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Em 2013, muitos líderes provocaram mudanças em seus países que ultrapassaram as fronteiras e trouxeram consequências globais. Medidas de igualdade melhoraram a vida de cidadãos, enquanto outras nações fizeram o caminho contrário e insistiram na intolerância. Foi também o ano em que a insatisfação popular tomou conta das ruas e interferiu diretamente nos governos.
Relembre, a seguir, as 13 decisões que mudaram o mundoMontagem R7
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1. Cuba aberta a mudanças
Janeiro
Símbolo da resistência ao capitalismo, Cuba, cuja revolução socialista completou 60 anos em 2013, teve um ano movimentado por decisões de abertura econômica, cultural e também digital. Já em janeiro, o governo da ilha colocou em vigor uma esperada reforma migratória que acabou com restrições impostas há décadas e que dificultavam as viagens de cidadãos ao exterior.
Com isso, para viajar, os cubanos precisam apenas apresentar seu passaporte, o visto exigido pelo país de destino e uma passagem para pegar um avião e sair da ilha. O tempo de um cubano no exterior por motivos particulares também foi expandido, de 11 para 24 meses, e a entrada temporária de emigrados, inclusive daqueles que deixaram o país "ilegalmente", também ficou mais fácil04.10.13/CUBA-REFORM THEATERS/ REUTERS/Desmond Boylan
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Meses depois, o governo de Raúl Castro anunciou a unificação das moedas do país: os pesos cubano e conversível, que circulam em Cuba há 19 anos.
Outro passo importante foi a abertura de cibercafés, a medida principal de uma decisão política de aumentar o acesso à infraestrutura digital.
E, em dezembro, o governo do presidente Raúl Castro derrubou uma proibição que já durava 50 anos, liberando a importação de carrosAP Photo/Ramon Espinosa
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2. Acordo de livre comércio entre UE e EUA
Em andamento
Responsáveis por 49% do PIB global e por 31% das trocas comerciais, a União Europeia e os Estados Unidos estão prestes a criar a maior área de livre comércio do mundo. As duas maiores potências econômicas internacionais se aproximam para eliminar as tarifas sobre exportações e reconhecer as normas e padrões técnicos e sanitários de todos os produtos que comercializam. Essa medida reduz os custos e, consequentemente, aumenta o rendimento dos negócios.
UE e EUA argumentam que a iniciativa também fortaleceria o comércio internacional como um todo, já que ambos são parceiros comerciais de praticamente todos os países do mundo.
Na prática, as nações que exportam para o bloco europeu e os americanos teriam de adaptar seus produtos a um único conjunto de normas e padrões, o que reduziria burocracia e custos. O acordo, porém, é preocupante para o Brasil, que corre o risco de ficar isolado no cenário mundial caso a União Europeia não feche o tratado com o MercosulSébastien Bertrand/Wikimedia Commons
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3. Casamento gay no Uruguai
Abril
Depois do exemplo argentino, o Uruguai passou a permitir, legalmente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Argentina foi a primeira nação da América do Sul a aprovar uma lei semelhante, em 2010.
Na América Latina, a união de homossexuais já era autorizada na Cidade do México desde 2009. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal reconheceu em 2011 a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Também neste ano, o Havaí se tornou o 15º Estado norte-americano a aprovar o casamento gayAFP PHOTO/Miguel ROJO
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4. Casamento gay na França
Maio
O casamento gay também se tornou uma realidade na França, para o descontentamento dos opositores, que organizaram inúmeras manifestações nos últimos meses para evidenciar sua reprovação à medida. Os protestos incentivaram as agressões homofóbicas pelo país. Segundo a SOS Homofobia, entre janeiro e março deste ano, o número de telefonemas de homossexuais que relatam ser vítimas de insultos ou agressões triplicou em relação ao mesmo período do ano passado na França. Na foto, manifestantes antigays protestam contra uma suposta "famíliafobia" do governo15.12.13/MARTIN BUREAU/AFP
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5. Presidente Mursi é deposto no Egito
Julho
Depois de intensas manifestações populares, no dia 3 de julho, as Forças Armadas do Egito depuseram o presidente Mohammed Mursi, eleito democraticamente há um ano, e suspenderam a Constituição, um movimento que voltou a deixar o país rumo ao desconhecido.
Depois de seis meses no poder, Mursi estabeleceu por decreto ficar acima de todo controle judicial, o que motivou as manifestações contra ele.
Após seis meses de massivos protestos, a oposição conseguiu derrubar Mursi com a ajuda dos militares. Soldados, apoiados por veículos blindados, asseguraram locais importantes da capital, Cairo, enquanto centenas de milhares de manifestantes de oposição e partidários de Mursi foram às ruas, e o choque entre eles provocou centenas de mortes.
O Exército rejeita a alegação de que depôs o presidente em um golpe e diz que estava respondendo à vontade do povo depois de protestos em massa contra seu governo09.01.13/KHALED DESOUKI/ AFP
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Atualmente, o ex-presidente Mursi e os outros 14 acusados podem enfrentar a pena de morte ou a prisão perpétua por instigarem a violência contra os manifestantes, em 2012.
Nos últimos quatro meses, a Irmandade Muçulmana — partido de Mursi e mais antiga organização islamita — tornou-se alvo de uma repressão feroz das forças de segurança, com milhares de integrantes presos e centenas de seguidores, assassinados. O grupo foi colocado na ilegalidade por uma ordem judicial e um comitê formado pelo governo está analisando seus ativos financeiros com o objetivo de confiscá-los.
O novo governo, apoiado pelos militares, está forçando um plano de transição, apontando para novas eleições parlamentares e presidenciais em 2014Ahmed Jadallah/Reuters
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6. Negociações de paz entre Israel e Palestina
Julho
Depois de três anos sem diálogo, Israel e Palestina voltaram a acenar com uma saída pacífica para o histórico antagonismo dos dois países em uma reunião informal no dia 30 de julho, em Washington. A reaproximação foi costurada pelo secretário de Estado americano John Kerry, que já tinha feito seis viagens oficiais ao Oriente Médio nos últimos meses.
O encontro entre representantes de Israel e da Autoridade Nacional Palestina e o chefe da diplomacia americana resultou em uma meta de nove meses — até abril de 2014 — para se alcançar o tão desejado acordo de paz. Kerry quer que os dois lados cheguem a um consenso quanto a assuntos como segurança, o futuro de Jerusalém e o destino de refugiados. Os palestinos, no entanto, temem que um acordo preliminar adie os planos de estabelecer um estado independenteMontagem R7/REUTERS/Gali Tibbon/Pool/AFP PHOTO/POOL/FADI AROURI
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7. Reaproximação de Irã e EUA
Setembro
Em 2013, os presidentes Barack Obama e Hassan Rouhani protagonizaram uma reaproximação histórica entre EUA e Irã, cujas relações diplomáticas estavam cortadas desde 1979. Os líderes trocaram cartas e Rouhani considerou esse contato o início de uma mudança de "atmosfera" na relação bilateral e com os outros países ocidentais.
Um encontro entre os dois presidentes foi esperado na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, mas não ocorreu. Entretanto, durante seu discurso, Obama estendeu uma mão ao Irã para conseguir um acordo sobre o programa nuclear iraniano e assinalou que os EUA não procuram mudar o regime iraniano e respeita "o direito do povo de ter acesso à energia nuclear”Montagem R7/12.09.2013/AFP PHOT/Jewel Samad/REUTERS/Fars News/Majid Hagdost
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8. Acordo EUA-Rússia contra ataque na Síria
Setembro
Palco de uma guerra que dura quase três anos e que já matou mais de 100 mil civis, a Síria esteve no alvo de um ataque militar dos EUA, como punição ao ataque químico de 21 de agosto, que matou mais de mil civis nos subúrbios de Damasco. A ofensiva, porém, que poderia detonar uma guerra envolvendo mais países, foi descartada com uma solução diplomática apresentada pela Rússia, em parceria com os EUA, que sugeriu um plano para desmantelar as armas químicas do país27.09.13/AP Photo/Craig Ruttle
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Durante os quase três anos de guerra civil na Síria, Rússia e Estados Unidos estiveram sempre em lados opostos. Enquanto a Rússia apoia formalmente o governo de Bashar al Assad, com envio de armas e outros aparatos militares, os EUA enviam armas leves para os rebeldes.
O país de Assad listou os locais de produção e armazenagem do arsenal químico para que a Opaq possa destruí-lo — o que deve ocorrer em 2014.
O próximo passo rumo à paz na Síria é uma convenção em Genebra, em janeiro, para negociar o fim da guerra e estabelecer um regime de transiçãoDaya al-Deen/Shaam News Network/AFP
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9. Reforma da saúde nos EUA
Outubro
No dia 1º de outubro, entrou em vigor a polêmica reforma da saúde aprovada em 2010 pelo presidente Barack Obama. Conhecida como Obamacare, a política pública requer que, a partir de 2014, todos os americanos estejam cobertos por algum tipo de plano: seja pelo empregador (forma mais comum); pelos programas de seguridade que atendem aos mais pobres, às crianças ou aos mais velhos; ou por um seguro particular. Quem não tiver seguro irá pagar uma multa. Para facilitar as compras, o governo dará subsídios para que os cidadãos adquiram seguro privado e já estendeu para 26 anos a idade até a qual os filhos podem permanecer no seguro dos pais.
O plano, porém, não foi unânime, já que muitos Estados se recusaram a ampliar a cobertura para pessoas carentes. O impasse impediu a votação do Orçamento federal no dia 30 de setembro, causando a paralisação de 16 dias da administração pública, com o bloqueio do pagamento de funcionários e do repasse de verbas federais.
