O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) criticaram as recentes citações de integrantes do governo Bolsonaro ao AI-5, o ato institucional mais duro da Ditadura Militar, que instituiu a censura e resultou na perda de mandatos de parlamentares, intervenções e tortura.
Na abertura do Seminário Política, Democracia e Justiça, realizado nesta terça-feira (26) na Câmara dos Deputados, o deputado Marcos Pereira repudiou as "sugestões autoritárias que vimos recentemente e que partiram de onde não deveriam partir":
— Não parece adequado que um parlamentar democraticamente eleito possa sugerir a volta de mecanismos de censura e de perseguição política. Não faz sentido nenhum. Muito me espantou e muito me consternou na manhã de hoje, quando abro a Folha de S. Paulo e vejo uma entrevista do ministro da Economia sugerindo a mesma coisa. Sugerindo a volta de mecanismos de censura e de perseguição política que nós do Brasil não podemos em momento algum aceitar. Não faz sentido uma pessoa declarar-se conservadora e afrontar as instituições.
O presidente Rodrigo Maia disse estar assustado com a polarização e com os extremos "se preparando para uma batalha campal e não para uma disputa eleitoral."
— Esse debate sobre a democracia é muito importante e não dá para usar a palavra AI-5 como se fosse bom dia, boa tarde. Parece que os extremos estão mais se preparando para uma batalha campal do que para um disputa eleitoral no futuro. E isso me assusta. Dá uma impressão de que o ex-presidente [Lula] estimula a manifestação nas ruas e o outro lado tenta se armar contra a manifestação nas ruas.
Em entrevista coletiva após a abertura do seminário, Maia disse que espera que a intenção do ministro Paulo Guedes não tenha sido a de sugerir a volta do AI-5.
— Tudo o que você tem dificuldade de explicar à sociedade é ruim. Espero que não tenha sido essa a intenção do ministro Paulo Guedes, mas gerou manchetes dos jornais brasileiros, gerando dúvida. Não podemos sinalizar para a sociedade que estamos querendo estimular uma batalha campal. Temos que estimular que todos estejam se preparando para uma disputa eleitoral em 2020 e 2022. Tanto o ex-presidente Lula quanto parte do governo ficam estimulando que manifestações venham às ruas e não que seja um movimento natural. E acho que isso não é o melhor caminho e, sim, que a gente continue fazendo debates de ideias.
Depois de Eduardo Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou sobre o AI-5 em Washington: "Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5."