Vozes que entoavam canções. Olhares que mostravam solidariedade. Foi assim que os nove missionários brasileiros deportados de Angola foram recebidos, na quarta-feira (12), no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
Obrigados a entrarem à força em um avião supostamente alugado pelo governo angolano, deixaram suas esposas e filhos para retornar ao Brasil. O sentimento era de muita tristeza.
Um dia antes, foram enganados. 34 deles foram convocados para comparecer à Procuradoria Geral da República. Parecia se tratar apenas de uma audiência, mas não era. Todos foram surpreendidos com um forte aparato policial e com a notícia de que seriam deportados.
Direitos Humanos, xenofobia e intolerância
De lá, nove missionários foram expulsos do país como se fossem bandidos. E o pior, sequer puderam questionar ou pegar seus pertences. Ficaram horas sem comer e tiveram que regressar ao Brasil sozinhos, sem suas famílias.
Uma ação arbitrária e que fere os direitos humanos. É assim que os especialistas têm analisado o caso. "É um absurdo tudo isso. É claramente uma perseguição. Há uma motivação nacionalista nessa decisão de expulsão e, para piorar, famílias estão detidas em Angola! Isso jamais poderia ter sido feito. Se um pai é deportado, por exemplo, a família tem que ir junto", explica o internacionalista, Pedro Rafael Azevedo.
Além disso, o cientista político e advogado especialista em direito público, Leandro Mello Frota, reforça que Angola cometeu crime de xenofobia, que é o preconceito por estrangeiros, e de intolerância religiosa. "Os missionários não tiveram direito ao devido processo legal. Nem de entender por que estavam sendo deportados. A forma como foi feita essa deportação retrata claramente o crime de xenofobia. A intolerância com a fé cristã também está em evidência", detalha.
Ambos os especialistas reforçam que o governo brasileiro precisa exigir que o Itamaraty intervenha nesse caso. "O Brasil deve chamar os embaixadores, tanto o brasileiro que está em Angola quanto o angolano que está no Brasil para que se esclareça o ocorrido", destacam.
Consequências para Angola
Além da urgência de o Itamaraty agir de forma efetiva no caso, os especialistas revelam as consequências dessa ação arbitrária. "O Brasil pode expulsar o embaixador e até mesmo acabar com todas as relações comerciais e políticas com Angola", afirma Leandro Mello Frota.
Tudo isso sem falar nos prejuízos econômicos que o país pode sofrer. Até mesmo a relação entre empresários e investidores com o país pode ser prejudicada. Naturalmente esses episódios não ajudam, uma vez que investidores precisam de estabilidade. "A partir do momento que o governo começa a perseguir pessoas que estão exercendo um trabalho, seja empresarial, missionário, o que for, gera um alerta para que outros investidores não façam investimentos naquele local. A confiança se esvai e é o que deve acontecer a curto prazo", pontua o internacionalista, Pedro Rafael Azevedo.
Ele também lembra que Angola é um país muito rico em petróleo e depende dele para sobreviver. "E é aí que o país também pode sofrer sérias consequências. Muitas construtoras fazem grandes operações ali, sobretudo em Luanda, na capital. Entendo que a alta do petróleo, que já vinha prejudicando a economia, somada a essa perseguição, vai piorar ainda mais o desempenho deles", observa.
O internacionalista compara as consequências da atitude do governo angolano com o que está acontecendo na Venezuela. "Lá, grande parte das empresas, grupos religiosos e meios de comunicação que começaram a ser perseguidos, abandonaram o país. E como a Venezuela está hoje? Nas sombras, em meio a uma crise e escassez generalizada".
Entenda o caso
Imagine você ter a sua empresa e, do dia para a noite, funcionários que foram demitidos por má-conduta se rebelarem e tomarem para si o seu local de trabalho. Ou então, pessoas que trabalharam na sua casa quererem morar na residência e expulsá-lo de lá porque "acham que é o certo a ser feito". Foi exatamente isso que aconteceu em Angola com a Igreja Universal do Reino de Deus.
Desde 2019, templos da instituição foram invadidos por rebeldes. Eles são ex-pastores angolanos que foram desligados pela prática de crimes. Para confundir a sociedade, espalharam informações acusatórias contra a Igreja e moveram ações. Só que esses ex-pastores sequer aguardaram os resultados das investigações. Eles invadiram, tomaram as igrejas. E não houve nenhuma ação por parte das autoridades de Angola.
Essa ausência de atitudes possibilitou que os crimes continuassem a ser praticados. Até mesmo documentos públicos foram fraudados para tentar expulsar a Igreja do país.
"A Universal faz ações importantes para a recuperação das pessoas. É uma instituição séria. Acredito que a própria população de Angola vai rejeitar quem tomou para si os templos. E nós, enquanto nação, precisamos lutar para proteger os brasileiros que foram injustiçados e cobrar respostas", conclui o internacionalista, Pedro Rafael Azevedo.