Mirna Moreira usando seu jaleco e seu estetoscópio
Arquivo PessoalMulher, negra, moradora de comunidade no Rio de Janeiro e estudante de medicina. Assim seria possível definir, ainda que resumidamente, Mirna Moreira. Recentemente, a jovem contou sua história na internet dizendo, além de outras coisas, que uma vez falaram para ela que ela não tinha “cara de médica”.
No texto que viralizou, Mirna diz que faz questão de afirmar que é do Complexo do Lins e que esse lugar faz parte de sua identidade. Além disso, ela pontua a importância da ajuda dos pais durante o processo de realização de seu sonho, que, segundo ela, foi feito com muito planejamento porque ela não tinha tempo nem dinheiro para ficar “batendo cabeça”.
Em entrevista ao R7, Mirna conta que os pais sempre disseram para ela que queriam que ela fosse além nos estudos. Filha de pai bombeiro e mãe telefonista, ela diz que o apoio deles foi importante para “dar uma motivação”, mas que também gerava uma pressão para que ela conseguisse entrar na faculdade de medicina.
— Mas eu também pensava: “Eu preciso fazer isso. Se não, eu vou ser uma pessoa frustrada”.
A jovem diz que não sabe exatamente quando surgiu a vontade de cursar medicina. Hoje no segundo ano da faculdade, ela diz que até tentou pesquisar outras profissões na área da saúde, como enfermagem ou técnica em enfermagem. Mas ela diz que sempre desistia, porque seu sonho mesmo era ser médica. “Fui e encarei. Queria que isso se tornasse realidade”, diz ela, que também tinha pensado em seguir a carreira de professora.
A escolha da universidade também não foi aleatória. Era, primeiramente, importante achar uma instituição que fosse pública, porque ela não tinha dinheiro para uma escola particular. Foi então que Mirna pensou na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
— Escolhi por ela ser pioneira na política de cotas. Eu sempre soube que ela atuava muito nessa questão social. Mas eu olhava a relação candidato-vaga e eu entrava em desespero.
História da jovem Mirna Moreira viralizou na internet
Reprodução/Boca de FavelaMesmo tendo que estudar muito para o vestibular e deixando a “vida social” de lado, ela conseguiu realizar o sonho que tinha, a meta que construiu durante toda sua vida. “Eu não conseguia fazer nada”, diz a estudante.
No texto, Mirna diz que a questão da representatividade é muito importante para incentivar crianças negras a sonharem e buscarem o que elas querem, mesmo que seja difícil. Em uma ação sobre sexualidade em uma escola pública, ela diz que meninas negras pediram para tirar fotos com ela, que elogiaram seu cabelo crespo e a viram como uma referência.
Em uma parte do mesmo relato, ela também diz: “O meu maior acerto foi ter assumido minha estética enquanto mulher negra antes de entrar nesse espaço da universidade, eu entendi que é muito importante estar ali porque existe a questão da representatividade, que se estende para fora da academia também. Quando eu visto meu jaleco branco e subo o Morro dos Macacos representando a instituição UERJ [...] eu só tenho mais certeza disso”.
Ao R7, Mirna disse que “a medicina ainda é branca” e que ela entende que jovens de qualquer cor, quando entram em contato com a representatividade, podem ter sonhos despertados.
— Quanto mais você tem em comum com elas, mais elas enxergam a possibilidade de ser aquilo também. Ir para além do imaginário é muito importante. Eu não tive isso. As minhas motivações vieram dos meus pais. Despertar isso no Morro dos Macacos foi muito importante.
Agora, ela diz que tem mais uma vontade: seguir na carreira militar, como médica dos bombeiros, em homenagem ao pai.