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Motivados pelo aumento da tarifa do transporte público, no começo de junho, jovens iniciaram uma onda de protestos em São Paulo exigindo “passe livre”. Naquele mês, o Brasil iria viver a maior manifestação popular de sua história. O movimento se expandiu e tomou as ruas de cidades por todo o País, com uma vasta pauta de reivindicações, em especial o combate à corrupção. Com rostos cobertos ou pintados, manifestantes caminharam por quilômetros para deixar claro às autoridades que estavam insatisfeitos. A maioria dos atos teve episódios de depredações e a polícia reagiu com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha
Cris Faga/ Fox Press Photo
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Na capital paulista, no dia 11 de junho, um protesto do MPL (Movimento Passe Livre) caminhou para o terminal Parque Dom Pedro 2º, no centro da cidade, onde houve confronto com a Polícia Militar e, em seguida, uma série de atos de vandalismo. Ônibus foram danificados, pelo menos duas pessoas ficaram feridas e três foram presas. Alguns manifestantes quebraram lixeiras, pontos de ônibus, vidros e agências bancárias, entre a praça da Sé e a avenida Paulista. A partir daquele dia, as manifestações começaram a ganhar repercussão
Rodrigo Paiva/Estadão Conteúdo
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Acompanhando cada passo dos manifestantes, estavam os jornalistas, que também foram alvo de violência. A Polícia Militar foi amplamente criticada após repórteres serem vítimas de golpes de cassetete, balas de borracha e spray de pimenta, além de detenções sem justificativa. O repórter do R7 Fernando Mellis foi agredido por um policial no centro da capital, no dia 11 de junho. Dois dias depois, Guiliana Vallone, da TV Folha, levou um tiro de bala de borracha no olho, na região da avenida Paulista. O fotógrafo Sérgio Silva perdeu um olho pelo mesmo motivo. Piero Locatelli, da revista Carta Capital, foi detido porque carregava uma garrafa de vinagre. Pedro Nogueira, do Portal Aprendiz, ficou preso por quatro dias. Outros jornalistas também foram alvo das ações policiais naquela noite
Montagem/Estadão Conteúdo/R7
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O número de manifestantes foi crescendo e os protestos, se espalhando pelo País. No dia 20 de junho, a avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, foi tomada da Candelária até a prefeitura. O protesto aconteceu um dia após as autoridades do Estado anunciarem a redução do preço das passagens. Milhares de pessoas participaram do ato, pacificamente, pedindo redução dos gastos com a Copa do Mundo e melhorias nas áreas de saúde e educação. A passeata acabou em confronto com a polícia, deixando mais de 40 feridos
Ernesto Carriço
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Os excessos da Polícia Militar do Rio também foram temas de protestos e cobranças por justiça nas redes sociais. Muitos atos de violência foram fotografados ou filmados por jornalistas ou manifestantes e postados na rede. Na foto acima, clicada em junho, uma mulher foi alvo do spray de pimenta de um agente. Além disso, circularam na internet vídeos em que policiais tentavam incriminar um jovem com um morteiro, jogando objetos contra os manifestantes e uma foto em que um agente segura um cassetete quebrado com a legenda “foi mal fessor”
Vitor R. Caivano/AP
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A quinta manifestação organizada pelo MPL (Movimento Passe Livre) reuniu mais de 100 mil pessoas na noite de 17 de junho. Até então, o foco do ato ainda era a redução do valor da passagem, de R$ 3,20 para os R$ 3 anteriores. O protesto começou no largo da Batata, zona oeste, e se dividiu. Parte do grupo foi para a avenida Paulista. O restante fechou a marginal Pinheiros e caminhou em direção ao Palácio dos Bandeirantes — sede do governo do Estado —, onde a PM usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar um grupo de pessoas que tentou forçar o portão e pichou muros
Filipe Araújo/ Estadão Conteúdo
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Algumas manifestações terminaram em morte. Na noite do dia 20 de junho, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Marcos Delefrate, de 18 anos, e outras 13 pessoas foram atropeladas por um empresário que dirigia um carro importado. O jovem não resistiu. No mesmo dia, a gari Cleonice Vieira, de 54 anos, também morreu ao se assustar com as bombas jogadas pela PM, em Belém (PA). A família disse que a vítima era hipertensa e teria ficado muito nervosa
Luis Cleber/Estadão Conteúdo
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Os protestos na capital mineira, que chegaram a mobilizar até 20 mil pessoas nas ruas, foram caracterizados pela intensa repressão policial e furos dos bloqueios da Tropa de Choque da PM no entorno do estádio do Mineirão. Bombas de gás e tiros de borracha, disparados até de helicópteros, causaram confusão e correria entre os manifestantes
Mídia Ninja/Divulgação
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Nos dias 20 e 22 de junho, durante jogos da Copa das Confederações, a Polícia Militar entrou em confronto com manifestantes que tentavam chegar à Arena Fonte Nova. Durante o jogo Uruguai e Nigéria, houve quebra-quebra na avenida Joana Angélica. Um grupo chegou a usar banheiros químicos como escudos. Dois dias depois, durante a partida Brasil e Itália, houve mais confusão nas proximidades do estádio e um ônibus foi incendiado
José Patrício/Estadão Conteúdo
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Em Fortaleza (CE), uma manifestação antes da partida Brasil e México durante a Copa das Confederações também terminou em confusão nos arredores da Arena Castelão, no dia 19. O protesto, convocado pelo Facebook, criticava os gastos para a Copa do Mundo
Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo
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Em Brasília, a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional foram tomados por mais de 7.000 manifestantes, no dia 17 de junho. Um grupo ocupou a marquise do Parlamento e gritava, lá do alto, palavras de ordem. Naquela noite, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 37 foi criticada, assim como os altos investimentos na Copa do Mundo e das Confederações. Houve confronto entre manifestantes e a Polícia Militar
Andre Dusek/Estadão Conteúdo
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Três dias depois, após furar o bloqueio policial, um grupo de manifestantes invadiu o Palácio do Itamaraty — sede do Ministério das Relações Exteriores. Parte deles conseguiu entrar no prédio e chegou ao segundo andar. Outros ficaram no espelho d’água. A Polícia Militar precisou usar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão
Andre Dusek/Estadão Conteúdo
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Fortalecidos durante a onda de manifestações, o grupo Black Bloc passou a liderar atos próprios. Black Bloc é o nome dado a uma estratégia de manifestação e protesto anarquista, na qual pessoas que têm afinidades, mascaradas e vestidas de preto, se reúnem durante as manifestações. Os atos que se seguiram não chegaram à dimensão dos primeiros e foram marcadas por atos de vandalismo. No Dia dos Professores, 15 de novembro, eles provocaram confusão em São Paulo e no Rio de Janeiro
Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo