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Ric MaisDuas adolescentes de 13 anos foram estupradas por três homens em São Sebastião da Amoreira, no norte pioneiro do Paraná, em meados de dezembro de 2018. Cerca de um mês depois do crime, os suspeitos permanecem soltos e as vítimas tentam se reerguer. A equipe da RICTV Londrina | Record PR falou com exclusividade com uma das meninas e com a família das jovens.
Entenda os estupros em São Sebastião da AmoreiraDe acordo com as vítimas, no dia em que tudo aconteceu, elas tomavam sorvete no centro da cidade quando foram abordadas por dois rapazes, um de 22 anos e primo de um delas e outro de 14 anos.
Enquanto elas permaneceram na sorveteria, os dois também continuaram no local e, a todo momento, tentavam abraçá-las e beijá-las, mesmo sendo rechaçados. Cansadas dos assédios, na tentativa de despistar os dois, elas terminaram o sorvete e foram para a praça central, que fica nas proximidades.
Elas foram embebedadas na praça central de São Sebastião da Amoreira. (Foto: Reprodução/RICTV)Porém, ainda segundo as meninas, eles não desistiram e foram atrás delas. Já na praça, os jovens teriam forçado as duas a ingerir uma grande quantidade de bebida alcoólica. Na sequência, elas foram levadas para a casa do terceiro envolvido: um homem de 30 anos.
Dentro da residência, uma das jovens foi estuprada pelo primo. “A minha família acabou, a minha vida acabou porque um dos meus tios chegou a ser ameaçado pelo próprio [filho] que me estuprou”, disse a menina.
Já a outra adolescente sofreu um estupro coletivo - pelos três envolvidos - e, além de ser abusada sexualmente, também foi agredida.
Depois de tudo, eles foram separadas pelos suspeitos: uma delas foi abandonada em frente a um supermercado da cidade, foi jogada do veículo, caiu, bateu a cabeça e ficou desacordada. Só recuperou a consciência no hospital. “Ela chorava muito muito e falava que não tinha culpa de nada. Tanto é que agora ela só dorme”, relatou a mãe da menina que sofreu o estupro coletivo. Ainda conforme a mãe, ela estava com muitas marcas pelo corpo: “Toda roxa, pescoço, marcas pelo corpo, até quebraram um dente dela também”.
A outra garota foi levada pelo primo, responsável pelo abuso, para a casa da tia, onde tentaram convencê- la mentir a favor do rapaz.“Na delegacia, a minha tia, ela pegava e começava a falar assim “Fala que meu filho não fez nada. Fala que ele não usa drogas. Que ele nunca fez nada com você’. Depois de algumas horas, que o delegado falou para a gente sair, ela falou assim ‘Fala que você já tinha um relacionamento com ele’. Sendo que eu nunca tive isso com ele”, contou.
Famílias despedaçadasUma das vítimas conseguiu conceder entrevista, em contrapartida, a outra não teve condições de dar sua versão. De acordo com a mãe, ela está muito abalada, só dorme e chora. “É uma dor muito grande, sem explicação, porque a gente cuida, cuida, mas só que a gente não pode ‘tá’ no pé 24h por dia, né. Eu não tenho palavras. É muito doido como mãe. Esse ano não teve Natal, não teve Ano Novo, não teve nada. Tivemos com nossas famílias, só que estava faltando alguma coisa dentro, sabe. É muita dor” “O mais difícil, o que dói mais, o mais revoltante é que eles estão soltos. E isso não poderia”, disse a mulher à Record PR.
As duas famílias alegam ter medo porque a cidade é pequena e os suspeitos permanecem soltos. “Eles confessam para a polícia o que eles ‘fez’, só que não ficaram preso. E eu tenho medo, porque eu tenho mais um menino, tenho ela também, não é toda hora que eu posso estar junto com ela. Eu tenho medo que eles possam fazer alguma coisa. Como fez com a minha, podem fazer com outro”.
“Tem hora que passa tanta coisa na cabeça da gente. Ver uma filha que só dorme, depois disso, chora, fala que acabou com a família. Então, não tem como explicar a dor de ver uma filha assim. Mas eu espero a justiça, de Deus também”, finalizou a mãe.
InvestigaçõesOs três suspeitos foram identificados no dia do crime e chegaram a ser presos, mas acabaram escapando do flagrante. Atualmente, eles respondem às acusações em liberdade.
A Polícia Civil de Açaí, que cuida da caso, já coletou o depoimento das vítimas e dos acusados e agora espera o resultado de exames feitos pelas adolescentes, no Instituto Médico Legal de Londrina, para concluir o inquérito.
“Aguardamos os resultados de diversas perícias que foram solicitadas como o exame de conjunção carnal, exame de ruptura de hímen, perícia nos pertences das vítimas para eventual confronto de material biológico para confirmação das pessoas que estavam envolvidas no ato”, explicou o delegado Felipe Akio.
O delegado Felipe Akio falou sobre o caso dos estupros em São Sebastião da Amoreira. (Foto: Reprodução/RICTV)O delegado fez questão de destacar que os suspeitos só não ficaram presos no dia crime porque as informações colhidas estavam muito desencontradas e que a polícia precisa de mais elementos para poder confirmar o flagrante.“O delegado plantonista, dentre os motivos que ele fundamentou na decisão, que não fez a prisão em flagrante foi que diversos envolvidos estavam embriagados. E isso prejudicou um pouco a análise e o discernimento do que estava de fato acontecendo. Mas isso não significa que não há uma investigação, uma instauração de um inquérito policial e que não haverá, se for o caso, eventual indiciamento e prisão preventiva. Só estamos aguardando a conclusão, para ser encaminhado o inquérito policial para o poder judiciário analisar o eventual pedido desta autoridade policial”.