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Vinte anos depois, o Brasil ainda se lembra, com perplexidade, da noite do dia 23 de julho de 1993, quando oito meninos de rua, com idade de 11 a 19 anos, foram executados nos arredores da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. A tragédia ficou conhecida como “chacina da Candelária”
Jonas Cunha/Estadão Conteúdo
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Mais de 50 crianças e jovens dormiam na escadaria da igreja e foram surpreendidos pelos disparos de policiais militares. Quatro morreram na hora; um foi assassinado quando tentava fugir; outro não resistiu aos ferimentos e dois foram executados no Aterro do Flamengo
Jonas Cunha/Estadão Conteúdo
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Muitos foram atingidos pelas costas, sem possibilidade de se defender. Os nomes dos oito mortos estão escritos em uma cruz de madeira que foi colocada no jardim de frente da igreja. Hoje com 34 anos, Rodrigo Fernandes tinha apenas 14 quando estava
deitado em cima de uma banca de jornal e começou a ouvir tiros.
Rodrigo correu e sentiu um disparo que atingiu o braço, mas continuou correndo. Ele disse ao R7 que sua "cicatriz será eterna"
Wikimedia Commons
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Wagner dos Santos, um dos sobreviventes e principal testemunha do crime, vive atualmente na Suíça, onde se refugiou depois de sofrer uma segunda tentativa de assassinato, em 1994. Ele levou oito tiros e sofre de envenenamento por chumbo, além de sequelas psicológicas
Jonas Cunha/Estadão Conteúdo
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Um dos sobreviventes mais tarde se envolveu em outro trágico episódio. Sandro Barbosa do Nascimento ficou conhecido por sequestrar, em 12 de junho de 2000, o ônibus 174, no Rio de Janeiro
Delfim Vieira/Estadão Conteúdo
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Na época com 21 anos, Sandro foi morto pela polícia após manter 11 reféns e matar um deles, a professora Geisa Firmo Gonçalves. Ela foi morta quando um soldado do Bope (Batalhão de Operações Especiais) tentou balear o sequestrador, que reagiu
Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo
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Outros sobreviventes tiveram fim trágico. Fábio Gomes de Azevedo foi morto pela polícia em 1996, numa operação contra o tráfico de drogas. E Elizabeth Cristina de Oliveira Maia foi assassinada em 2000, pouco antes de depor em um processo contra policiais. Os responsáveis pela morte dela ainda não foram identificados
Jonas Cunha/Estadão Conteúdo
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O assessor político Rodrigo Fernandes levou um tiro no braço e sobreviveu ao massacre da Candelária. Ele foi morar na rua aos seis anos, porque era maltratado pela mãe
Reprodução/Rede Record
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Os três PMs condenados pela chacina da Candelária cumpriram penas de prisão, mas já estão em liberdade. Outros seis suspeitos foram absolvidos
Jonas Cunha/Estadão Conteúdo
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Segundo o assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional Maurício Santoro, a forma de violência praticada por policiais mudou e a polícia promoveu esforços para mudar a atuação da corporação, como a criação das unidades de Polícia Pacificadora
Lucas Rezende/Futura Press/Estadão Conteúdo
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Porém, na opinião dele, ainda existem operações policiais questionáveis. Até maio deste ano, a cidade do Rio de Janeiro foi palco de 101 homicídios provocados por intervenção policial, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Estado
Reprodução/Rede Record
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Depois da Candelária, houve chacinas em Vigário Geral (1993, com 21 mortos - foto), morro do Borel (2003, com quatro mortos), Via Show (2003, com quatro mortos) e Baixada Fluminense (2005, com 29 mortos). De acordo com a Anistia Internacional, todos os crimes foram cometidos por policiais e as vítimas eram adolescentes negros e pobres
Jonas Cunha/Estadão Conteúdo