IML: disparos se concentraram na região do tronco dos rapazes
Reprodução/Rede RecordOs corpos dos cinco jovens negros fuzilados na noite de 28 de novembro em Costa Barros, zona norte do Rio, foram atingidos, ao todo, por 30 tiros, segundo informou nesta terça-feira (8) a diretora do IML (Instituto Médico Legal), Adriani Rego. Roberto de Souza Penha, de 16 anos, foi o mais atingido, com dez disparos.
— O laudo do IML conclui que os rapazes foram atingidos por múltiplos disparos de armas de fogo.
Dois dos rapazes — Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16 anos, e Cleiton Correa de Souza, de 18 anos — foram atingidos por sete tiros cada um. Wilton Esteves Domingos Junior, de 20 anos, e Wesley Castro Rodrigues, de 25, foram mortos por três tiros cada um. Adriani não contabilizou os chamados tiros de raspão.
De acordo com ela, a maioria dos disparos atingiu a parte de trás dos corpos, com predomínio do lado direito, na região do tronco. Os disparos não foram feitos a curta distância e não tinham característica de execução, acrescentou.
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Sem pólvora nas mãos
A Polícia Civil concluiu que os cinco rapazes não dispararam contra os quatro PMs suspeitos de fuzilá-los. Os policiais estão presos preventivamente no BEP (Batalhão Esepcial Prisional) em Niterói. A conclusão se deu a partir dos resultados de exames periciais no carro e nos corpos.
Exame residuográfico nas cinco vítimas descartou a presença de pólvora em suas mãos, o que indica que nenhum deles disparou contra os PMs, diferentemente do que os suspeitos relataram à polícia em depoimentos.
Segundo o diretor do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), Sérgio William, nenhum disparo partiu do Palio branco em que estavam os jovens.
— Não foram encontrados vestígios, nada que indique que houve disparo de dentro para fora do veículo.
Segundo ele, as perfurações no carro provocadas por balas se concentram na parte traseira e do lado direito — em linha com resultado do laudo do IML.
William e o delegado da 39ª DP (Pavuna) também afirmaram que não foram encontrados indícios de que os PMs entraram em confronto com supostos traficantes, também segundo versão dos policiais. Eles disseram à polícia terem sido atacados por um dos rapazes mortos e por criminosos da região após a ocorrência de saque a um caminhão da Ambev.
O delegado citou depoimento de testemunha que relatou que os rapazes não saíram do carro, o que corrobora a conclusão da polícia de que não houve confronto. Segundo Rui Barbosa, os PMs "plantaram" uma arma no veículo dos rapazes. Ele ainda citou que o motorista do caminhão contou que o carro envolvido no roubo era um Fiat azul, modelo e cor diferentes do veículo em que estavam os rapazes.
— Essas contradições nos fazem acreditar que a coisa não foi do jeito que os policiais relataram.
Rui Barbosa vai solicitar agora, a partir do encaminhamento de ao menos dez projéteis retirados dos corpos dos rapazes ao ICCE, que seja realizado exame de confronto balístico com as armas apreendidas dos PMs.