse transtorno psiquiátrico, de origem genética ou disparado por motivos externos, como crises, luto ou traumas. A mesma OMS avisa que pelo menos 30% da população mundial vai enfrentar algum episódio de depressão ao longo da vida.
É gente demais sofrendo em silêncio. Ou tendo de ouvir de amigos ou pessoas queridas que seus sintomas são “só” tristeza, indiferença e desânimo, “sinal de fraqueza”, pouca força de vontade ou desculpa para “chamar a atenção”.
Com o volume de conhecimento cientifico acumulado, os remédios disponíveis e os milhões de casos conhecidos só provam uma coisa: quem ainda vê a depressão com preconceito tem mais que arrumar um bom tanque de roupa suja, uma pilha de louça pra lavar ou um lote para carpir.