Segundo o Censo, mais de 48 milhões de pessoas não tinham nem plano de saúde nem direito à cobertura paga pelo Estado em 2012 — o equivalente a 15,4% da população americana.
Não há hospitais públicos nos EUA. O governo opera dois planos de saúde públicos, que precisam ser aceitos por hospitais e médicos, como nos seguros privadosREUTERS/Jonathan Ernst/Files
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10. Acordo nuclear com o Irã
Novembro
Depois de uma década de impasse, finalmente o Irã e seis potências mundiais — Estados Unidos, França, Rússia, China, Grã-Bretanha e Alemanha — fecharam um acordo provisório sobre o programa nuclear do país. A negociação, encerrada no dia 24 de novembro, em Genebra, durou quatro dias e tinha como objetivo limitar os investimentos nucleares iranianos, em troca de alívio nas sanções impostas ao país. O acordo está previsto para ser colocado em prática em janeiro. A assinatura do consenso provisório já garantiu a liberação de cerca de R$ 18,3 bilhões (US$ 8 bilhões) em ativos de contas iranianas nos Estados Unidos que estavam congelados.
O acordo, com duração de seis meses, inclui acesso a possíveis transações de 1,5 bilhão de dólares em ouro e metais preciosos; a suspensão de algumas sanções ao setor automobilístico iraniano e às exportações petroquímicas; além de abrir formas de enviar e receber pagamentos para o comércio de itens humanitários, incluindo remédios e equipamentos médicos. As inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) permitirão que a comunidade internacional verifique se o Irã tem respeitado seus compromissos.
Segundo o presidente iraniano, Hassan Rouhani, o país "nunca procurou e não irá procurar jamais a fabricação de armas atômicas"
Em dezembro, porém, o Irã se irritou com a decisão dos EUA de aumentar a lista negra de companhias e indivíduos que apoiam o programa nuclear do país e suspendeu as negociações do programa nuclear. Porém, segundo a diplomacia da União Europeia, as conversas serão retomadas em breve, até porque "a complexidade das questões tratadas exigem novos encontros"ATTA KENARE/ AFP
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11. Ucrânia não adere à União Europeia
Novembro
Depois de engavetar um projeto que permitiria a entrada na União Europeia, a Ucrânia se tornou palco de intensos protestos da população, e a mobilização ficou ainda mais violenta depois de uma repressão aos manifestantes, no dia 30 de novembro.
A insatisfação foi tanta que, no dia 8, milhares de manifestantes ucranianos favoráveis à União Europeia se reuniram na Praça da Independência em Kiev, para pressionar o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, a abandonar o proximidade com a Rússia. Durante o protesto, os manifestantes derrubaram a estátua de Vladimir Lenin, o líder da Revolução Russa de 1917.
Segundo analistas, há uma clara divisão na população entre partidários da aproximação com a Rússia e entusiastas da aliança com o Ocidente. Apesar de a Europa e, sobretudo, os EUA, apoiarem a oposição ucraniana, o presidente russo Vladimir Putin seduz a Ucrânia com as vantagens de uma união aduaneira promovida por Moscou17.12.13 /GENYA SAVILOV/AFP
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12. Intolerância na Índia e na Austrália
Dezembro
A decisão uruguaia de legalizar o casamento gay dá uma lição de tolerância na mesma semana em que a Índia e a Austrália dão passos no sentido contrário. O Tribunal Superior da Austrália anulou a lei que permitia o casamento entre pessoas do mesmo sexo no território da capital, que inclui a cidade de Canberra, por considerá-la inconstitucional.
Enquanto isso, na Índia, o Supremo Tribunal confirmou a vigência da lei, aprovada no período colonial, que considera a homossexualidade um crime. A corte anulou a decisão de um tribunal de Nova Déli de 2009 que havia acabado com a tipificação de crime para as relações consentidas entre adultos do mesmo sexo, por considerar que a decisão depende do Parlamento, e não da Justiça11.12.13/DIBYANGSHU SARKAR /AFP
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13. Legalização da produção e venda da maconha
Dezembro
Pouco depois de legalizar o casamento gay, o Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a legalizar a produção e a venda de maconha, com o objetivo de enfrentar o narcotráfico e a violência ligada às drogas.
A autorização tem algumas regras: é permitido o cultivo para uso pessoal com o limite de seis plantas ou a produção máxima de 480 gramas por indivíduo; as farmácias serão licenciadas para comercializar a maconha, mas apenas usuários cadastrados poderão comprá-la (máximo de 40 gramas por mês). Por fim, os consumidores inscritos e habilitados para o consumo recreativo deverão ser maiores de 18 anos e provar que residem no Uruguai10.12.13/PABLO BIELLI/AFP