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Medo e abandono: após anúncio de Putin, brasileiros clamam por ajuda para sair da Ucrânia

A indicação das autoridades locais é que eles tentem chegar às fronteiras por conta própria e procurem pela embaixada local

Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury

Dez horas da noite, toque de recolher, luzes apagadas. Nesse momento, enquanto João e Marilena dormem, meu cunhado, Guilherme Donadio, fica acordado olhando pela janela para tentar reconhecer qualquer tipo de ataque russo à cidade onde mora, Lviv, localizada no oeste da Ucrânia. "Não sabemos o que pode acontecer nas próximas horas ou minutos", conta.

Ele está em seu apartamento com os pais, João Batista e Marilena Donadio, que viajaram até lá para conhecer a neta. "Eles chegaram há um mês e aparentemente estava tudo bem, não imaginávamos que aconteceria esse absurdo. Minha filha, Sofia, tem apenas 1 mês de vida. Ela e minha esposa, Oksana, estão em um vilarejo próximo."

João Batista e Marilena foram à Ucrânia para conhecer a primeira neta e estão sem alternativas para retornar ao Brasil de forma segura
João Batista e Marilena foram à Ucrânia para conhecer a primeira neta e estão sem alternativas para retornar ao Brasil de forma segura João Batista e Marilena foram à Ucrânia para conhecer a primeira neta e estão sem alternativas para retornar ao Brasil de forma segura

A permanência deles no local se dá porque meus sogros precisam voltar para o Brasil, mas ainda não conseguiram encontrar uma solução. "Não há combustível nem orientação definitiva da embaixada, estamos sem saber o que fazer. Uma hora falam que mandarão um ônibus, depois dizem para eles tentarem sair por conta própria e agora orientaram pegar um trem, o que está impossível aqui onde estamos", acrescenta.

Em Lviv, por enquanto, não aconteceram atentados. "A cidade se tornou o foco de migração do restante do país, onde famílias inteiras abandonaram sua casa para simplesmente sobreviver", lamenta Guilherme.

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A situação de Juninho Reis, jogador do clube de futebol ucraniano Zorya, não está diferente. Sem apoio para sair do país, ele, a esposa, Vitória Magalhães, e a filha de 3 anos andaram por mais de 60 km na tentativa de atravessar a fronteira, mas não conseguiram. "Não recebemos nenhuma ajuda quando chegamos perto da Polônia e tivemos que voltar para Lviv. Passamos muito frio, minha esposa está com fortes dores. Estamos nos sentindo abandonados", desabafa.

Ambas as famílias clamam por ajuda. "Não vamos desistir de tentar voltar para o nosso país", afirma o jogador. Já Guilherme diz que não quer que os pais saiam da Ucrânia sem segurança. "Minha maior preocupação é que eles não recebam atendimento imediato assim que cruzarem a fronteira."

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Guilherme está tentando ajudar os pais a retornar para casa, mas decidiu ficar no país com a esposa, Oksana, e a filha do casal, Sofia
Guilherme está tentando ajudar os pais a retornar para casa, mas decidiu ficar no país com a esposa, Oksana, e a filha do casal, Sofia Guilherme está tentando ajudar os pais a retornar para casa, mas decidiu ficar no país com a esposa, Oksana, e a filha do casal, Sofia

Dias difíceis

A Ucrânia vem sendo atacada pelo exército de Putin desde a última quinta-feira (24). As tropas russas seguem tentando dominar a capital Kiev e a segunda maior cidade do país, Kharkiv.

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Infelizmente, explosões também são registradas em outras regiões do país, mas os ucranianos resistem. O presidente Volodymyr Zelensky e centenas de cidadãos estão na linha de frente, junto com o exército.

Diante deste cenário, o povo e seus líderes que deixaram suas casas para defender seu país estão ensinando uma grande lição. 

"A resiliência, união, coragem e garra para defender a nação é muito emocionante. Estou vendo empresas deixarem lucros e interesses de lado, homens e mulheres se voluntariando para lutar contra os invasores, além de doações, mobilizações em massa para patrulhar as cidades, entre muitos outros exemplos que provam que este povo não vai desistir", destaca Donadio. Ele decidiu que depois que conseguir encaminhar os pais de volta para o Brasil permanecerá na Ucrânia com a esposa e a filha.

Ajuda de outros brasileiros

Enquanto milhares de pessoas tentam cruzar as fronteiras por conta própria para fugir da guerra e buscam incessantemente ajuda diplomática, um grupo de brasileiros decidiu se reunir para ajudar.

"Estou coordenando informações para transportes internos, acesso a locomoção nas fronteiras e traduções. Faço isso de forma online e dou suporte aos voluntários que estão em campo", detalha a terapeuta Lorena Barros.

O jogador Juninho Reis e sua família andaram mais de 60 km e não receberam ajuda para cruzar a fronteira com a Polônia
O jogador Juninho Reis e sua família andaram mais de 60 km e não receberam ajuda para cruzar a fronteira com a Polônia O jogador Juninho Reis e sua família andaram mais de 60 km e não receberam ajuda para cruzar a fronteira com a Polônia

Ela faz parte das mais de 450 pessoas reunidas em um grupo de Telegram intitulado Frente Brasuca, que visa auxiliar aqueles que querem sair do país. "Reunimos informações, alugamos carros para ir até as fronteiras, organizamos pessoas para levar alimentos, água e outros tipos de auxílio. Queremos que esse pesadelo acabe logo. Mas precisamos que as fronteiras estejam abertas para que consigamos proteger as pessoas", conclui a voluntária.

A embaixada brasileira na Ucrânia está enviando orientações via Telegram e afirma que está buscando alternativas para auxiliar a população. Mas, até agora, a indicação é que os brasileiros cheguem às fronteiras por conta própria.

Motivos injustificáveis

As razões para a guerra entre Rússia e Ucrânia são bastante complexas. Em linhas gerais, a Ucrânia fazia parte da União Soviética, porém em 1991 declarou sua independência. Desde então, busca autonomia junto ao Ocidente, incluindo seu ingresso na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma espécie de aliança militar entre países — o que desagrada muito Vladimir Putin.

Além disso, em 2014, Donetsk e Lugansk, províncias de Donbass, com população majoritariamente de etnia russa, declararam independência da Ucrânia, iniciando, com isso, uma série de conflitos no leste do país.

Fumaça e chamas no horizonte durante bombardeio à capital da Ucrânia, Kiev
Fumaça e chamas no horizonte durante bombardeio à capital da Ucrânia, Kiev Fumaça e chamas no horizonte durante bombardeio à capital da Ucrânia, Kiev

Nesse cenário, nos últimos dias, com rumores de uma possível guerra, há um ator que minou qualquer possibilidade de chegar a um acordo diplomático: Joe Biden. Preferiu instigar e investiu pesado na provocação a Putin.

Com isso, o presidente russo aproveitou a ocasião e reconheceu a independência das duas regiões na segunda-feira (21). Poucos dias depois, invadiu a Ucrânia com a justificativa de que precisava "desmilitarizar, desnazificar o país e defender as reivindicações territoriais".

Ucrânia e Rússia estão discutindo a possibilidade de uma reunião para negociar um cessar-fogo. Em contrapartida, Putin continua com os ataques e ainda declarou que vai pôr a força nuclear estratégica da Rússia em alerta máximo.

Um confronto que infelizmente só revela quanto o ser humano, apesar de tantos avanços, pode ser retrógrado, cruel e impiedoso. Os anos passam, mudam-se os algozes, mas o enredo segue o mesmo.

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